A Fundação deseja-lhe boas festas
Em 2016, nas páginas do The New York Times, foi aventada a surpreendente hipótese de a representação mais remota de Maria ser um fragmento vindo de uma igreja de Deir ez-Zor, no leste da Síria, do século III, hoje conservado na Yale University Art Gallery.
Pensava-se que a pintura ilustraria o encontro entre Cristo e a samaritana arrependida, relatado no Evangelho de João (Jo 4, 4-30), mas, como representações dessa cena colocam tradicionalmente as duas personagens em diálogo, o que aqui não sucede, reputados especialistas levantaram a suposição de que se poderia tratar da Virgem Maria ou, mais precisamente, de uma imagem da Anunciação, tal como descrita no apócrifo de Tiago (XI-1-3):
E Maria pegou numa bilha e saiu para tirar água. E eis que uma voz lhe diz: «Salve, favorecida! O Senhor está contigo! És bendita entre as mulheres.» E Maria olhou para a direita e para a esquerda, para ver donde vinha esta voz. E, tendo ficado receosa, entrou na casa dela e pousou a bilha; e, pegando na púrpura, sentou-se na cadeira dela e puxou-a.
E eis que um anjo do Senhor estava diante dela, dizendo: «Não temas, Maria. Pois encontraste graça diante do Amo de todos. Conceberás a partir do Verbo d’Ele.»
(na tradução de Frederico Lourenço: Evangelhos Apócrifos Gregos e Latinos, Lisboa, Quetzal Editores, 2022).
A ideia de que a Virgem se fez grávida a partir da Palavra de Deus levou alguns padres da Igreja a afirmarem que Maria terá concebido através do ouvido, por uma obediente audição de um mandamento celeste, daí derivando, segundo se diz, a expressão popular «emprenhar pelos ouvidos». Si non è vero, è molto ben trovato.
A todos os amigos da Fundação, Boas Festas.
Crédito da imagem: Yale University Art Gallery