5 Leituras #23, por Pedro Galvão: «Como o mundo foi salvo»

Novo artigo da rubrica «5 Leituras», em que um autor da Fundação sugere a leitura de cinco artigos ou a visualização de vídeos publicados na internet, em língua portuguesa, espanhola ou inglesa. Desta vez publicamos as sugestões de Pedro Galvão, autor do ensaio «Ética com razões».

How to Be Good
Artigo de Larissa MacFarquhar para a The New Yorker
(Em língua inglesa)

Morreu há pouco mais de um ano. Derek Parfit contribuiu, e de que maneira, para revitalizar a ética filosófica. O seu Reasons and Persons, publicado em 1984, trouxe problemas novos e perspectivas novas, que põem em causa muito do senso comum moral. É um livro longo e complexo, mas claríssimo da primeira à última página. Muito do poder inventivo de Parfit revela-se na concepção de situações imaginárias, que são usadas perspicazmente para levantar questões e avaliar as nossas convicções morais. Neste artigo magnífico, Larissa MacFarquhar consegue explicar muito bem algumas das ideias centrais de Parfit, ao mesmo tempo que nos leva a conhecer a sua vida e a sua personalidade verdadeiramente singular.

The Badness of Death, Part II: The Deprivation Account
Aula de Shelly Kagan na Universidade de Yale
(Em língua inglesa)

Se a morte é um mal para quem morre, quando é um mal? Parece não poder ser um mal enquanto estamos vivos. Mas, depois de termos morrido, como poderá algo ser mau para nós? A morte, portanto, na verdade nunca é um mal para quem morre. Este raciocínio desconcertante, que remonta a Epicuro, é uma das perspectivas que Shelly Kagan discute aqui, numa aula da sua cadeira sobre filosofia da morte em Yale.  Deve-se a Kagan alguma da melhor ética filosófica das últimas décadas. Ele podia ser um investigador brilhante, mas um professor medíocre. Os vídeos das suas aulas arredam absolutamente esta possibilidade. PowerPoint para quê? Valendo-se apenas de giz, informal no estilo, ao mesmo tempo rigoroso e acessível na substância, Kagan dá também uma bela lição àqueles que, sucumbindo às modas pedagógicas, desdenham as aulas expositivas.

Rethinking the ‘Just War’
Artigo de Jeff McMahan para o The New York Times
(Em língua inglesa)           

Quando é que, moralmente, se justifica entrar em guerra? E que conduta será eticamente admissível durante uma guerra? A chamada teoria da guerra justa oferece-nos respostas a estas duas questões. Jeff McMahan — um dos filósofos que melhor tem pensado as questões de ética aplicada — começa por elucidar esta teoria. Depois, sobretudo na segunda parte do artigo, mostra-nos como esta é insatisfatória. Uma boa parte do problema reside numa dissociação excessiva das duas questões.

Putting Philosophy to Work
Entrevista a Susan Haack em Psychology Today
(Em língua inglesa)

Nesta entrevista que só peca por ser curta, Susan Haack, filósofa da ciência e não só, deixa-nos entrever as suas perspectivas sobre o ensino, a integridade académica e o feminismo. Alega, e bem, que aquele feminismo muito focado na identidade das mulheres como grupo acaba por fomentar estereótipos sexistas. Que eu saiba, Haack é uma autora sem livros publicados em Portugal. É uma pena. O seu Manifesto of a Passionate Moderate: Unfashionable Essays, além de acessível, mantém-se actual. Demasiado actual, na verdade.

Como o Mundo Foi Salvo
Conto de Stanislaw Lem
(Em língua portuguesa)

Dois construtores rivais, Trurl e Kaplaucius, protagonizam os contos que constituem The Cyberiad, um dos melhores livros do melhor escritor de ficção científica de toda a galáxia. Este é o primeiro conto, muito curto. Um dia lembrei-me de o traduzir e o resultado — que não me pareceu desanimador — ficou no meu site. Esta, enfim, foi a minha tentativa de incluir na lista alguma coisa que não fosse de filosofia. Mas foi uma tentativa parcialmente falhada, visto que dois excertos de The Cyberiad integram uma das antologias de filosofia da mente mais marcantes: The Mind’s I, organizada por Douglas Hofstadter e Daniel Dennett.

Pedro Galvão é autor do ensaio ‘Ética com razões’, publicado pela Fundação.

O acordo ortográfico utilizado neste artigo foi definido pelo autor