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Imagem de mulher a comprar vegetais numa praça. Crédito: Canva

Consumo e poder de compra em 5 gráficos

Com salários médios na cauda da Europa, que efeitos teve a infação no poder de compra dos portugueses? Quais são os grandes gastos que pesam no bolso das famílias portuguesas? Um olhar sobre o consumo e os salários nacionais em cinco gráficos.
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  • Quais foram os efeitos da inflação no poder de compra dos portugueses?

Quando os preços sobrem e os salários não acompanham esse crescimento, o poder de compra cai. Uma leitura da evolução dos salários não pode, por isso, ser feita sem ter em conta o aumento do preços de produtos e serviços duante esse período.

A evolução dos salários brutos em Portugal entre 2008 e 2023 pode ser vista no gráfico abaixo. A linha a vermelho mostra o crescimento dos ganhos salariais sem ter em conta a inflação. A verde é possível ver a evolução real dos salários, ou seja, o seu valor descontando a evolução do custo de vida.

O aumento da inflação em 2022 fez com que desaparecessem parte dos ganhos conseguidos no período anterior (2014 e 2021), onde o ganho real dos salários atingiu os 10,7%.

Em 2022, assistiu-se a uma nova fase: Em termos reais, e perante a escalada dos preços, os salários tiveram uma quebra de 2%. Porém, no ano seguinte, foi possível inciar uma recuperação dessa perda, com um crescimento de 0,7% face a 2021.

Segundo a OCDE, Portugal foi mesmo um dos países da União Europeia com um dos aumentos mais significativos do rendimento disponível real das famílias nos últimos anos.

Contudo, e sendo o salário a maior fonte de rendimento dos portugueses, a sua estagnação - ou mesmo contração - gera carências económicas e enormes pressões sobre a sociedade. Em Portugal, um em cada 10 trabalhadores vive em situação de pobreza. Ou seja mesmo estando a trabalhar, têm um rendimento que não lhes permite viver acima do limiar de pobreza. 

  • Como se comparam os salários nacionais com os de outros países europeus

Portugal está entre os países da União Europeia com salários mais baixos, tendo sido ultrapassado por estados-membros mais recentes como a Eslovénia, a Lituânia ou a Letónia. Continua, por isso, muito distante dos níveis salariais de países como a Alemanha, a Dinamarca, a Suécia ou a Bélgica.

Em 2023, em paridades de poder de compra, os salários médios anuais dos espanhóis eram 135% dos portugueses e, se olharmos para a Alemanha, esse valor aumenta para 178%.

Os baixos salários nacionais explicam-se pela especialização em produtos que têm pouco valor acrescentado, pelos baixos níveis educacionais (da população em geral, mas também de empresários e gestores) e por um tecido empresarial maioritariamente composto por microempresas, descapitalizadas e com pequeno potencial de crescimento.  

Por outro lado, a entrada da economia chinesa na Organização Mundial do Comércio (2001) e a adesão de países do antigo bloco de leste à União Europeia, geraram uma forte concorrência em setores industriais de baixo valor acrescentado, como o têxtil, e contribuiu para a estagnação económica que se seguiu nos anos seguintes. Também a aposta continuada em setores de bens não transacionáveis, como a restauração, que são menos produtivos e exigem muitas horas de trabalho para criar valor.

A recente recuperação dos salários pode ser sinal de que a economia nacional já «curou» as feridas deixadas pelas falências de empresas e destruição de empregos, durante o programa de assistência económico-finaceira da troika (2011-2014). Contudo, parte desse crescimento assenta ainda em setores e empresas pouco produtivas, que pagam salários baixos.

  • Salários: Mulheres e jovens são os dois grupos mais prejudicados

As disparidades salariais em Portugal acentuam-se entre as mulheres e os jovens, que recebem em regra valores mais baixos.

Os salários das mulheres são 16,2% inferiores aos dos homens. Esta diferença de valor nao está ligada a disparidades ligadas à educação ou à experiência. Vários estudos mostram que parte da diferença consegue ser reduzida pela escolha da profissão/área de atividade. Isto quer dizer que a seleção da profissão a seguir por homens e mulheres resulta em salários diferenciados. Por outro lado, mesmo tendo em conta esta questão, persistem diferenças salariais entre homens e mulheres sem aparente explicação, o que sugere discriminação no mercado laboral.

 

Também mais baixos, são os salários médicos dos jovens, Os jovens continuam a ter um salário médio 18,5% mais baixo do que os trabalhadores com idades entre os 35 e os 50 anos. Além disso, o aumento do custo da habitação e da alimentação torna cada vez mais difícil iniciarem o seu processo de independência ou autonomia face aos pais.

Parte da explicação para as diferenças salariais entre os trabalhadores mais novos e os mais velhos relaciona-se com o ciclo de vida e a evolução do salário ao longo da carreira de um indivíduo. Isso explica-se em parte pela acumulação de competências e experiência, além da formação. Essas diferenças intergeracionais são ainda mais acentuadas quanto maior é o nível educacional. Ou seja, um trabalhador mais qualificado tem, em média, um crescimento salarial mais acentuado do que um trabalhador com nível de educação mais baixo.

Porém, temos tido sinais de melhoria das desigualdades salariais, para as mulheres e para os jovens. Entre 2008 e 2023, tanto o rendimento das mulheres como o dos mais jovens aumentou, reduzindo a discrepância face aos homens ou a trabalhadores mais velhos, respetivamente. Os salários médios reais dos mais jovens cresceram cerca de 15% entre 2008 e 2023, enquanto o crescimento foi de cerca de 13% para o grupo etário entre os 36-50 anos.

No mesmo período, o salário médio real dos homens aumentou 11%, enquanto o das mulheres aumentou 21%. Um aumento mais forte dos salários reais dos mais jovens e das mulheres significa uma maior uniformização ao nível dos salários e uma diminuição das desigualdades.

  • Como gastam as famílias o seu orçamento famíliar?

As famílias portuguesas têm um padrão de consumo muito semelhante à média europeia. Gastam uma grande parte do seu orçamento familiar em habitação, que representa quase sempre a maior fatia, seguida de alimentação e transportes. 44% do orçamento é utilizado em gastos de habitação, o que se compara com 38% de despesas com habitação na média da União Europeia.

Comparando com os outros europeus, em média, os portugueses gastam muito menos em cultura e lazer, além de também despenderem menos em alimentação. É de notar que a habitação, a alimentação e os transportes tomam 69% do orçamento das famílias portuguesas. Em concreto, são, em média, mais de 16 mil euros por ano, de um total de 24 mil euros de despesas. Só para a renda ou prestação paga ao banco, além das contas de luz, água e gás, vão mais de 10 mil euros por ano, aos quais se somam 3 mil euros para alimentação e quase mais 3 mil euros destinados a pagar transportes, em média.

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Portuguese, Portugal