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O Nobel da Literatura Mário Vargas Llosa, durante o encontro da Fundação «Que Democracia?», em 2016.

Vargas Llosa: «Sem participação política a democracia falha»

O Nobel da Literatura, dramaturgo, jornalista e político Mário Vargas Llosa morreu no domingo, aos 89 anos, no Peru, onde nasceu. Foi para falar da democracia e dos seus desafios que esteve em Portugal em 2016, para o Encontro da Fundação «Que Democracia?».
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«A democracia goza de boa saúde». Não é uma frase que estejamos habituados a ouvir nos dias de hoje, mas o Nobel da Literatura Mario Vargas Llosa disse-a no palco do Teatro São Luiz, em 2016, no encerramento de um Encontro da Fundação dedicado à democracia.

Porquê? Desde logo porque «os exemplos de países não democráticos são tão desgraçados que não servem de exemplo». Isso não significa, porém, que se ignorem as inúmeras dificuldades e desafios que afetam a democracia, e que o escritor dramaturgo e político fez questão de enumerar: a corrupção, a demagogia, a complacência. Todos eles são problemas que sentiu de perto quando se candidatou à presidência do seu país, o Peru. 

E, por isso, correm riscos. «As democracias podem retroceder. Podem ceder à demagogia, que é um dos grandes perigos e inimigos internos da democracia», alertou.

O Nobel da Literatura defendeu a globalização como uma arma contra o nacionalismo e a ideia «estúpida» de que nascer numa terra confere um privilégio.

Lembrou aos jovens de hoje, que olham para a política com desprezo, que «sem participação a democracia falha», tal como falha quando desaparece a iniciativa privada e o Estado se torna o único produtor de riqueza. Isto significa, mesmo que muitos não concordem, «que a democracia e o capitalismo são inseparáveis».

O mundo anda muito mal, mas pela primeira vez na História depende de todos nós.
Prémio Nobel da Literatura em 2010

Mario Vargas Llosa lembrou que o sistema democrático tem sido violentamente criticado ao longo da História, mas que tem vencido todos os sistemas que o têm tentado combater: o fascismo, o nazismo, o comunismo.

E deixou críticas sobretudo ao fundamentalismo islâmico, que representa uma «negação da realidade, de regresso à Idade Média, que nunca vai resultar», e ao comunismo, que de «utopia de uma sociedade perfeita passou a uma ideologia derrotada pela democracia», que já «não é modelo para nada».

No final da sua intervenção, Mario Vargas Llosa deixou uma nova mensagem de esperança, intimamente ligada à democracia: «O mundo anda muito mal, mas pela primeira vez na História depende de todos nós.»

Pode rever a sessão de encerramento do Nobel da Literatura aqui.

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Portuguese, Portugal