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Quem são os alunos
De que gostam os alunos portugueses? Como se sentem na hora dos testes? Como são os resultados escolares?
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Quem são os alunos

Os alunos portugueses que participam no PISA gostam da escola, sentem-se felizes e integrados. Dão-se bem com os professores e acreditam que estes lhes garantem quase todo o apoio possível. Mas nem por isso deixam de ficar muito ansiosos na hora dos testes e de receber as notas.

E chumbam bastante. Pelo menos o dobro daquilo que é a média dos países da OCDE. Ainda que o valor esteja em queda, pior mesmo só na Bélgica e em Espanha. O dramático é que são os mais vulneráveis economicamente que também mais falham na escola, que não está a conseguir ajudá-los a superar as dificuldades que enfrentam fora dela.

Mas falam com os pais e garantem que estes se preocupam com a sua vida escolar. Os directores, esses, queixam-se da indisciplina e da falta de respeito dos jovens pelos professores na sala de aula.

A Internet faz parte da vida destes alunos – mais de 95% (PISA 2018) dizem ter acesso à rede de uma forma ou de outra, quando em 2009 eram 85%". É toda uma nova geração, com novos hábitos, outras expectativas e que irá seguramente mais longe na escola do que muitos dos seus pais. É que o atraso histórico do país ainda pesa. Quase metade das mães dos alunos de 15 anos tem no máximo o 9.º ano.

No PISA 2018, três em cada quatro alunos revelou que se esforçou menos no teste PISA do que se esforçaria se o teste contasse para as suas classificações finais. Mas, 83% concorda ou concorda fortemente que os seus professores gostam de ensinar. Ainda assim, metade dos alunos inquiridos admitiu que costuma chegar atrasado às aulas.

As famílias

Em 2015, em Portugal, 48% das mães dos alunos de 15 anos tinham apenas o 9.º ano ou menos. Nenhum dos outros países considerados regista uma percentagem tão elevada de pais com este nível de escolaridade.

 

Percentagem de mães com o 9º ano ou menos

 

 

Porque é que o nível de escolaridade das mães é tão importante?

Em 2015, em Portugal, 48% das mães dos alunos de 15 anos tinham apenas o 9.º ano ou menos. Nenhum dos outros países considerados regista uma percentagem tão elevada de pais com este nível de escolaridade.

Porque é que o nível de escolaridade das mães é tão importante?
O nível de escolaridade das mães é tão importante, porque há uma relação clara com os resultados dos filhos. Por exemplo, os resultados médios, no PISA 2015, dos filhos de mulheres com formação universitária situam-se sempre acima dos 500 pontos.

Já no caso das mães que completam o ensino secundário ou equivalente, só em Portugal, na Holanda e na Dinamarca é que os filhos têm um resultado médio igual ou superior a 500. Nos restantes países, estão abaixo.

Quando as mães têm o 9.º ano ou menos, em nenhum dos países considerados os filhos conseguem resultados superiores a 487 pontos. Estes dados são particularmente preocupantes em Portugal, onde perto de 50% das mães dos alunos do PISA estão ainda neste grupo.

Resultados PISA por nível de escolaridade das mães * 

* O valor de referência considerado pela OCDE é 500 pontos. Apesar de não ser uma média, permite traçar a linha que divide os países do PISA: de um lado os que têm resultados positivos (acima de 500) e do outro os que ficam abaixo.

 
Os alunos

O Estatuto Socioeconómico e Cultural (ESCS) é um índice construído pela OCDE, a partir do questionário aos alunos, que reúne informação sobre a educação e profissão dos pais, bem como a posse de bens representativos da sua capacidade económica e cultural. A partir daqui podemos perceber se um aluno vem de um contexto mais ou menos privilegiado.

Em 2018, havia quatro países com um valor de ESCS abaixo da média da OCDE (Espanha, Polónia, Portugal, República Checa). Portugal estagnou de 2015 para 2018, ao passo que a República Checa registou uma melhoria. Portugal passa assim a ser o país com menor ESCS médio. Dinamarca é o país onde o ESCS é mais elevado e que, tal como aconteceu na Irlanda, registou um claro aumento desde 2003.

Estatuto socioeconómico e cultural * 
 

* ESCS / INDICADOR DO ESTATUTO SOCIOECONÓMICO E CULTURAL: Indicador composto a partir de três outros índices: grupo socioprofissional mais elevado do país (HISEI); nível de escolaridade mais elevado dos pais convertido em número de anos de escolaridade (PARED); e bens pertencentes à casa (HOMEPOS) e número de livros existentes em casa. Indicadores definidos pela OCDE.

Porque é que saber o ESCS é tão importante?

Qual o impacto do Estatuto socioeconómico e Cultural nos resultados?

O Estatuto Socioeconómico e Cultural (ESCS) dos alunos é importante, porque existe uma relação clara entre este e os resultados que obtêm no PISA 2018.

Os alunos de países com uma população mais privilegiada, isto é, com ESCS mais elevado, têm tendencialmente melhores desempenhos. Já os países cujo ESCS está abaixo da média apresentam resultados aquém da fasquia dos 500 pontos.

