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Imagem de uma mulher a rir. Crédito: Canva

Mulheres e não supermulheres

Em Portugal, as mulheres vivem mais anos, mas não vivem necessariamente melhor. Aprendem desde pequenas a cuidar dos outros e, quando crescem, espera-se que consigam tudo: trabalho, casa, filhos, equilíbrio, paciência, afirma a investigadora Cátia Branquinho. É sobre os impactos desta realidade o tema do primeiro episódio do podcast «Eu quero ser...mais feliz», que estreia hoje.
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Há mulheres que acordam antes da casa acordar e adormecem muito depois de toda a gente. Trabalham, tratam da casa, dos filhos, da família, da vida dos outros. São mães, profissionais, companheiras, filhas, amigas. São tantas coisas ao mesmo tempo… que acabam por deixar de ser para si próprias.

Este episódio é sobre isto. Sobre mulheres que vão fazendo tudo, todos os dias, às vezes no limite, muitas vezes em silêncio. Sobre aquela culpa que aparece sem ser chamada e que diz «não fiz o suficiente». Sobre o corpo que insiste quando a cabeça já pediu para parar. Sobre o momento em que um filho pergunta: «Mãe, hoje brincas comigo?» e a resposta dói, porque o cansaço pesa mais do que a vontade.

Em Portugal, as mulheres vivem mais anos, mas não vivem necessariamente melhor. Aprendem desde pequenas a cuidar dos outros e, quando crescem, esperam que consigam tudo: trabalho, casa, filhos, equilíbrio, paciência. Mas ninguém consegue tudo ao mesmo tempo. E quando não dá, a culpa aparece sempre.

E o que acontece? Vive-se em piloto automático. Corre-se o dia todo. Almoça-se à pressa. Responde-se a e-mails enquanto se dá banho às crianças. Acaba o dia e o corpo cai na cama, sem energia, sem espaço, só com cansaço.

Mas a vida não tem de ser isto.

Bem-estar não é estar sempre feliz. Não é deixar de sentir tristeza, culpa ou medo. É conseguir viver com tudo isso sem desaparecer lá pelo meio. A Terapia de Aceitação e Compromisso fala disso de forma simples: sentir não é fraqueza. É humano. E mesmo com emoções difíceis, é possível continuar a caminhar.

Talvez não seja possível ter mais horas no dia. Mas pode haver tempo que conta: tempo sem culpa, tempo para respirar, tempo para estar presente. Pequenas coisas. Passos pequenos. Cuidados pequenos. Mas que fazem diferença.

As emoções não aparecem para nos chatear. Elas avisam. Mostram caminho. Quando começamos a ouvir o que sentimos, o corpo, a cabeça, voltamos a caber dentro da nossa vida. Voltamos a existir.

 

O livro de Cátia Branquinho «Emoções e bem-estar», é o ponto de partida do primeiro episódio do podcast «Eu posso ser...» em parceria com o Observador Lab. 

Ouça o primeiro episódio «Eu posso ser....mais feliz», disponível nas plataformas habituais e no site da Fundação.

 

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