Telemóveis nas salas de aula, sim ou não?
A lei que aprova o estatuto do Aluno e Ética escolar (n.º 51/2012, de 5 de Setembro), refere que os alunos não devem transportar, nem utilizar quaisquer equipamentos tecnológicos, designadamente telemóveis, que possam perturbar o normal funcionamento das atividades letivas, exceto quando a sua utilização esteja diretamente relacionada com as atividades a desenvolver e seja expressamente autorizada pelo professor. O Regulamento Interno do nosso Agrupamento vai mais longe e acrescentou a interdição no espaço do recreio por considerar que as crianças e jovens precisam de estabelecer relações saudáveis, livres de ecrãs, por uma escola mais viva e ativa.
Julgo que é importante explorar o potencial dos telemóveis. Para a maioria dos nossos alunos, o telemóvel é uma extensão da mão. No entanto, tal como todas as próteses, é fundamental aprender a utilizá-lo. A escola pode e deve orientar as crianças e jovens para iniciar a literacia digital, que parece esquecida, e que começa no momento em que se adquire um telemóvel.
Os telemóveis são sempre um fator distrativo nas salas de aula e desaconselhados, porque não são ferramentas pedagógicas, mas de uso pessoal e recreativo. Na nossa escola, antes da interdição, registavam-se diariamente graves disrupções, dentro e fora das salas de aula, bem como conflitos entre os alunos e indisciplina, devido à má utilização dos telemóveis. Concordamos com o recurso a tablets ou computadores, utilizados de forma esporádica e como complemento de alguma atividade a desenvolver em sala de aula e devidamente supervisionada pelos docentes.
Se utilizados com critério e em sessões bem planeadas, os telemóveis contribuem efetivamente para aulas mais apelativas. Sabemos que o que mais distrai os jovens alunos são as aulas tradicionais: normalmente muito expositivas, com aprendizagens propostas pouco significativas, aborrecidas, em que estar sentado e calado, olhando para as costas do colega da frente é a norma. Sabemos que o sucesso imediato em todas as ações, brincadeiras ou desafios [dos alunos] é determinante para motivar e manter a sua concentração, por isso o telemóvel e as suas inúmeras aplicações - muitas delas didáticas - pode ser o rumo a seguir quando se planeia uma aula.
Interferem com os processos e com a atenção, comprometendo a aquisição das aprendizagens. Os estudos indicam que as crianças assimilam com muito mais eficiência aquilo que leem em papel do que tudo o que é lido num ecrã, que está repleto de uma grande quantidade de estímulos que competem pela sua atenção.
Pelo contrário. O desenvolvimento de todas as competências pode ser mais motivador com o auxílio de várias aplicações existentes. Há que explorar o que podem ser auxiliares poderosos - a gamificação tem sido utilizada com imenso sucesso, por exemplo. Experiências já efetuadas e amplamente divulgadas, como os programas televisivos «Isto é Matemática» ou a «Khan Academy», são excelentes recursos para a aprendizagem da disciplina.
A escola de hoje deve ser parte da solução e não do problema, ou seja, deve contribuir para melhorar o desempenho escolar e o ambiente de aprendizagem, dentro e fora de sala de aula. São inúmeros os exemplos de má utilização de telemóveis [nas escolas] que têm um efeito negativo, são fonte de distração permanente e um obstáculo à socialização. São demasiadas horas de ecrã e os especialistas alertam para a grande dependência de redes sociais e jogos, associados a vários problemas de saúde, como depressão e ansiedade, problemas físicos e oftalmológicos. Os docentes podem recorrer a software pedagógico utilizando os computadores disponíveis nas escolas.
No entanto, o conhecimento e prática [dos alunos], na maioria das vezes, restringe-se à mera utilização do mais básico das tecnologias, como jogos, redes sociais e pouco mais. A literacia digital tem que ser o aspeto essencial e prévio a toda e qualquer abordagem tecnológica. Na realidade, a disciplina de Tecnologias da Informação, atualmente incluída nas matrizes curriculares, carece de uma profunda reflexão, pois não responde às necessidades que se exigem para aproveitar o que existe no universo digital.