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Imagem da pintura de Sandro Boticelli, Adoração dos Magos (1470-1475)

«Fé na esperança»

Somos hoje confrontados, diariamente, com imagens de devastação e caos na Ucrânia, no Médio Oriente ou noutros lugares de guerra. Nas pinturas de Botticelli ou de Altordfer, há ruínas e há catástrofe, mas há também há luz. Nesta quadra é preciso ter fé na esperança, escreve o diretor de Publicações da Fundação, António Araújo.
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A partir de meados do século XV, os pintores dos Países Baixos deixaram de representar o presépio num estábulo ou numa gruta, passando a colocá-lo no meio de um edifício em ruínas, ou vários.

Com isso, pretenderam mostrar que, sobre os escombros de uma época antiga, marcada pelo paganismo ou pelas falsas crenças, o nascimento de Jesus assinalava o início de um tempo novo, radicalmente diferente. Cristo nascia, assim, não apenas no meio da pobreza, até então figurada através do estábulo e do berço de palha, mas entre ruínas e detritos, no seio da devastação e do caos.

No Renascimento, o simbolismo das ruínas foi levado ao extremo, como vemos em Adoração dos Magos, de Botticelli, pintado em 1470-1475, com Maria e o Menino cercados por uma multidão de gente, com a tela dominada pelos restos de um edifício clássico, provavelmente romano. Do mesmo autor, outra Adoração dos Magos, esta de 1475, e igualmente ruinosa, hoje patente nos Uffizi.

Imagem do quadro de Sandro Botticelli, Adoração dos Magos, 1475
Adoração dos Magos, de Sandro Botticelli, 1475.

Na Natividade de Albrecht Altdorfer, pintada cerca de 1513, quase não vislumbramos José, Maria e Jesus, resguardados que estão atrás de uma periclitante parede de tijolos, que ameaça desabar sobre eles.

Noutra Natividade, do mesmo pintor, feita em 1507, um registo idêntico, noturno e sombrio, com seu quê de tenebroso, ameaçador.

Imagem de duas pinturas da natividade de Albrecht Altdorfer
Natividades de Albrecht Altdorfer: 1513 (esq.), e cerca de 1507 (dir.).

Somos hoje confrontados, diariamente, com imagens de devastação e caos. Vindas da Ucrânia, do Médio Oriente ou de outros lugares de guerra, fotografias trágicas de edifícios esventrados, ruas inteiras em escombros, casas em queda iminente. Nos nossos dias, enquanto o mundo se desmorona, o simbolismo das ruínas adquire, assim, um outro e mais vasto significado, seja para os crentes, seja para os não-crentes. Nas pinturas de Botticelli ou de Altordfer, há ruínas e há catástrofe, mas há também esperança e há luz, e crença num tempo novo. Nem que seja por momentos – o breve instante desta quadra –, tenhamos fé na esperança, pois outra coisa não temos.

Boas Festas, um Feliz Natal. 

 

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