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Quantos filhos tem ou espera vir a ter ao todo?
Independentemente das situações familiares, laborais e socioeconómicas, do género, da idade ou do nível de qualificações, quando se pergunta quantos filhos espera ter até ao final da idade reprodutiva, a maioria responde “dois”. Ter dois filhos é a fecundidade esperada para 51% dos portugueses.
São poucas as exceções a esta resposta dominante e a mais relevante vem dos que têm enteados - fruto, na maior parte dos casos, de famílias reconstituídas depois de divórcios ou de separações -, para quem o desejo mais referido aponta para um filho (41%, contra 31% que continuam a preferir ter dois filhos).
Quanto à ideia do filho único ela agrada a um quarto das pessoas e também está distribuída de modo uniforme entre homens e mulheres, com mais ou menos escolaridade, vivendo em regiões com mais ou menos população.
As opções mais extremas são, naturalmente, as que recolhem menos opções. Mas, ainda assim, são mais os que esperam ter três filhos (12%) ou acima disso (3%) do que aqueles que esperam não ter nenhum (8%). Entre estes, que perspetivam não ter descendentes, há uma predominância maior dos que não têm cônjuge ou companheiro(a) ou que nunca tiveram qualquer experiência de conjugalidade.
Uma nota relevante também para os que respondem esperar ter quatro ou mais filhos. Há, neste caso, um peso maior das pessoas com baixo nível de escolaridade: cerca de 10% dos residentes em Portugal que têm habilitações até ao 1º ciclo.
Estas são as expetativas sobre o número total de filhos que cada um espera vir a ter. Partindo daqui e do número de descendentes que cada um já tem coloca-se então a questão: espera vir a ter filhos, ou mais filhos?
Aqui foi-se à procura da fecundidade intencional, ou seja, das intenções futuras de ter (mais) filhos.
Mais de metade da população (55%) considera que já não vai ter mais bebés. Depois, as expetativas equivalem-se entre quem espera vir a ter um, ou mais um (no caso de ser já pai ou mãe), ou dois, com cerca de 20% a dizerem que estão em cada um desses dois grupos. É muito residual o número dos que esperam ter ainda três ou mais descendentes.
O que é que faz com que, já estreados na parentalidade e, portanto, com o essencial da realização pessoal que daí advém já satisfeito, cada vez menos pessoas repitam a experiência e passem ao segundo bebé?
Se os números nos dizem que “apenas" 8% dos adultos tencionam não ter qualquer filho e se a média de descendentes por mulher cai há décadas, então a lógica parece ser simples: o problema está mais no número de filhos que temos do que na questão binária inicial do ter ou não filhos.
Daí que um ponto essencial de estudo esteja nas motivações e obstáculos que possam existir na passagem do primeiro para o segundo filho.
A evolução não é de agora. Até meados do século passado o modelo dominante era o de famílias numerosas, com três ou mais filhos. A partir daí, um conjunto de evoluções sociais, económicas, políticas e culturais provocaram num novo padrão, o de famílias com dois filhos. A chegada do primeiro filho foi acontecendo cada vez mais tarde na vida de cada um. E isso leva ao adiamento da chegada de outros que, em cada vez mais casos, nem chegam a aparecer.
Tendo em conta que a idade média das mulheres ao nascimento do primeiro filho em Portugal, em 2022, foi 30,8 anos e que a idade média das mães era de 32,2 anos, esta diferença mínima, entre as idades do primeiro filho e a idade média de se ter um filho, indicia que existem poucas que prosseguem para o segundo. Torna-se, por isso, ainda mais relevante compreender quais as principais diferenças entre os adultos que se iniciaram na parentalidade e os que, em seguida, transitaram para o segundo filho.
O que ficamos a saber? Que são as mulheres que avançam para o segundo filho mais cedo (até aos 35 anos), enquanto no caso dos homens a idade média é de 37 anos; que são as gerações mais novas (nascidas após o 25 de abril de 1974) que mais tarde transitam para o segundo filho; que as pessoas com ensino superior adiam por mais tempo o nascimento do segundo filho; que aqueles cujos pai ou mãe têm um nível de instrução mais baixo, têm um segundo filho mais cedo; que aqueles que têm dois ou mais irmãos têm o seu segundo filho mais cedo que os que provêm de famílias mais pequenas e tiveram, no máximo, um irmão.
Também a excessiva dedicação do pai à atividade profissional poderá tornar-se um obstáculo à transição para se ter o segundo filho, ou seja, esta decisão parece estar também condicionada à possibilidade de uma maior presença do pai junto dos filhos pequenos e à partilha com a mãe das responsabilidades domésticas e familiares.
São também identificados os chamados fatores potenciadores, que são aqueles que podem propiciar que a passagem do primeiro para o primeiro filho aconteça mais cedo. À cabeça aparece a vontade de ter mais de dois filhos. Mas o facto de os progenitores terem tido dois ou mais irmãos e a concordância sobre a importância da presença materna na vida de uma criança até à idade escolar também são considerados indiciadores de uma maior propensão para que se deixe mais cedo a condição de ter um filho único.