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Sair modo imersivo
Ter ou não ter?
É muitas vezes uma batalha entre o querer e o poder, entre a realização pessoal e a responsabilidade. De um lado, as motivações individuais que nos levam a querer ter filhos. Do outro, os constrangimentos, essencialmente financeiros.
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Ter ou não ter?

É muitas vezes uma batalha entre o querer e o poder, entre a realização pessoal e a responsabilidade. De um lado, as motivações individuais que nos levam a querer ter filhos. Do outro, os constrangimentos, essencialmente financeiros.

 

População em idade fértil

 

 
Mas, afinal, o que é que motiva a decisão e a vontade de não ter filhos ou, para os que já têm, não ter mais filhos?

 

As barreiras económicas e laborais são as mais referidas como fator importante, mas logo depois aparecem as motivações pessoais.

Os custos financeiros associados às crianças são a causa mais importante, apontada por cerca de 67% das pessoas que não têm filhos, sem diferença relevante entre homens e mulheres. Logo depois aparece, como motivo importante para não ter filhos, a dificuldade em conseguir um emprego. Esta causa é mais relevante para os homens (59%) do que para as mulheres (48%). Como vemos noutro capítulo, a noção de que o trabalho fora de casa - e o rendimento da família que lhe está associado - cabe sobretudo ao homem é uma opinião partilhada por homens e mulheres.

Depois dos constrangimentos económicos, aparecem os motivos considerados mais hedonistas: não querer ter a responsabilidade de ter filhos e o facto de sobrar menos tempo para outras coisas importantes na vida. Há também referências importantes à dificuldade de conciliar a vida familiar com a vida profissional (mais referida no caso de pessoas que já têm filhos, e por isso já experienciaram essas dificuldades, e não pretendem ter mais) e aos problemas e complicações associados à educação das crianças.
No caso específico de quem já é pai ou mãe, o facto de considerarem ter já o número de filhos que pretendem, aparece como o segundo motivo referido para não se alargar a família, logo após os custos financeiros. É isso mesmo que respondem três quartos dos inquiridos.

 

A população está dividida entre quem tem os filhos que quer e não quer ter mais, e quem não tendo quer vir a ter e quem tem e quer ter mais
Coordenadora do estudo “Determinantes da Fecundidade”

Mas há também o reverso da medalha. Se estas são as causas invocadas para não ter de todo ou não ter mais filhos, então quais são as principais motivações para os ter?
Aqui três razões ganham particular relevo, e ainda mais evidentes entre quem não tem filhos: ver os filhos crescer e desenvolverem-se, realização pessoal e ver a família aumentar.

Fazer a vontade ao outro - leia-se, ao cônjuge ou companheiro(a) - é também uma motivação forte, mas muito mais em casos em que já há filhos.

Ter filhos também pode acontecer para se tentar fortalecer a relação do casal e são eles, os homens, quem mais valoriza essa motivação. A diminuição da possibilidade de solidão na velhice também é referida de forma expressiva (na casa dos 40%).

Com um nível aproximado, aparece a velha questão do género dos filhos, aqui no caso de quem já é pai ou mãe: ir à procura do filho ou da filha que (ainda) não se tem. Mas não se pense que a decisão é sempre tomada apenas dentro do casal. Para cerca de 20% das pessoas, a influência de amigos e familiares é apontada como um fator importante quando se parte para aumentar a família.

 

Eu sempre quis ter filhos. Quando era mais nova dizia que queria ter 10 filhos, depois comecei a crescer e quis ter 4, agora quero ter 3.
Mas acho que só vou ter 2.
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A importância da família de origem

As razões que influenciam a nossa de decisão de ter filhos são muitas e muito variadas. E o contexto familiar onde nascemos é mais um deles.

A dimensão da família de origem, o nível de escolaridade da mãe e os ideais de parentalidade pesam nas decisões e concretização dos nossos projetos de parentalidade.

Os resultados obtidos no Inquérito à Fecundidade de 2013 revelam que os que são originários de agregados familiares mais alargados, ou seja, que têm ou tiveram um maior número de irmãos, os mais propensos a terem o segundo filho mais rapidamente e a constituírem famílias mais numerosas - embora a noção de “família numerosa” tenha hoje uma expressão numérica mais baixa do que tinha há décadas: para quem tem menos de 30 anos, ter uma família alargada significa ter pelo menos dois irmãos, enquanto para as gerações mais velhas significa ter três ou mais irmãos.

Ainda relativamente à família de origem, as pessoas cujas mães têm ensino superior apresentam mais possibilidades de esperar ter mais um filho do que aqueles cujas mães têm um nível de escolaridade mais baixo.O número de irmãos de cada um pode aumentar ou diminuir as probabilidades de desejar ter uma família de maior dimensão. Por exemplo, as pessoas com dois ou mais irmãos são aquelas que mais cedo decidem passar do segundo para o terceiro filho.

Outro fator importante que condiciona o momento em que somos pais e mães e a dimensão das famílias que constituímos é a idade em que cada um de nós coabita pela primeira vez com um(a) companheiro(a), bem como a idade em que apareceu o primeiro emprego remunerado. Em ambos os casos, quanto mais cedo acontece maior é a probabilidade de terem mais filhos e mais precocemente.

 

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