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Imagem ilustrativa da entrevista a Arlindo Oliveira sobre Inteligência Artificial

Com a inteligência artificial haverá concentração de «poder económico em poucas empresas, países e pessoas»

Académico, investigador e autor de obras sobre a inteligência artificial, Arlindo Oliveira explica de que forma este conhecimento vai mudar o dia-a-dia das pessoas. Alerta para os riscos que podem surgir e recorda os marcos históricos mais importantes desta tecnologia.
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Antes de mais, como deve ser hoje definida a inteligência artificial?

De uma forma geral, a inteligência artificial (IA) é uma área do conhecimento que procura replicar, em computadores, o comportamento inteligente que caracteriza os seres humanos e, também, em parte, os animais. Isso inclui compreensão e geração de linguagem, visão, planeamento, raciocínio e muitas outras características da inteligência.

Há vários tipos de inteligência artificial? O que os diferencia?  

Existem duas abordagens principais, a simbólica e a estatística. Durante décadas pensou-se que a inteligência era, principalmente, a capacidade para manipular símbolos. Essa abordagem, também conhecida como GOFAI (Good Old-fashioned Artificial Intelligence) porém, não deu grandes resultados, em geral. A abordagem estatística, que se desenvolveu nas últimas décadas e, de forma mais acentuada, na última década, deu muito melhores resultados e veio a tornar-se a tecnologia mais eficaz, baseada na ideia da aprendizagem estatística, que permite derivar modelos a partir de grandes volumes de dados.

Pode dar exemplos concretos de como a inteligência artificial está a ser aplicada atualmente?

É usada em milhares de aplicações, que incluem: a interação com clientes, a determinação de propensão para determinados produtos, a publicidade dirigida, a previsão da eficácia de tratamentos, a vigilância de instalações, a identificação biométrica, a condução autónoma, a avaliação de riscos, a previsão do tempo, e a determinação da estrutura física de proteínas, entre milhares de outras.

A inteligência artificial vai ter impacto em diversos setores, como o do mercado trabalho. O que irá mudar?

Sim, vai numa primeira fase tornar mais produtivos os empregados e, numa segunda fase, substituir, total ou parcialmente, os seres humanos em determinadas funções. Na prática, vai causar uma mudança estrutural no mercado de trabalho, com novos empregos a serem criados e outros a desaparecerem ou a reduzirem-se.

Num futuro não muito distante, poderão ser sistemas de inteligência artificial desempenhar tarefas da área tecnológica que agora exigem seres humanos.

Que profissões podem desaparecer e que outras podem surgir?

É uma pergunta sempre difícil. Os empregos mais repetitivos, como serviço ao cliente em call centers, introdução de dados, análise de textos legais e reclamações, serão os mais fáceis de automatizar. Poderão surgir novos empregos em que a pessoa usa inteligência artificial para determinados fins, como engenheiro de prompts, treinador de sistemas de IA. Mas, na realidade, é difícil prever que novos empregos serão criados, mais ainda do que aqueles que desaparecerão.
 

De que forma a Justiça, a Saúde e a Educação podem beneficiar da IA?

Tanto na justiça como na saúde será possível prestar um serviço muito mais eficiente, com diversas tarefas que agora são demoradas a serem desempenhadas mais eficazmente com o apoio de sistemas de IA. Na educação, penso que a maior vantagem é que cada aluno terá acesso a um tutor personalizado que pode usar para o ajudar nos estudos e, também, na elaboração de trabalhos escolares, uma possibilidade que também tem óbvios riscos.
 

No caso do setor industrial, há ideia de qual será o impacto?

Aqui, serão as áreas da robótica e da logística que terão e sofrerão o maior impacto, com a automatização de funções agora desempenhadas por seres humanos.
 

E para o setor da tecnologia, o que prevê?

A função de programador vai ser muito potenciada pela IA e, num futuro não muito distante, poderão ser sistemas de IA a desempenhar diversas tarefas da área tecnológica que agora exigem seres humanos.
 

Como é que a AI vai mudar a vida quotidiana das pessoas?

Já mudou. Os alunos usam o ChatGPT, os programadores usam ao CoPilot, todos usamos as redes sociais, todos beneficiamos (ou sofremos) com a publicidade dirigida. Na verdade, a sociedade atual seria irreconhecível sem sistemas de IA.
 

A inteligência artificial pode ser usada para potenciar a desinformação, pode ser uma ameaça à privacidade e pode colocar sérios problemas de segurança às nações e às pessoas

Todas estas mudança irão ocorrer num futuro próximo?

Sim, vão ser relativamente rápidas, em uma ou duas décadas.
 

Que consequências sociais a IA pode trazer?

A principal consequência, e a mais preocupante, será a concentração de poder económico em poucas empresas, países e pessoas. Devemos, portanto, equacionar da forma mais direta possível o problema da redistribuição.
 

Quais os principais problemas éticos que podem surgir?

A IA pode ser usada para potenciar a desinformação, pode ser uma ameaça à privacidade e pode colocar sérios problemas de segurança às nações e às pessoas. Pode ainda perpetuar enviesamentos presentes em bases de dados usadas para treinas sistemas de IA.
 

Quais foram os marcos mais importantes no desenvolvimento da IA?

Há muitos marcos, nos últimos 75 anos. O perceptrão, proposto em 1943 por McCulloch e Pitts e testado por Rosenblatt em 1957; o artigo do Alan Turing em 1950; o workshop que teve lugar em Dartmouth em 1956; o programa de jogar às damas de Samuel, em 1956; muitos sistemas baseados em sistemas simbólicos, incluindo o projecto Shakey e o algoritmo A*; a descoberta e publicitação das redes neuronais nas décadas de 70; o Deep Blue que bateu o campeão do mundo de xadrez; as redes neuronais convolucionais; o AlphaGo que se tornou autonomamente o melhor jogador de Go do mundo; a arquitetura dos transformadores proposta em 2017, e os grandes modelos de linguagem que culminaram com o lançamento do ChatGPT em 2022. Mas é difícil identificar um conjunto pequeno e definido, porque todas estas inovações estão relacionadas entre si.
 

Há quem diga que a IA pode «acabar» com a raça humana. Acredita nisso?

É um risco cuja possibilidade não pode ser liminarmente excluída, mas existem muitos riscos semelhantes, como o do holocausto nuclear, os vírus artificiais e a guerra química em grande escala, que são comparáveis. Tenho esperança que esta tecnologia, como tantas outras que desenvolvemos, contribuirá para o desenvolvimento da humanidade

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