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Imagem ilustrativa da lista «Sabe o que são as cidades 15 minutos?»

O que são as cidades dos 15 minutos?

Viver numa cidade onde o trabalho, o comércio e serviços ou os espaços verdes ficam a menos de 15 minutos de distância a pé de casa pode ser uma solução para um futuro mais verde e cidadãos mais felizes. A ideia por trás das cidades dos 15 minutos já é realidade em bairros de Paris ou Portland. O criador do conceito, Carlos Moreno, urbanista e professor na Universidade de Paris IAE Panthéon-Sorbonne, explica à FFMS como pode ajudar a resolver problemas ambientais e sociais.
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O que são e como funcionam as cidades dos 15 minutos?

«A cidade dos 15 minutos é um modelo de cidade baseado na proximidade e na qualidade de vida», explica à FFMS Carlos Moreno, que idealizou este modelo urbanístico.

A sua proposta é simples: uma cidade onde cada pessoa pode ter acesso a todos os serviços essenciais como hospitais, centros de saúde, espaços verdes e de lazer, escolas e equipamentos culturais a uma distância máxima de 15 minutos a pé ou em transportes de mobilidade suave, como a bicicleta. Esta é também a distância máxima desejável entre o trabalho e casa.

Como podem contribuir para resolver problemas sociais e ambientais?

«Apesar de ocuparem menos de 2% da superfície terrestre, [as cidades] são responsáveis por 78% do consumo mundial de energia e produzem mais de 60% das emissões de gases com efeito de estufa», refere Carlos Moreno, acrescentando que as metrópoles são construídas para uma mobilidade intensiva em carbono e para estilos de vida pouco propícios ao desenvolvimento sustentável.

Às preocupações ambientais, juntam-se também problemas sociais. Este modelo aproxima os habitantes, defende o urbanista, para quem a «a coesão social está a ser minada pelas estruturas urbanas», que não permitem que as pessoas se encontrem ou se sintam bem consigo próprias. «Esta situação contribui para a deterioração do bem-estar mental dos cidadãos e para o aumento da solidão», alerta.

Quais são os maiores entraves à aplicação deste conceito?

Um dos grandes desafios é a necessidade de adaptação de infraestruturas urbanas, o que inclui o reordenamento de estradas para promover maior mobilidade, a criação de extensas ciclovias e de vias pedonais, reconhece Carlos Moreno.

A aplicação do modelo de cidade dos 15 minutos requer igualmente uma adaptação a diferentes densidades populacionais e extensões geográficas. Por isso, não deve ser visto como uma estratégia única para todas as cidades, sublinha.

Este modelo de cidade traz mudanças no estilo de vida dos cidadãos?

Sim. É «um dos aspetos mais críticos» a considerar para que o modelo possa ser bem-sucedido, admite o urbanista. «Esta mudança envolve a alteração de hábitos e de perceções de longa data sobre a vida na cidade, o que não é uma tarefa fácil. As pessoas estão habituadas a certos estilos de vida. Alterar esses padrões para uma vida mais localizada e centrada na comunidade pode exigir muito tempo e esforço», explica.

Onde é que o conceito já foi aplicado?

Em Paris, onde a ideia de Carlos Moreno ganhou visibilidade, a presidente de Câmara Anne Hidalgo, tem aplicado o conceito como um modelo de desenvolvimento da capital francesa. Restringiu a circulação automóvel em várias ruas, que se tornaram pedonais, criou ciclovias e novos parques.

Desde então, várias cidades reconsideraram os seus planos urbanísticos, como Portland (EUA), Melbourne (Austrália), Otava (Canadá), Barcelona (Espanha) e os cantões chineses de Xangau and Guangzhou. Uns apostaram em modelos de cidades de 10 ou 20 minutos de distância, enquanto outros aplicaram o conceito apenas a alguns bairros.

Em Portugal, o presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, convocou um Conselho de Cidadãos para discutir o modelo da cidade dos 15 minutos, mas até ao momento não foram tomadas medidas concretas.

A criação dos bairros dos 15 minutos pode levar à segregação de comunidades sem acesso a estes novos espaços?

Um elemento essencial deste modelo é a diversidade social, concretizada, por exemplo, através de habitação social, que deve existir em todos os bairros e não apenas nos mais desfavorecidos, defende Carlos Moreno. «A mobilidade é [também] um elemento importante na execução deste projeto, o que implica uma visão global. Não vamos construir uma ciclovia apenas para um bairro! As cidades são redes e não podemos isolar as suas partes», adianta.

Como tem sido recebido este conceito de cidade?

Há defensores da ideia, mas também fortes críticos à sua aplicação. O impacto da pandemia e alteração na forma como percecionamos o trabalho e a necessidade de acesso a espaços e serviços público trouxe uma visibilidade mundial ao modelo de cidade proposto por Carlos Moreno.

«O conceito foi promovido por várias organizações internacionais, como o Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas das Nações Unidas, a Organização Mundial de Saúde ou o Pacto C40 cities», uma rede de autarcas que promove uma ação concertada contra as alterações climáticas, exemplificou o urbanista.

A proposta tem igualmente sido considerada por alguns negacionistas e adeptos de teorias da conspiração como um plano distópico para controlar os cidadãos e impedi-los de sair da zona da cidade onde vivem sob o pretexto das alterações climáticas. No Canadá, o comentador Jordan B. Peterson apelidou o conceito de «tirânico» e «autoritário», no YouTube.

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