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Imagem de jovens a estudar

«A única solução estrutural para reter os jovens é a subida real dos salários»

Um em cada três jovens portugueses vive fora do país. A emigração dos nossos melhores é inevitável? Soledade Carvalho Duarte, diretora-geral da Invesco Transearch Portugal, acredita que a fuga de talento jovem não tem de ser uma realidade, mas é preciso alterar as políticas fiscais e salariais e melhorar a liderança nas empresas. Francisco Porto Fernandes, presidente da Federação Académica do Porto, considera urgente uma reforma do ensino superior e o aumento dos salários para travar estas saídas. E lembra que mais de 60% dos alunos nas áreas de Tecnologia e Ciência admite emigrar.
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Ainda vamos a tempo de reter talento em Portugal?
Sim

A fuga de talentos não é uma inevitabilidade. Mas é preciso apostar numa alteração das políticas salariais e fiscais por parte dos decisores políticos, de forma a permitir às empresas agirem em conformidade.

Neste momento a fuga de talento é real — e afeta diferentes gerações que encaram a sua ida para mercados internacionais quase como uma fatalidade —, mas não é uma inevitabilidade. Portugal pode ser um bom exemplo na atração de talentos, desde que adote políticas públicas que valorizem as pessoas e as empresas, reduzindo a penalização do trabalho e promovendo o crescimento e a dimensão das empresas.

Sim, mas

Portugal é um país pequeno, é normal que tenha emigração, mas não é normal a sangria de talento que temos vindo a sofrer. É possível diminuirmos este flagelo, mas através de reformas estruturais que coloquem o país a crescer. Os planos de emergência e alívios fiscais são positivos, mas não fazem milagres.

Um inquérito recente realizado pela FAP revela que o Direito é a área de formação com  menor percentagem de estudantes a ponderar emigrar (38%). A percentagem mais elevada foi registada nos cursos das áreas das Ciências e Tecnologias (62%). Já nas Ciências Económicas, Letras e Comunicação, na Saúde ou nas Artes, cerca de metade dos estudantes pondera trabalhar fora do país.

Um jovem, à saída da universidade, tem condições para ficar em Portugal e ser financeiramente independente?
Sim, mas

Não tem sido fácil, mas espero que o recente pacote de medidas proposta pelo governo e dedicado aos jovens, nomeadamente as alterações ao IRS Jovem e a isenção do IMT e do Imposto de Selo para todos os contribuintes até aos 35 anos, independentemente do rendimento, seja um passo decisivo para que possam concretizar uma carreira profissional dentro do seu país, contribuindo para o sucesso e o crescimento económico de Portugal. Tenho esperança.

 

Não

Mais de metade dos meus colegas pretendem emigrar e isso está relacionado com a perda de 30% do poder de compra desde 2011 e com a subida abrupta dos preços da habitação. Os salários não acompanharam a subida dos preços e, hoje, a saída de casa dos pais faz-se, em média, aos 30 anos.

A subida generalizada de salários é suficiente para garantir uma maior retenção de talento jovem?
Não

Concordo que ajudaria bastante a encarar o mercado português como uma geografia profissional mais atraente, mas isso não basta para reter os melhores talentos.

Uma das questões que mais seduzem os nossos quadros, quando pensam numa carreira internacional, é a boa gestão e liderança das organizações. Nesse sentido, temos [igualmente] de investir em líderes capazes de arriscar e de fazer diferente, que estejam familiarizados com os objetivos dos seus colaboradores, promovendo o equilíbrio entre vida a pessoal e a profissional, respeitando diferenças e valores e trabalhando em conjunto para o bem comum da empresa e da sociedade em que se inserem.

Sim

Concordo, o principal problema dos jovens portugueses não é a habitação, são os salários baixos. Se o salário médio de um jovem não fosse 1000€, um T1 a 1000€ não seria um problema. A única solução estrutural para os jovens é a subida real dos salários, que só é possível com a subida da produtividade, tema que parece tabu em Portugal.

A educação em Portugal dá resposta às necessidades do mercado de trabalho português?
Sim, mas

Concordo que existe uma componente teórica muito forte, mas também sabemos que o ensino em Portugal é considerado de excelência. O que julgo que falta fazer é estreitar a relação entre a academia e o tecido empresarial, promovendo uma troca de saberes e de sensibilidades que permita, ao mesmo tempo, preparar os jovens para o desafio do mercado de trabalho real e, às empresas, absorver e trabalhar para ir ao encontro das tendências e dos desafios do futuro.

Sim, mas

O ensino superior português tem qualidade reconhecida, mas não se atualizou nem adaptou às necessidades do mercado de trabalho. Comparar uma sala de aula de há 50 anos com uma atual é suficiente para perceber este atraso. Ainda assim, no sistema de ensino superior caminhamos a diferentes velocidades, com faculdades e escolas adaptadas e outras que resistem continuamente à mudança.

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