Portugal Desigual | Um retrato das desigualdades de rendimentos e da pobreza no país
A evolução dos principais indicadores de desigualdade, pobreza e exclusão social recentemente divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística, a partir do Inquérito às Condições de Vida e Rendimento realizado em 2022 (ICOR) evidencia alguns sinais contraditórios que devem ser lidos com um cuidado adicional.
Uma parte desses sinais contraditórios resulta dos diferentes períodos de observação das suas principais variáveis. Enquanto os indicadores de nível de rendimento, de desigualdade e de pobreza refletem a realidade de 2021 os indicadores de privação material e social e de exclusão social traduzem a realidade existente na data do inquérito, isto é março a junho de 2022.
O facto mais saliente que emerge dos resultados do inquérito é a redução expressiva dos principais indicadores de pobreza e de desigualdade em 2021. O ciclo descendente dos principais indicadores, que tinha sido severamente interrompido em 2020, parece retomar o seu caminho descendente.
A taxa de pobreza desceu dois pontos percentuais, passando de 18,4% em 2020 para 16,4% em 2021. Nesse último ano menos 197 mil pessoas viviam em situação de pobreza comparativamente ao ocorrido no ano anterior, no auge da crise pandémica. Talvez o facto mais saliente seja, porém, a redução ocorrida na taxa de pobreza das crianças e dos jovens que em 2021 se fixou em 18,5%, o valor mais baixo registado neste grupo etário desde 2003.
Evolução semelhante, ainda que com menor intensidade, ocorreu com os indicadores de desigualdade tendo o coeficiente de Gini registado um desagravamento de um ponto percentual, fixando-se no valor de 32%.
A perceção das famílias quanto aos indicadores de privação material e social, expressos já em 2022, revela alguns sinais preocupantes sobre o efeito da subida dos preços dos bens de primeira necessidade sobre as condições de vida das famílias.
Apesar do ICOR 2022 se ter realizado no primeiro semestre de 2022, antes da forte aceleração da inflação na segunda metade do ano, alguns dos itens considerados podem já refletir alguma contração dos rendimentos reais das famílias associados à subida dos preços.
O aumento da percentagem de famílias que declaram não terem capacidade financeira para manter a casa adequadamente aquecida ou o acréscimo do número de pessoas que viviam sem capacidade financeira para ter uma refeição de carne ou de peixe pelo menos de 2 em 2 dias são sinais de alerta sobre os efeitos profundamente negativos que a queda do rendimento real provocado pelo aumento dos preços dos bens de primeira necessidade pode gerar nas condições de vida das famílias, em particular daquelas em situação mais vulnerável.
Esta é a mais recente análise sobre a evolução das condições de vida da população portuguesa. Quantos são pobres? Quais são os grupos etários mais afetados? E que impactos têm as desigualdades nas diferentes regiões do país?
Um retrato, em constante atualização, sobre as principais alterações na distribuição do rendimento no país, com base nos números do Instituto Nacional de Estatística sobre os mais importantes indicadores de desigualdade, pobreza e exclusão social.
Ao longo deste projeto vai encontrar uma análise aprofundada sobre:
- a evolução dos rendimentos familiares e dos principais indicadores de desigualdade;
- os principais indicadores de pobreza monetária;
- os principais indicadores de privação material das famílias portuguesas;
- o impacto das políticas redistributivas na redução da pobreza,
- Comparações dos indicadores nacionais com os de outros países da União Europeia.
Com este diagnóstico, a Fundação Francisco Manuel dos Santos dá-lhe a conhecer dados indispensáveis a uma discussão pública fundamentada sobre questões tão importantes como estas, que permitem fazer um retrato da desigualdade e da pobreza no país.