A corrupção é muitas vezes apresentada como um problema interno de cada país. Mas o professor de Ciência Política no CERI–Sciences Po Ricardo Soares de Oliveira desafia essa visão. «Ao longos dos anos, apercebemo-nos de que é melhor pensarmos na corrupção como uma questão de governação global e, em muitos aspetos, como uma característica da economia global».
Neste episódio de «Isto não é assim tão simples», o politólogo mostra como o sistema financeiro internacional cria condições para que práticas ilegais floresçam através de mecanismos legais. Afinal, a fronteira entre o que é legal e o que é ilegal pode ser mais ténue do que parece.
Tendo em conta esta realidade, o investigador em Oxford expõe também uma das principais preocupações atuais dos académicos: a forma como algumas regiões lideram (ou abandonam) a agenda anticorrupção.
Reconhecendo as origens ocidentais na luta contra a corrupção, o especialista não deixa de lamentar, ainda assim, a desunião, a incoerência e a hipocrisia dos países do ocidente nesta matéria. O Reino Unido e a Suíça, por exemplo, «procuraram defender os seus setores financeiros, em particular os ‘offshore’, recusando uma reforma financeira, especialmente ao nível da transparência».
O especialista nota, no entanto, que, nos últimos cinco anos, a hipocrisia tem dado lugar a muito ceticismo, não só face às leis da transparência, como também ao papel das ONG. «Estamos a viver um recuo na capacidade de influenciar decisores a adotar medidas reformistas», alerta o politólogo.
Num cenário de transformação constante, surgem novos desafios como as criptomoedas, que acrescentam camadas de risco e escapam aos mecanismos tradicionais de controlo - mecanismos que, segundo Soares de Oliveira, já não eram são eficazes em muitos casos.
Perfil de Ricardo Soares de Oliveira, Universidade de Oxford
Livro «Corrupção», de Luis de Sousa (FFMS)
«Corrupção em Portugal: Definições, Sinais e Principais Fontes», de André Corrêa d’Almeida (Artigo Atual_Mentes, FFMS)
Ricardo Soares de Oliveira: «As elites angolanas não confiam no futuro do país» (jornal Público)
«Corrupção: um jogo de sombras», de António João Maia (Artigo Atual_Mentes, FFMS)
«Um acto de corrupção tem na sua génese uma profunda dose de egoísmo» (Artigo Atual_Mentes, FFMS)
«É possível combater a corrupção?» (FFMS Play, Praça da Fundação)
Grandes temas, grandes nomes num novo programa dedicado a entrevistas com personalidades internacionais ligadas à política, economia e sociedade. Conduzidas pelo jornalista Pedro Pinto, estas conversas, com convidados especiais, querem simplificar e ajudar a desmistificar alguns dos temas mais importantes da atualidade. Todos os meses, no site da Fundação.