
Vargas Llosa: «Sem participação política a democracia falha»
«A democracia goza de boa saúde». Não é uma frase que estejamos habituados a ouvir nos dias de hoje, mas o Nobel da Literatura Mario Vargas Llosa disse-a no palco do Teatro São Luiz, em 2016, no encerramento de um Encontro da Fundação dedicado à democracia.
Porquê? Desde logo porque «os exemplos de países não democráticos são tão desgraçados que não servem de exemplo». Isso não significa, porém, que se ignorem as inúmeras dificuldades e desafios que afetam a democracia, e que o escritor dramaturgo e político fez questão de enumerar: a corrupção, a demagogia, a complacência. Todos eles são problemas que sentiu de perto quando se candidatou à presidência do seu país, o Peru.
E, por isso, correm riscos. «As democracias podem retroceder. Podem ceder à demagogia, que é um dos grandes perigos e inimigos internos da democracia», alertou.
O Nobel da Literatura defendeu a globalização como uma arma contra o nacionalismo e a ideia «estúpida» de que nascer numa terra confere um privilégio.
Lembrou aos jovens de hoje, que olham para a política com desprezo, que «sem participação a democracia falha», tal como falha quando desaparece a iniciativa privada e o Estado se torna o único produtor de riqueza. Isto significa, mesmo que muitos não concordem, «que a democracia e o capitalismo são inseparáveis».
Mario Vargas Llosa lembrou que o sistema democrático tem sido violentamente criticado ao longo da História, mas que tem vencido todos os sistemas que o têm tentado combater: o fascismo, o nazismo, o comunismo.
E deixou críticas sobretudo ao fundamentalismo islâmico, que representa uma «negação da realidade, de regresso à Idade Média, que nunca vai resultar», e ao comunismo, que de «utopia de uma sociedade perfeita passou a uma ideologia derrotada pela democracia», que já «não é modelo para nada».
No final da sua intervenção, Mario Vargas Llosa deixou uma nova mensagem de esperança, intimamente ligada à democracia: «O mundo anda muito mal, mas pela primeira vez na História depende de todos nós.»
Pode rever a sessão de encerramento do Nobel da Literatura aqui.