Relação entre ESCS e resultados Pisa Matemática 2018

 

 
Existem diferenças entre os resultados dos rapazes e das raparigas? 
 
Como pensam os alunos?

Aspetos como a ambição e motivação dos alunos, bem como os níveis de ansiedade e como se sentem na escola, são fatores importantes e que influenciam os seus desempenhos.

A partir dos questionários aos participantes no PISA 2015 vemos que os estudantes portugueses, irlandeses e suecos são os que estão mais motivados para serem bem sucedidos na vida escolar, contrariamente aos colegas finlandeses, que revelam pouca motivação para serem os melhores na escola.

Contudo, e com um impacto mais negativo, são os portugueses e os espanhóis que se mostram mais ansiosos no que respeita ao desempenho escolar. Os portugueses são-no ainda mais do que os colegas espanhóis e, independentemente de serem bons ou maus alunos, os níveis de ansiedade que demonstram face aos testes e à expetativa de ter más notas são elevados comparativamente com os outros países. Os holandeses e os finlandeses são, por outro lado, os que parecem viver com mais tranquilidade a realidade dos testes e dos trabalhos da escola.

 

Quero ser o melhor, independentemente da área

Os irlandeses (86%) e os portugueses (77%) são os que mais afirmam querer ser os melhores, independentemente da área. Já na Finlândia e na Holanda os alunos não parecem ter esta preocupação, afastando-se dos outros países, com uma percentagem de resposta afirmativa a esta questão de 36% e 37%, respectivamente.

Quero ter notas excelentes em todas ou na maioria das disciplinas

Os alunos portugueses (96%) são os que mais dizem querer ter notas excelentes em todas ou na maioria das disciplinas. Já os finlandeses são dos que menos ambicionam atingir a excelência.

Quero poder escolher as melhores oportunidades disponíveis quando terminar o secundário

É na Irlanda que os inquiridos mais declaram querer ter possibilidade para escolher as melhores oportunidades disponíveis após terminarem o secundário. Também os portugueses estão entre os que querem poder fazer essa escolha, a par dos franceses, espanhóis, checos e holandeses. Os finlandeses nem tanto.

Considero-me uma pessoa ambiciosa

Aqui destacam-se os irlandeses, os dinamarqueses e os suecos, com 80% ou mais de respostas afirmativas. Espanha e Finlândia são os países onde apenas pouco mais de metade dos alunos responderam afirmativamente. Em Portugal, foram 72%.

Quero ser o melhor aluno da turma

É sobretudo na Irlanda e na Dinamarca que os alunos querem ser os melhores da turma. Seguem-se-lhes os portugueses. A Holanda distancia-se bastante - com esta percentagem a rondar os 30%.

Qual o nível máximo de escolaridade que acho que vou atingir?

Em todos os países, à exceção da Finlândia e da Holanda, um maior número de alunos respondeu querer ter um mestrado ou doutoramento (com a República Checa e Espanha a liderar). Na Holanda, a maior percentagem de respostas foi para um curso profissional de nível médio e na Finlândia para o secundário. Portugal e Finlândia são os países onde maior percentagem de alunos respondeu querer atingir o 12.º ano.

Normalmente, acho que vou ter dificuldade a fazer o teste e fico preocupado

Portugal lidera: em nenhum outro país os alunos ficam tão preocupados e sentem que vão ter dificuldades a fazer um teste (84%). Espanha vem a seguir (75%). Bem diferente é a situação na Irlanda e na Finlândia, onde esta percentagem não chega a 40%.

Tenho medo de ter más notas na escola

Espanhóis e portugueses temem as más notas como nenhuns outros, afastando-se consideravelmente dos restantes do grupo, com 88% de respostas afirmativas a esta questão. Na Dinamarca os alunos parecem ser os mais confiantes e apenas 35.5% receia ter más notas.

Mesmo quando estou bem preparado, fico muito ansioso quando tenho um teste

Mais uma vez, alunos espanhóis e portugueses nos lugares cimeiros, por serem os que mais ansiosos ficam quando têm um teste, mesmo se estiverem bem preparados para o fazer. Com percentagens próximas, seguem-se os dinamarqueses e os irlandeses. Os holandeses estão no extremo oposto.

Fico muito nervoso quando estudo para um teste

Onde é que os nervos mais atacam os alunos? Não só quando têm um teste, mas também quando estão a estudar para ele? Em Portugal e em Espanha, e logo a seguir na Irlanda e na Dinamarca. Nestes países o problema afeta perto de 50% dos alunos de 15 anos. Os mais tranquilos são os holandeses.

Fico nervoso quando não sei fazer um trabalho da escola

Os alunos portugueses são os que afirmam sentir-se mais nervosos quando não sabem fazer um trabalho da escola (65%), contrariamente aos holandeses (26%)

Faço amigos com facilidade na escola

Fazer amizades na escola não é um problema em nenhum destes países. Os alunos franceses, holandeses e espanhóis são os que respondem ter mais facilidade e os polacos um pouco menos, embora a percentagem de respostas afirmativas não se afaste muito da dos outros países.

