
Cursos Profissionais: um motor para o emprego e o empreendedorismo?
Nas últimas décadas, Portugal tem reformulado o seu sistema educativo, promovendo percursos mais diversificados e alinhados com as necessidades dos jovens.
Um dos pilares desta mudança foi a expansão dos cursos profissionais no ensino secundário. O Policy Paper «A Expansão dos Cursos Profissionais em Portugal: Que impacto na educação, no emprego e no empreendedorismo?», recentemente publicado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, revela os impactos positivos desta aposta, mas também expõe fragilidades a superar.
Entre 2006 e 2018, foram criados mais de 4.300 cursos profissionais em Portugal continental, sobretudo nas áreas de Informática, Hotelaria e Turismo. Esta expansão esteve associada a uma redução expressiva da taxa de retenção e abandono escolar, que passou de 39% em 2000 para menos de 10% em 2023.
Estes cursos têm-se revelado eficazes na transição para o mercado de trabalho: 72% dos diplomados que não prosseguem estudos encontram emprego em dois anos — valor bem acima dos 56% registados na via geral.
Com base em microdados do sistema educativo e do mercado de trabalho, conclui-se que, três anos após a conclusão das primeiras turmas, houve um aumento médio de 20% no emprego nas áreas profissionais associadas, a nível regional. Contudo, este efeito é menos pronunciado ao nível do município onde o curso foi criado, refletindo a mobilidade geográfica dos formandos.
A expansão do ensino profissional também impulsionou a criação de empresas. Verificou-se um crescimento significativo na constituição de sociedades e, em menor grau, de empresas em nome individual nos setores associados aos cursos, o que sugere que o empreendedorismo jovem enfrenta desafios adicionais.
Ainda assim, persistem limitações importantes. Muitos diplomados acabam por trabalhar fora da sua área de formação, revelando um desfasamento entre a oferta educativa e as reais necessidades do mercado.
Além disso, a falta de informação clara sobre a empregabilidade de cada curso dificulta escolhas informadas por parte dos alunos no momento de transição para o ensino secundário. Este é um ponto-chave em que o sistema estatístico nacional poderá desempenhar um papel crucial, quando disponibilizar a interligação entre os dados do sistema educativo e do mercado de trabalho.
A mensagem central é clara: os cursos profissionais contribuíram para um sistema educativo mais inclusivo e para o desenvolvimento regional.
Para maximizar o seu impacto, é crucial reforçar a ligação entre escolas, empresas e entidades regionais, atualizar regularmente os currículos e valorizar publicamente estas vias de ensino. Com os atuais investimentos na formação profissional, é fundamental dispor de dados mais robustos que assegurem mais qualidade e melhores oportunidades para os jovens — e para a economia nacional.