Cronologias

Estreia, no cinema Estúdio, em Lisboa, O Cerco, de António da Cunha Telles, com a atriz Maria Cabral. Em maio de 1970, fora apresentado no Festival de Cannes. Foi o primeiro filme português a ficcionar uma crise conjugal e a liberdade sexual feminina, tendo algumas cenas sido cortadas pela censura. A 9 de dezembro de 1970, uma exposição da União dos Grémios de espetáculos referia que, nos 157 filmes censurados e destinados aos primeiros meses da temporada 1970/1971, 34 (21,6%) foram integralmente proibidos, tendo 76 (49,7%) sido sujeitos a cortes.

Durante a sessão comemorativa do 10.º aniversário da «Declaração da Descolonização», a representação portuguesa na ONU, sob a chefia de Rui Patrício, abandona a sala da Assembleia Geral, no momento em que o secretário-geral U Thant se preparava para discursar.

Anwar Sadat torna-se oficialmente Presidente do Egipto.

Um despacho do ministro da Economia estabelece o plano petrolífero e petroquímico nacional. O plano prevê a ampliação da refinaria do Norte, a instalação de uma nova grande refinaria no Sul (virada parcialmente para a exportação), o lançamento de um complexo petroquímico de aromáticos junto à refinaria do Norte e outro de olefinas anexo à nova refinaria do Sul, dando-se prioridade à utilização crescente dos petróleos de Angola (tinha sido iniciada em 1969 a exploração dos jazigos da Cabinda Gulf Oil), e, finalmente, prevê o lançamento da prospecção sistemática dos recursos petrolíferos em Portugal e nos então territórios ultramarinos. O despacho será publicado no Diário do Governo, III Série, a 4 de novembro.

É fundado o Círculo de Leitores, que iniciará a sua atividade editorial em sistema de clube do livro no primeiro trimestre de 1971.

O jornal conservador Novidades, propriedade da Igreja Católica, publica o primeiro de uma série de artigos a criticar o projeto de proposta de lei do Governo sobre a liberdade religiosa.

O Decreto-Lei n.º 492/70 altera diversas disposições do Decreto-Lei n.º 49212, de 28 de agosto de 1969 (regime jurídico das relações coletivas de trabalho). Trata-se de um recuo importante na reforma da negociação coletiva do ano anterior, ao conferir ao governo a competência para a nomeação do terceiro árbitro nas arbitragens de conflitos coletivos. O governo ficava também habilitado a devolver às partes negociadoras os textos das convenções ou decisões arbitrais que o ministro recusasse homologar, com a indicação do que deveria ser corrigido.

Segunda reunião intersindical, com 22 sindicatos de várias zonas do país, em que é relatada a audiência concedida na semana anterior pelo ministro das Corporações, Baltazar Rebelo de Sousa, pelo secretário de Estado Silva Pinto e pelo subsecretário Nogueira de Brito a 13 dirigentes de sindicatos presentes na primeira reunião intersindical. Nessa audiência, os governantes tinham advertido os sindicalistas de que a sua atividade devia manter-se politicamente neutral e «não podia exceder os limites da ação sindical admitida pelo governo». O Governo não concederia mais audiências conjuntas a representantes das reuniões intersindicais até abril de 1974, abstendo-se de dar qualquer passo que pudesse ser entendido como um reconhecimento da nova estrutura sindical.

Atentado contra o navio Cunene, fundeado em Alcântara e ao serviço das Forças Armadas. O atentado é reivindicado pela ação Revolucionária Armada (ARA), organização armada do PCP. A 20 de novembro, deflagrarão três bombas em Lisboa. Os alvos são a Escola Técnica da PIDE/DGS, o Centro Cultural da Embaixada dos EUA (que fica parcialmente destruído) e o paquete Niassa que, tal como o Cunene, efetuava transportes para as Forças Armadas. Registou-se um morto junto à Escola da PIDE e quatro feridos no Centro Cultural dos EUA.