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Entrevista

Thomas Curran: perfecionismo não é assim tão simples

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«Se olharmos para os gastos atuais em autoajuda, auto-otimização e autoaperfeiçoamento, estamos a atingir números recorde. Nunca se gastou tanto em livros, cursos, sessões de ‘coaching’… e, ao mesmo tempo, as pessoas nunca estiveram tão infelizes, tão deprimidas e ansiosas».

O alerta é dado por Thomas Curran, psicólogo britânico, especialista em perfecionismo, que se mostra preocupado com o rápido crescimento deste fenómeno e com os problemas de saúde que espoleta.

Neste episódio de «Isto não é assim tão simples», o professor da London School of Economics explica que o perfecionismo não se define apenas por padrões pessoais «extremamente elevados» e por «altos níveis de esforço para os atingir», mas também pelas inseguranças que são o fogo que alimenta esses padrões elevados.

Por trás das exigências extremas, há sempre a dúvida sobre se somos suficientes, se somos capazes de estar à altura, sublinha. «Isto é colossal e é motivo de preocupação, porque as inseguranças e as preocupações perfecionistas estão intimamente ligadas a problemas de saúde mental».

Investigador premiado, Curran partilha dados que mostram como as tendências perfecionistas têm vindo a crescer já desde o final do século passado. «Altos níveis de esforço, algo a que chamamos ‘perfecionismo auto-orientado’ – que provém de metas e padrões elevados autodefinidos – estão a aumentar de forma relativamente modesta, mas, mesmo assim, a partir de uma linha de base muito elevada», revela.

Ao mesmo tempo, também as tendências perfecionistas socialmente prescritas - que se prendem com o julgamento alheio e com a necessidade de ser perfeito aos olhos do outro - «estão a crescer exponencialmente» principalmente entre as gerações mais novas.

Esta tendência disparou cerca de 60% desde o final dos anos de 1980. Hoje, há muita necessidade de validação e aprovação pelo 'outro', «há uma «dependência da interação ativa, dos 'likes' e das menções dos outros para a autoestima», reforça.

Hoje, não se trata apenas de exibir bens materiais, mas também de mostrar todo o esforço e sucesso profissional. «Trabalhar mais, gastar mais, produzir mais - tudo isso alimenta a economia», mas, por outro lado, esgota as pessoas. «Este é um tipo de exibição muito diferente, mas não é menos difícil psicologicamente, porque nunca seremos o empreendedor perfeito ou o trabalhador perfeito».

Talvez seja tempo de contrariar esta pressão. «Os grandes pensadores ensinaram-nos algo essencial: contemplar. Sentarmo-nos a ler, a pensar, a não produzir nada imediato pode ser mais produtivo a longo prazo», conclui.

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