A
A
Imagem de 'gostos' e emojis nas redes sociais

Tomar posse do nosso perfil das redes sociais

Nas redes sociais, os conteúdos que vemos são selecionados para maximizar o tempo de ecrã, obter dados dos utilizadores e assim maximizar as receitas publicitárias. Devem os utilizadores exigir às redes sociais o acesso ao seu retrato psicológico? Este artigo deixa vários alertas sobre o lado mais negro das redes sociais.
4 min

As redes sociais aproximam pessoas, lançam artistas, fomentaram o conhecimento e milhões de negócios. Mas também veiculam o incitamento ao ódio, a manipulação de eleições, o divisionismo; estimulam a adição e reforçam comportamentos autodestrutivos.

Defendem-se as plataformas de redes sociais dizendo que não são responsabilizáveis pelos conteúdos que os seus utilizadores recebem porque esses conteúdos não são produzidos pela plataforma, mas sim pelos próprios utilizadores. Esta narrativa é uma falácia.

O documentário The Social Dilemma mostra como o Facebook nos esmiúça: homem, cisgénero, solteiro, à procura, estatura abaixo da média, abastado, atlético; tem medo do isolamento social, da rejeição, cobras e falar em público; tem como objetivos de vida sucesso académico, uma relação e ter uma boa forma física. E traça o perfil psicológico dentro do modelo OCEAN, em cinco categorias: openness to experience, conscientiousness, extroversion, agreebleness e neuroticism.

Não sabemos como chega a estas qualificações ou que consequências o Facebook retira destes rótulos. Mas sabemos que esta informação serve de input à inteligência artificial (IA) algorítmica que seleciona os conteúdos do feed do utilizador que mais potencial têm de o manter ligado à rede social, para, nesse estado, a empresa lançar um leilão instantâneo aos anunciantes, e adjudicar a mensagem publicitária à oferta mais alta.

É importante discutir se as plataformas podem ser responsáveis pela «Dismorfia do Snapchat», que leva sobretudo as meninas a procurar cirurgia facial para se tornarem como aparecem com os ‘filtros’ beautify-me.

Um algoritmo informático é uma sequência finita de ações executáveis que visam obter uma solução para um determinado problema, como se fosse uma receita de culinária. Essas ações são executadas por instrução humana, usam inputs e produzem outputs, prosseguindo um objetivo pré-determinado.

Portanto, os conteúdos que são dados a ver ao utilizador não são puramente aleatórios: isso não maximizaria a receita publicitária; antes são selecionados para maximizar o tempo de ecrã.

Esta indústria extrativa da mente, penetra no âmago do indivíduo com potentes máquinas computacionais apetrechadas de inteligência algorítmica que despem e vigiam as pessoas capturando-lhe a atenção e tornando-as viciadas na dopamina que, a cada reforço positivo, por exemplo, um novo Like ou um novo seguidor, lhe disparam. É a economia da atenção do surveillance capitalism.

Não restam dúvidas de que a voluntariedade está no coração da IA operada por algoritmos nas redes sociais.

Será interessante discutir, por exemplo, se as plataformas podem ser responsáveis pela «Dismorfia do Snapchat», que leva (principalmente) meninas a procurar cirurgia facial para se tornarem como aparecem com os ‘filtros’ beautify-me.

O artigo 15.º do Regulamento Geral de Proteção de Dados consagra a favor dos cidadãos residentes na UE o direito de aceder aos seus dados pessoais, incluindo à lógica envolvida e de conhecer as consequências desse processamento automático de dados.

Se os utilizadores exigirem às redes sociais o acesso ao seu retrato psicológico, à lógica algorítmica e às consequências desse processamento, podem identificar tratamentos proibidos, pedir a remoção, exigir a reversão, a seu favor, das receitas publicitária obtidas ilicitamente.

Acaba de ser lançado um movimento Consumer Alliance For Algorithm Transparency em OpenUpAlgorithm.eu  onde os utilizadores podem subscrever o seu pedido de acesso ao seu perfil nas redes. São 30 perguntas. Os pedidos de acesso são feitos por cada utilizador, fornecendo a sua identificação, o seu link de conta, e mandatando a IUS OMNIBUS - CONSUMER ALLIANCE, para remeter cada pedido.

 

 

 

 

 

 

Portuguese, Portugal