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Imagem de bombeiros e drenar as ruas alagadas em Alcântara, Lisboa, em dezembro de 2022. Crédito:António Pedro Santos/Lusa

Cheias urbanas: que futuro queremos escolher?

Em Portugal, os sistemas de drenagem nas cidades não estão preparados para tempestades invulgarmente intensas, como as que atingiram Valência. Para a investigadora Ana Estela Barbosa é preciso encontrar alternativas, como as abordagens usadas nas chamadas «cidades esponja», onde a estrutura urbanística privilegia zonas verdes e soluções concebidas para absorver e reter a chuva.
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As recentes cheias em Valência, um drama humano que a todos impactou, acionaram novos alertas sobre a nossa segurança face a um evento análogo. 

As cheias urbanas têm causas distintas, despoletadas por processos naturais e responsabilidades humanas. A falta de clareza sobre o papel destes múltiplos fatores atrapalha a compreensão e, consequentemente, a possibilidade de uma resposta social e ambientalmente benéfica. Consequências de decisões humanas não podem ser legitimadas pelo «chapéu alterações climáticas» - algo muito em voga.

Quando um volume extremo de precipitação cai num reduzido intervalo de tempo, as áreas adjacentes ao leito principal das linhas de água inundam. A existência de floresta e zonas naturais com vegetação possibilita a interceção da água da chuva pelas folhagens, promovendo a infiltração e retenção, nos solos e subsolos, o que regulariza os processos hidrológicos.

Os sistemas de drenagem urbanos são dimensionados para chuvadas com frequência de ocorrência baixa ou média - nunca para eventos com um elevado período de retorno (p. ex., de 100 anos).

Num território urbanizado com escassas ou inexistentes zonas verdes naturais, a água da chuva tem como única via a drenagem superficial. O escoamento em superfícies impermeabilizadas é extremamente rápido, principalmente quando há declives.

Como os sistemas de drenagem urbanos são dimensionados para chuvadas com frequência de ocorrência baixa ou média - nunca para eventos com um elevado período de retorno (p. ex., de 100 anos) - chuvadas invulgarmente intensas geram cheias e inundações.

Em zonas urbanas costeiras, os rios encaminham-se para o mar e estão sujeitos à influência das condições de maré, bem como a fenómenos atmosféricos que afetam o nível do mar. Estes retardam o escoamento fluvial, acentuando o alagamento das áreas a montante.

As zonas baixas de Lisboa, Oeiras, bem como de outros municípios na influência de estuários e zonas costeiras, foram das mais impactadas pelas cheias de dezembro de 2022.

Decisões de planeamento e gestão da ocupação do solo são as grandes responsáveis pela magnitude dos impactos dos eventos extremos de precipitação.

De referir ainda dimensões operacionais com repercussões no impacto de cheias. Por exemplo, a manutenção e limpeza do sistema de drenagem e das ruas.

Os procedimentos de alerta, a informação atempada e a preparação da proteção civil e da população são relevantes. A velocidade de escoamento da chuva nas ruas, mesmo tendo a lâmina de água poucos centímetros de altura, pode causar a queda de um adulto – será este facto conhecido? 

Decisões no âmbito do planeamento e gestão da ocupação do solo são as grandes responsáveis pela magnitude dos impactos dos eventos extremos de precipitação. Consequências gravíssimas como a perda de vidas humanas, além de danos ambientais e infraestruturais, e afetação de serviços críticos, devem urgentemente ser minimizados, através de medidas integradas e usando os melhores conhecimentos científicos e técnicos.

O conceito de cidades esponja apoia-se na preparação do território urbano para absorver e/ou reter a precipitação, removendo restrições ao fluxo natural da água.

A criação de bacias de retenção, distribuídas estrategicamente pela bacia hidrográfica, possibilita a retenção e retardamento do escoamento de parte do volume de precipitação.

De uma forma geral, todas as medidas alicerçadas em soluções de base natural, como o incremento de zonas verdes nas cidades e a (re)naturalização de rios, são fundamentais para devolver ao território o seu equilíbrio original, promovendo a resiliência a eventos extremos.

Estas soluções trazem ainda benefícios inestimáveis, como o aumento da biodiversidade e do bem-estar das populações. São, por isso, a direção apontada por documentos políticos, incluindo da União Europeia. A Natureza é a solução para diversos problemas globais da atualidade.

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