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Helen Czerski: física não é assim tão simples

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«A Física é como uma caixa de ferramentas. E quando se compreendem as ferramentas, pode explicar-se não apenas o mundo à nossa volta, como também interagir com ele», diz a física e oceanógrafa Helen Czerski.

Nesta entrevista, a especialista mostra que existem padrões físicos em todo o lado e explica como estes moldam o quotidiano, interligando a vida humana com a do planeta.

Para a investigadora da University College London, compreender o mundo passa por investigar esses padrões invisíveis, principalmente os que influenciam o oceano: como o vento transmite energia às ondas, como o som viaja pela água e revela o que está escondido, ou como os gases circulam entre o oceano e a atmosfera, através de bolhas de gás à superfície da água.

No Atlântico Norte, por exemplo, o oceano está a inspirar dióxido de carbono, retirando-o da atmosfera, enquanto nos trópicos está a expirá-lo. «Há um equilíbrio natural entre ambos», garante Helen. «E o que é realmente útil nisso é que retiramos esse gás da atmosfera, onde estaria a contribuir para o aquecimento global», esclarece.

«Estes pequenos processos, ondas a rebentar e bolhas na superfície do oceano não parecem muito importantes», acrescenta, «mas se somarmos a quantidade de respiração que acontece em todo o planeta, a toda a hora, percebemos como o oceano está a fazer-nos um enorme favor».

Essas mesmas bolhas de gás revolucionaram a pesca. Os sistemas de sonar, que enviam som para o oceano, utilizam-nas para localizar os peixes. Se um peixe tiver uma bolha de gás na sua bexiga natatória – que é o caso da maioria – o som viaja de forma diferente através do animal. No entanto, a especialista alerta: «Isso contribuiu para a sobrepesca e para o estado da biodiversidade nos oceanos».

«A maior lição de todo o meu trabalho é o quão incrivelmente interligados os sistemas estão. Não é verdade que, na natureza, algo acontece aqui e não afeta mais nada», afirma Helen Czerski, notando que até a urina de uma baleia tem influência no equilíbrio dos ecossistemas.

«As baleias alimentam-se no Ártico e migram para os trópicos para se reproduzirem. Enquanto se reproduzem não se alimentam, mas continuam a produzir urina, que deposita azoto nas ilhas tropicais», explica a apresentadora da BBC.

E é em sítios como o Havai que se escondem nos baixios e têm lá as suas crias, fertilizando esses ambientes, que, por natureza, não são ricos em nutrientes. Mas essa movimentação de nutrientes ficou ameaçada desde que se começou a caça industrial às baleias.

«Retirámos um dos mecanismos que fazia o resto do sistema funcionar» e, se o ser humano continuar a retirar outras partes, com a sobrepesca e a adição de poluentes ao oceano, «quebramos não apenas uma cadeia, mas uma teia de interações», esclarece.

Por agora, Helen Czerski garante que o planeta ainda tem capacidade de resistir, mas reconhece que o equilíbrio entre a vida humana e o mundo natural está a mudar significativamente. «Acho que temos um enorme problema, mas temos os meios para o resolver». Não podemos é continuar a adiar.

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