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Imagem de várias figuras em barro do galo de Barcelos, numa loja de artigos para turistas.

Galo de Barcelos: de lenda a ícone do turismo

Como o galo que se tornou objecto-fetiche do turismo nacional, capaz de ser reproduzido em grandes quantidades e vendido como recordação. Uma das muitas histórias que encontra no novo livro «Emblemas de Portugal», de Miguel Metelo de Seixas.
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Ao falar do galo de Barcelos, torna-se necessário estabelecer de forma nítida a diferença entre a lenda que o envolve e a sua posterior projecção icónica.

A origem lendária do galo é, por um lado, sobejamente conhecida: segundo este relato, um peregrino a caminho de Santiago de Compostela tinha sido acusado de um crime que não cometera; salvou-se da forca ao indicar que provaria a sua inocência ao fazer cantar um galo de pedra, o que de facto aconteceu, levando à sua libertação.

Mas esta lenda permaneceu em relativa obscuridade até ao século xix, quando os oleiros de Barcelos começaram a representá-la em figuras de barro colorido. Tais figuras foram ganhando popularidade, ainda que circunscrita às terras minhotas. Caberia ao Estado Novo difundi-las.

Com efeito, a representação do galo de Barcelos começou a ganhar projecção quando uma sua representação em barro polícromo foi exibida na exposição de arte popular portuguesa organizada em Genebra, em 1935.

O sucesso desta iniciativa foi tal que a exposição foi repetida um ano mais tarde, em Lisboa. Tal como muitas outras exposições que se lhes seguiram, estas duas inseriam-se na actividade do Secretariado de Propaganda Nacional, dirigido por António Ferro desde a sua fundação em 1933.

O galo de Barcelos começou a ganhar projecção quando foi representado em barro policromado e exibida na exposição de arte popular portuguesa em 1935.
Autor do livro «Emblemas de Portugal»

Uma das preocupações deste dirigente consistia em recuperar ou reinventar as tradições populares portuguesas, numa vertente claramente folclorista, tendente a valorizar o que era apresentado como genuinamente nacional. Criava-se, assim, um conceito de «arte popular» ao serviço do imaginário nacional tal como o concebiam os ideólogos do Estado Novo.

O galo de Barcelos encaixava perfeitamente nestes objectivos. Tratava-se de um produto simples, que se ligava ao gosto decorativo minhoto e que se apresentava como tendo raízes simultaneamente arcaicas e religiosas, baseadas num relato moralmente edificante.

Estas raízes etno-históricas fizeram com que a imagem do galo barcelense fosse projectada pelo Estado Novo como emblema da emigração portuguesa para o mundo, funcionando como elemento visual de harmonia das comunidades portuguesas no estrangeiro.

 

 

O galo de Barcelos encaixava nos objetivos do Estado Novo de criar um conceito de arte popular.
Autor do livro «Emblemas de Portugal»

Ao mesmo tempo, o galo de Barcelos serviu os propósitos de um país que pretendia abrir-se ao turismo tanto interno como externo, assumindo-se como objecto-fetiche, capaz de ser reproduzido em grandes quantidades e de ser vendido como recordação.

Sem desprimor de se apresentar como um produto típico do artesanato popular, o galo de Barcelos foi, assim, produzido industrialmente, tornando-se numa das imagens mais difundidas da portugalidade durante o século XX.

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