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Imagem de uma mulher de costas, pensativa, junto a um lago. Crédito: Keenan Constance/Canva

Saber o que fazer quando nem tudo está bem

As doenças e o mal-estar psicológicos já são considerados a maior epidemia do século XXI. Apesar dos avanços clínicos, estes problemas continuam a afetar cada vez mais pessoas de todas as idades. A coleção de livros «Pela Sua Saúde - Saúde Psicológica e Bem-Estar» é o ponto de partida para um novo podcast sobre «Ser Feliz...». Uma parceria da Fundação com o Observador Lab, que estreia a 18 de novembro.
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Vivemos num período de sobrecarga emocional. O trabalho tornou-se mais exigente, as relações mais frágeis e a solidão mais comum. A digitalização trouxe conforto e conexão, mas também isolamento. E o aumento da esperança de vida impõe novos dilemas sobre como envelhecer com sentido. São estes os pontos de partida para os cinco livros da coleção «Pela Sua Saúde - Saúde Psicológica e Bem-Estar», da Fundação.

Num tempo em que as exigências sociais, económicas e tecnológicas aumentam a pressão sobre a vida quotidiana, esta coleção procura ajudar a compreender, e ganhar instrumentos para agir sobre os desafios da saúde mental.

Com a ciência como pilar de todos os livros, os cinco volumes foram escritos por investigadores ligados à academia nacional e à promoção da literacia em saúde, que, com uma abordagem prática e linguagem acessível, procuram ajudar a identificar problemas e estratégias de intervenção, abordando temas, como: as emoções e o bem-estar, os riscos comportamentais ligados ao estilo de vida, o burnout, a tristeza e a solidão e, por fim, a felicidade e a flexibilidade no envelhecimento O objetivo é claro: dar soluções quando nem tudo está bem. Porque as soluções existem.

Num país onde o burnout, a solidão e a depressão têm expressão crescente, a aposta da Fundação reforça a ideia de que falar de saúde mental é um acto de cidadania. Para quem procura compreender melhor o seu equilíbrio emocional - e aprender a agir sobre ele - estes cinco livros oferecem um ponto de partida sólido: informação clara, escrita com base na ciência e voltada para o bem-estar individual, mas também coletivo.

 

 

  1. «Emoções e Bem-Estar», de Cátia Branquinho

«Muitas vezes sentimo-nos quase que invisíveis emocionalmente. O termos de cuidar dos outros, mas também temos de cuidar de nós. E esta expectativa que surge muito na mulher de ter de ser quase uma super mulher, de ter de estar em todas as frentes e cumprir o seu papel com uma perfeição. (…) Conseguirmos ser boas profissionais, boas mães, boas parceiras e boas amigas é algo praticamente impossível. Nem um malabarista consegue ter todas estas bolas no ar ao mesmo tempo.»

O primeiro volume da coleção, da autoria de Cátia Branquinho, analisa o papel das emoções na construção do bem-estar psicológico, com especial foco no género feminino. A autora, formada em Ciências da Educação, investigadora e professora na Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa, parte da evidência de que as mulheres, em todas as idades, continuam a relatar níveis mais baixos de bem-estar e maiores dificuldades emocionais, apesar dos progressos sociais.

Este livro discute conceitos fundamentais como a regulação emocional, o equilíbrio psicológico e a Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT).

A escola é aqui apresentada como um espaço essencial de promoção da saúde emocional, com propostas concretas para educadores e decisores. Este é, sobretudo, um convite à ação, que parte da ideia de que, compreender e gerir as emoções, são passos essenciais para o bem-estar.

 

 

2. «Riscos Comportamentais e Saúde», de Marina Carvalho

«A maior parte das pessoas tem informação correta de que fumar, beber em excesso ou não praticar atividade física faz mal. Mas não deixa de fumar, ou não passa a praticar atividade física, só porque tem essa informação. (…) É o tema da recompensa. Qualquer comportamento de risco tem um ganho imediato. (…) O problema é que a maior parte destes comportamentos têm consequências a médio e a longo prazo. [É preciso] promover competências socioemocionais - a capacidade de dizer que não.»

