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Imagem de um rapaz de mochila às costas a caminhar para a escola.

Regresso às aulas: o que pode correr bem?

O ano letivo começa com 117 mil alunos sem professor a, pelo menos, uma disciplina. Neste texto, Paulo Guinote fala de três fenómenos «maravilhosos» e «improváveis» que terão de acontecer nos próximos meses para que o ano letivo seja sinónimo de melhor educação no país.
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Mais um ano lectivo, mais uma rodada de prognósticos sobre o seu arranque e desenvolvimento que dificilmente escapam às trincheiras habituais, com o Ministério da Educação a garantir que fará tudo para ultrapassar os problemas, como é sua função e dever, e com o habitual conjunto de críticos – onde habitualmente me situo, pessimista por deformação – a lamentar que as coisas não tenham sido pensadas e preparadas da melhor forma e em tempo (mais) útil, pelo que é de antever a continuação das situações mais problemáticas, algo que também tem o seu quê de ritual, por esta altura do ano.

Talvez por isso, e porque o contexto de falta de professores para assegurar as aulas de milhares de alunos com continuidade e estabilidade é realmente complicado e sem soluções de rápido efeito à vista, vou optar por um exercício diferente, o de projectar o que poderá correr bem nos próximos meses, se os astros se conjugarem de um modo inesperadamente favorável às nossas necessidades terrenas.

Assegurar as aulas de milhares de alunos com continuidade e estabilidade é realmente complicado e sem soluções de rápido efeito à vista.

Antes de mais, há a esperança de que pelo menos duas ou três das medidas apresentadas pela nova equipa ministerial para minimizar os efeitos da falta assimétrica de professores tenham algum efeito.

Mesmo se uma análise lúcida da realidade nos transmite uma sensação contrária, pode ser que centenas de professores aposentados regressem à docência, que outras centenas troquem uma aposentação antecipada pela possibilidade de se manterem no activo ou que ainda algumas centenas de investigadores e doutorados considerem atractiva a possibilidade de saírem dos laboratórios e universidades para irem dar aulas a duas ou três turmas do Ensino Básico ou Secundário.

Em segundo lugar, pode ser que a maior organização representativa dos pais e encarregados de educação opte por contribuir para uma melhoria na vida escolar. Promovendo iniciativas junto dos seus associados e não só, no sentido de incentivarem os seus educandos a encarar as escolas e as salas de aula como espaços que podem ser de lazer e diversão, mas que, em alguns momentos, também o devem ser de trabalho, esforço e respeito pelas regras e pelo trabalho de quem, como os professores, pretendem melhorar as suas possibilidades de futuro.

É importante que, pelo menos por agora, o discurso público em torno da Educação se liberte de chavões e espartilhos ideológicos e se concentre na análise dos fenómenos sociais.

Por fim, mas não menos importante, pelo menos por agora, é possível que o discurso público em torno da Educação se liberte de chavões e espartilhos ideológicos e se concentre na análise dos fenómenos sociais que vivemos e que muitas das opiniões lançadas para o espaço mediático tenham algum fundamento empírico e não sejam a mera expressão de pré-conceitos alimentados por um qualquer tipo de fé ideológica ou interesse material nas possibilidades do mercado da Educação.

Se pelo menos estes três fenómenos maravilhosos vierem a acontecer, por improváveis que a História recente os apresente, acredito que o ambiente geral em torno da Educação melhorará o suficiente para que quem trabalha diariamente nas escolas – alunos, pessoal docente e não docente – sinta apenas a pressão saudável dos seus deveres e possam dar o melhor de si.

«O truque é combinares as tuas habilidades racionais de quando estás acordado com as infinitas possibilidades dos teus sonhos. Porque, se conseguires fazer isso, consegues fazer qualquer coisa.» 

Guy Forsyth em Waking Life, filme de Richard Linklater (2002).

 

*O autor escreve sem o Acordo Ortográfico.

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