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Imagem de pessoas na fila de um aeroporto. Crédito: Shutterstock

Como os portugueses vêem os imigrantes?

São hoje 10% da população a viver em Portugal e cresceram a um ritmo acelerado desde 2015. Os imigrantes são vistos como ameaça por uma parte siginficativa da população, explica o investigador Rui Costa Lopes. O coordenador do novo Barómetro da Imigração da Fundação, resume as principais conclusões deste inquérito aos portugueses.
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A imigração em Portugal constitui uma realidade complexa e multifacetada marcada por diferentes estruturas sociodemográficas e por motivos e processos migratórios diversos. Tal realidade carece de uma análise sistemática e frequente.

O quarto Barómetro da Fundação procurou contribuir para esta análise, ao auscultar (durante o Verão de 2024) as perceções, opiniões e atitudes da população portuguesa relativamente à imigração e aos imigrantes.

Além de procurar observar as diferentes facetas destes fenómenos, explorando-as sempre que possível em função das diferentes origens dos grupos de imigrantes, este barómetro procurou ainda enriquecer esta análise não só através da comparação com dados de inquéritos anteriores (permitindo aferir sobre a evolução de alguns destes indicadores) como através da exploração de fatores explicativos destas atitudes.

Apesar das atitudes negativas, a maioria dos inquiridos concorda com a concessão de direitos aos imigrantes: o direito a votar como os portugueses, o direito ao reagrupamento familiar e o direito à naturalização.
Investigador Principal do ICS da Universidade de Lisboa

Desta análise aprofundada, salientamos os seguintes resultados:

1. Embora os resultados não revelem uma clara tendência de degradação das atitudes em termos longitudinais, o panorama geral é predominantemente negativo. Uma parte significativa da população expressa oposição à imigração, percecionando-a mais como uma ameaça do que como uma oportunidade, e como trazendo mais desvantagens do que vantagens.

 

2. Apesar de um padrão predominante de atitudes negativas, destaca-se que a maioria dos inquiridos concorda com a concessão de direitos, nomeadamente o direito a votar como os portugueses, o direito ao reagrupamento familiar e o direito à naturalização.

 

3. Existe uma clara segmentação e diferenciação nas atitudes em relação aos vários grupos de imigrantes, dependendo da sua origem. Desses grupos, destacam-se negativamente os imigrantes do subcontinente indiano. Este grupo é alvo de elevada oposição, é fortemente associado a mais desvantagens e é percebido como o mais diferente pela população portuguesa.

 

4. O papel das perceções de ameaça confirma-se como um fator preponderante nas atitudes negativas face à imigração. Contudo, é importante salientar o valor das oportunidades: os inquiridos que acreditam que os imigrantes contribuem positivamente para a economia e são contribuintes líquidos para a Segurança Social tendem a ser os aliados da imigração.

 

5. Um outro aspeto que emerge é o forte papel desempenhado pela confiança interpessoal. Aqueles que acreditam que em geral se pode confiar nos outros são, por norma, mais favoráveis à imigração e aos imigrantes.

 

6. Existe entre os inquiridos um forte enviesamento (por excesso) na perceção do número de imigrantes em Portugal. Tal resultado revela-se particularmente relevante, uma vez que essa falsa perceção é um também forte preditor de atitudes mais desfavoráveis em relação à imigração.

Alguns destes dados estão disponíveis no Press Release da Fundação, que pode ser consultado aqui.

 
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