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Imagem de crianças sentadas num banco ao telemóvel e a ler

Telemóveis nas salas de aula, sim ou não?

O Governo acaba de recomendar a proibição de telemóveis nas escolas para crianças até aos 12 anos. Podem os smartphones ser um estímulo para aprender ou, pelo contrário, prejudicam o aproveitamento? Não há consenso entre os especialistas. No Agrupamento de Escolas Gil Vicente, em Lisboa, usar o telemóvel é proibido até ao 9º ano, mesmo nos recreios, por prejudicar a aprendizagem e as relações livres de ecrãs, explica Sandra Rosa, coordenadora de projetos deste agrupamento. Já para o consultor educacional Adelino Calado, os telemóveis são como uma extensão da mão do aluno e a escola deve saber aproveitá-los para criar aulas mais apelativas e motivadoras
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O uso de telemóveis deve ser proibido dentro das salas de aula?
Sim

A lei que aprova o estatuto do Aluno e Ética escolar (n.º 51/2012, de 5 de Setembro), refere que os alunos não devem transportar, nem utilizar quaisquer equipamentos tecnológicos, designadamente telemóveis, que possam perturbar o normal funcionamento das atividades letivas, exceto quando a sua utilização esteja diretamente relacionada com as atividades a desenvolver e seja expressamente autorizada pelo professor. O Regulamento Interno do nosso Agrupamento vai mais longe e acrescentou a interdição no espaço do recreio por considerar que as crianças e jovens precisam de estabelecer relações saudáveis, livres de ecrãs, por uma escola mais viva e ativa.

Não

Julgo que é importante explorar o potencial dos telemóveis. Para a maioria dos nossos alunos, o telemóvel é uma extensão da mão. No entanto, tal como todas as próteses, é fundamental aprender a utilizá-lo. A escola pode e deve orientar as crianças e jovens para iniciar a literacia digital, que parece esquecida, e que começa no momento em que se adquire um telemóvel. 

Os telemóveis são um factor distrativo durante as aulas?
Sim

Os telemóveis são sempre um fator distrativo nas salas de aula e desaconselhados, porque não são ferramentas pedagógicas, mas de uso pessoal e recreativo. Na nossa escola, antes da interdição, registavam-se diariamente graves disrupções, dentro e fora das salas de aula, bem como conflitos entre os alunos e indisciplina, devido à má utilização dos telemóveis. Concordamos com o recurso a tablets ou  computadores, utilizados de forma esporádica e como complemento de alguma atividade a desenvolver em sala de aula e devidamente supervisionada pelos docentes.

Não

Se utilizados com critério e em sessões bem planeadas, os telemóveis contribuem efetivamente para aulas mais apelativas. Sabemos que o que mais distrai os jovens alunos são as aulas tradicionais: normalmente muito expositivas, com aprendizagens propostas pouco significativas, aborrecidas, em que estar sentado e calado, olhando para as costas do colega da frente é a norma. Sabemos que o sucesso imediato em todas as ações, brincadeiras ou desafios [dos alunos] é determinante para motivar e manter a sua concentração, por isso o telemóvel e as suas inúmeras aplicações - muitas delas didáticas - pode ser o rumo a seguir quando se planeia uma aula.

Os telemóveis nas salas interferem na aprendizagem do aluno, podendo dificultar a escrita, leitura ou a matemática?
Sim

Interferem com os processos e com a atenção, comprometendo a aquisição das aprendizagens. Os estudos indicam que as crianças assimilam com muito mais eficiência aquilo que leem em papel do que tudo o que é lido num ecrã, que está repleto de uma grande quantidade de estímulos que competem pela sua atenção.

Não

Pelo contrário. O desenvolvimento de todas as competências pode ser mais motivador com o auxílio de várias aplicações existentes. Há que explorar o que podem ser auxiliares poderosos - a gamificação tem sido utilizada com imenso sucesso, por exemplo. Experiências já efetuadas e amplamente divulgadas, como os programas televisivos «Isto é Matemática» ou a «Ken Academy», são excelentes recursos para a aprendizagem da disciplina.

Tendo os alunos atualmente acesso a vários dispositivos móveis, não deverá a escola aproveitar essa tecnologia para criar aulas mais apelativas?
Não

A escola de hoje deve ser parte da solução e não do problema, ou seja, deve contribuir para melhorar o desempenho escolar e o ambiente de aprendizagem, dentro e fora de sala de aula. São inúmeros os exemplos de má utilização de telemóveis [nas escolas] que têm um efeito negativo, são fonte de distração permanente e um obstáculo à socialização. São demasiadas horas de ecrã e os especialistas alertam para a grande dependência de redes sociais e jogos, associados a vários problemas de saúde, como depressão e ansiedade, problemas físicos e oftalmológicos. Os docentes podem recorrer a software pedagógico utilizando os computadores disponíveis nas escolas.

 

Sim

No entanto, o conhecimento e prática [dos alunos], na maioria das vezes, restringe-se à mera utilização do mais básico das tecnologias, como jogos, redes sociais e pouco mais. A literacia digital tem que ser o aspeto essencial e prévio a toda e qualquer abordagem tecnológica. Na realidade, a disciplina de Tecnologias da Informação, atualmente incluída nas matrizes curriculares, carece de uma profunda reflexão, pois não responde às necessidades que se exigem para aproveitar o que existe no universo digital.

Autor
Portuguese, Portugal