Sinto que pertenço à escola

Em Espanha, 87 em cada 100 alunos que responderam ao questionário sentem que pertencem à escola, seguidos pelos portugueses. O caso da França é o que mais se afasta dos outros países, com mais de metade dos inquiridos a responder pela negativa.

A geração ligada

Aos 9 anos recebem o primeiro telemóvel. Aos 12 anos, 80% já têm um perfil no Facebook. Aos 15 praticamente todos acedem à Internet em casa. Passam duas horas e meia por dia online e mais de três ao fim-de-semana. Atualizam-se e comunicam vias redes sociais, enviam muitos sms, ouvem música, vêem vídeos, jogam online com pessoas que nunca viram nem sabem em que ponto do mundo estão.

Estar permanentemente ligado e disponível tornou-se um hábito, mas também quase uma dependência para muitos. De acordo com os últimos dados disponíveis (PISA 2015), os jovens portugueses são dos que mais falta sentem da Internet: 80% disseram que se "sentem mal" se não tiverem acesso à rede, um valor que só é mais alto na Taipé Chinesa, em França e na Suécia. A média dos países da OCDE ficou nos 54%.

Chamam-lhes Geração Z e são estes os jovens que na sua maioria estão agora na escola – nasceram entre meados dos anos 90 e 2010. Não sabem o que é viver sem Internet ou telemóvel, o que é fazer uma pesquisa sem ir ao Google, o que é estar dependente da programação e horário da TV para ver o mais recente episódio da sua série preferida.

Fazer uma coisa de cada vez não tem muito sentido. E sabem que o presente está em acelerada transformação. O terrorismo, a crise económica, os empregos que vão deixar de existir são realidades com que estão familiarizados. Mas também a do empreendedorismo e das startups, do crowdfunding, das viagens a preços mais acessíveis. Mais do que nunca, o seu mundo é global.

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A geração ligada
O insucesso

Os alunos que chumbam

A repetência de ano, retenção ou 'chumbo' continua a ser uma das variáveis mais diferenciadoras dos sistemas de ensino. Em alguns países da Europa esta medida é praticamente inexistente ou foi mesmo abolida. Noutros, continua a ser prática comum.

Portugal, Luxemburgo e Espanha são os únicos países que, de acordo com os dados disponíveis em 2015, mantêm uma percentagem acima dos 30% de alunos que repetiram pelo menos um ano. No caso de Portugal e Espanha esta prática tem-se revelado uma constante desde 2003. Já no Luxemburgo, França, Holanda e Irlanda a percentagem de alunos que chumba tem reduzido bastante. Em França desceu mesmo de 40%, em 2003, para quase metade, em 2015. Por outro lado, a Finlândia, a Dinamarca, a Suécia e a República Checa praticamente não recorrem a esta medida: a percentagem de estudantes que aos 15 anos já repetiu pelo menos uma vez é residual, não ultrapassando os 5%.

Percentagem de alunos que chumbaram pelo menos uma vez
 

Os alunos inseridos num contexto socioeconómico e cultural mais baixo são os que mais chumbam e que maior probabilidade têm de vir a chumbar, de acordo com dados de 2015.

Esta diferença é particularmente evidente em Portugal, França e Espanha. Por exemplo, em Portugal, em cada 100 alunos com Estatuto Socioeconómico e Cultural (ESCS) baixo, 40 correm o risco de chumbar. No caso dos alunos com ESCS alto, apenas 12 em 100 correm esse risco.

Mesmo em países onde a retenção é baixa e, por isso, a probabilidade de chumbar é baixa para todos, são os alunos de contextos mais desfavorecidos que têm maior probabilidade de não passar de ano.

Probabilidade de repetir um ano por ESCS * 
 

* ESCS / INDICADOR DO ESTATUTO SOCIOECONÓMICO E CULTURAL: Indicador composto a partir de três outros índices: grupo socioprofissional mais elevado do país (HISEI); nível de escolaridade mais elevado dos pais convertido em número de anos de escolaridade (PARED); e bens pertencentes à casa (HOMEPOS) e número de livros existentes em casa. Indicadores definidos pela OCDE.

Como se combate o insucesso?

São vários os estudos que demonstram a ineficácia pedagógica de chumbar um aluno,apesar de esta ser uma das medidas mais caras que se podem tomar para tentar melhorar as aprendizagens. Estima-se que em Portugal a despesa direta ligada a mais um ano de escola seja cerca de 7000 dólares por aluno (perto de seis mil euros).

Entre as medidas alternativas direcionadas a alunos com dificuldades há outras mais baratas e aparentemente mais eficazes, como é caso da intervenção específica na comunicação oral e escrita, a tutoria pelos pares ou a aprendizagem por objetivos.

Custos estimados por aluno/ano (USD) por tipo de intervenção para a melhoria das aprendizagens, benefícios da intervenção (em meses)
 
Portuguese, Portugal
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