Book traversal links for 1992-1993: A crise que veio de fora
Desde a adesão à Comunidade Económica Europeia, em 1986, Portugal tinha vivido um período de forte e prolongado crescimento económico.
Com a adesão ao mercado único, a economia abriu-se ao exterior, alguns setores começaram a modernizar-se, arrancou o programa de reprivatizações, chegaram fundos europeus em maior quantidade e o país investiu em infra-estruturas.
Entre 1987 e 1991, Aníbal Cavaco Silva liderou o primeiro Governo que cumpriu o mandato completo de quatro anos, criando condições para a estabilidade da política económica e orçamental e contribuindo para um ambiente de crescimento económico.
A tendência viria a ser interrompida pela recessão de 1992-1993. As nuvens negras sobre a economia começaram por chegar de fora: em 1990, eclodiu a primeira Guerra do Golfo, com a invasão do Koweit pelo Iraque, levando a uma intervenção armada liderada pelos EUA.
O conflito levou a uma subida dos preços do petróleo, e os Estados Unidos entraram em recessão nos dois primeiros anos da década.
A taxa de juro na Alemanha dispara
Taxa de desconto do Bundesbank (%)
O custo da reunificação alemã
Enquanto isso, na Europa, os regimes do Bloco de Leste colapsavam. O Muro de Berlim caiu em novembro de 1989, o que abriu caminho à reunificação das duas Alemanhas, com a incorporação da antiga República Democrática da Alemanha na República Federal da Alemanha.
O processo político foi conduzido de forma rápida, mas veio a ter custos económicos. A grande expansão da despesa pública na Alemanha, associada à construção de infraestruturas no Leste do país, colocou pressão sobre a inflação.
Para a controlar, o banco central alemão procedeu à subida das taxas de juro. Dado que o marco alemão se encontrava ligado às taxas de câmbio das restantes moedas europeias, verificou-se também uma subida nas taxas de juro nos restantes países, o que contribuiu para uma recessão nas principais economias da Europa. Com os principais parceiros comerciais em recessão – sobretudo Espanha e Alemanha, para onde seguia a maior fatia das exportações portuguesas –, estavam criadas as condições para Portugal entrar também em recessão.
Embora esta crise proviesse sobretudo de uma fonte externa, as políticas internas também deram o seu contributo. O forte crescimento na segunda metade da década de 1980, bem como a desvalorização do escudo durante a turbulência cambial que afetou alguns países que viriam a integrar a moeda única geraram tensões inflacionistas também em Portugal. Para as combater, foi praticada uma política monetária restritiva, com subida das taxas de juro, e levantados controlos nos movimentos de capitais com o exterior. O país preparava-se para a União Económica e Monetária, que ficara selada no Tratado de Maastricht, assinado em fevereiro de 1992.
Paralelamente, foi praticada uma política orçamental restritiva, com maior contenção do crescimento da despesa e do investimento do Estado, de modo a baixar o défice das contas públicas.
PIB per capita
O crescimento económico não resistiu aos efeitos da conjuntura externa e das medidas internas, dando lugar à recessão. Esta recessão começou no segundo trimestre de 1992, tendo-se registado a partir daí uma queda continuada até ao terceiro trimestre do ano seguinte, altura em que se atingiu o ponto mais baixo. Nesse período, a queda da economia foi de 1,1%.
Euros (€), encadeados em volume (chain-weighted), base 2011
Taxa de Desemprego
A taxa de desemprego começou a subir ainda antes de se ter atingido o ponto mais alto deste ciclo económico, no primeiro trimestre de 1992. Essa tendência manteve-se para além do período da recessão.
Índice Sentimento Económico
O indicador de sentimento económico inverteu a tendência antes ainda da entrada em recessão e caiu de forma acentuada entre o segundo trimestre de 1992 e o terceiro trimestre de 1993.
Número Índice (100 = maio 1992)
Os efeitos desta recessão sentiram-se na produção industrial, que reforçou e prolongou uma queda que já vinha de trás, desde o início da década. O desemprego, no início de 1992, em valores abaixo dos 4% da população ativa, cresceu acima dos 6% em 1994. No segundo trimestre de 1993, ocorreu uma queda do consumo das famílias, depois de já ter desacelerado em relação ao ritmo a que estava a evoluir antes do início da recessão.
As exportações também se ressentiram, numa fase do ciclo económico em que os principais mercados externos para os produtos e serviços portugueses estavam igualmente em recessão e, por isso, com volumes de consumo mais baixos.
Do mesmo modo, a recessão internacional levou a uma quebra do investimento, particularmente evidente em 1993.