O segundo volume, de Marina Carvalho, analisa os comportamentos que colocam a saúde em risco e as condições sociais que os alimentam. Tabagismo, consumo de álcool, sedentarismo, alimentação inadequada ou exposição à violência são tratados, não como falhas individuais, mas como fenómenos complexos, moldados por fatores culturais, económicos e até políticos.

A autora, psicóloga clínica, investigadora e professora no Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes, propõe um olhar abrangente sobre a mudança comportamental, defendendo que a literacia em saúde e políticas públicas eficazes são tão determinantes quanto a vontade pessoal - o aprender a dizer «não».

O texto destaca a importância de atuar cedo - sobretudo na adolescência - e de criar ambientes que favoreçam escolhas saudáveis.

 

3. «Burnout: Uma Pandemia», de Tânia Gaspar

»A nossa sociedade está muito acelerada e exigente. É quase como se o que nós queremos fosse o máximo possível. Nunca chega. Nunca é suficiente. (…) O burnout é a pandemia dos tempos modernos. Por causa da rapidez, da aceleração e da exigência - a externa e a interna, aquela que nós próprios colocamos em nós.»

Tânia Gaspar assina o terceiro volume desta coleção, focando o mundo do trabalho e a síndrome de burnout. A autora explora a interligação entre stress, saúde mental e produtividade num cenário laboral em rápida transformação, marcado pela digitalização, pela pressão de desempenho e pela fragilidade das relações humanas.

O livro descreve as causas e consequências do burnout, mas sobretudo apresenta soluções para o prevenir e combater: ambientes de trabalho saudáveis, lideranças empáticas e políticas organizacionais preventivas. Ao defender que «prevenir é investir», a psicóloga e investigadora especialista em saúde pública, evidencia as vantagens humanas e económicas das estratégias de promoção da saúde mental no trabalho.

 

4. «Tristeza e Solidão», de Gina Tomé

«Estamos, se quisermos, 24 horas por dia conectados com alguém. Diz-se que nunca estivemos tão conectados, mas também nunca nos sentimos tão sós. (…) Não é a quantidade de pessoas que tenho à minha volta, mas a qualidade da relação que faz esta diferença.»

 

O quarto volume da coleção, escrito por Gina Tomé, analisa dois sentimentos universais - a tristeza e a solidão - que, quando mal compreendidos, podem evoluir para sofrimento psicológico prolongado. A autora recusa a ideia de que a solidão é exclusiva da velhice e demonstra que pode atravessar todas as idades e contextos de vida.

Neste livro, a psicóloga clínica, investigadora e professora na Universidade Europeia propõe compreender estas experiências não apenas como sintomas, mas como oportunidades de reorganização e crescimento pessoal.

Numa era em que a solidão é considerada uma das novas pandemias” das sociedades modernas, este livro apresenta ainda recomendações práticas para cidadãos, profissionais e decisores, defendendo políticas públicas que combatam o isolamento social e promovam redes de apoio.

 

 

 

5. Felicidade e Flexibilidade no Envelhecimento”, de Margarida Gaspar de Matos

 

Envelhecer bem é manter-nos alinhados com aquilo que valorizamos na vida. [...] Se o envelhecimento for uma aproximação constante das coisas que para nós são importantes, é um envelhecer bem.”

 

A fechar a coleção, Margarida Gaspar de Matos - que é também coordenadora de todo o projeto - aborda o envelhecimento como desafio, mas também oportunidade.

Partindo da evidência demográfica de que Portugal é um dos países mais envelhecidos da Europa, a psicóloga clínica, professora na Universidade Católica Portuguesa e coordenadora científica no Observatório da Saúde Psicológica e Bem-estar da DGEEC, propõe um olhar positivo sobre as idades maiores”, centrado na flexibilidade psicológica - a capacidade de adaptação e reinvenção perante as mudanças da vida.

Este livro discute o idadismo e analisa o papel dos cuidadores formais e informais. Apresenta ainda propostas de políticas públicas para promover o envelhecimento ativo e combater a exclusão social. Mais do que um guia teórico, é um apelo à ação coletiva para garantir que envelhecer possa ser, de facto, uma fase de desenvolvimento humano pleno.

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