David Petraeus: guerra e paz não é assim tão simples

«O mundo ocidental enfrenta hoje desafios mais complexos do que em qualquer outra altura do passado». Quem o diz é o ex-diretor da CIA, David Petraeus, o convidado desta edição do programa «Isto não é assim tão simples». Nesta conversa, o antigo general norte-americano analisa o contexto geopolítico à luz dos seus 37 anos no exército dos EUA e da experiência em múltiplas guerras.

«Nós [EUA, os seus aliados e parceiros] somos o artista de circo que mantém muitos pratos a rodar sobre muitas varas», ilustra. Segundo Petraeus, a «relação dos EUA e do Ocidente com a China é o prato maior e mais importante», uma vez que é preciso garantir boas relações para evitar o agravamento da tensão, desconfiança e concorrência entre as grandes potências.

Mas ao mesmo tempo, os EUA e os seus aliados têm também de lidar com o prato da Rússia, que é «o mais ameaçador».

Quanto ao futuro da Ucrânia invadida, o autor do livro «Conflict: The Evolution of Warfare from 1945 to Ukraine» escuda-se com um «depende»: «depende da continuação da ajuda dos EUA, que já vai nos 61 mil milhões de dólares, da contribuição da EU – que é de 50 mil milhões –, da capacidade ucraniana de acelerar a formação de militares e dos avanços tecnológicos de ambos os lados do conflito», argumenta.

Mantendo a alegoria ao circo, o general realça que existem outros «pratos» em equilíbrio, que não podem ser descurados e que devem continuar a «girar» sem grandes oscilações. É o caso da aposta nuclear da Coreia do Norte e o do Irão, «que tem expandido o seu programa nuclear, de drones e de mísseis, e apoiado milícias malignas xiitas e até sunitas, como é o caso do Hamas».

O fundador e atual diretor do KKR Global Institute – uma empresa que avalia o risco geopolítico em vários negócios – acredita que «passámos de uma globalização benigna, em que a economia guiava a geopolítica, e as barreiras ao comércio, ao investimento, aos fluxos de dados e de capital estavam todas a diminuir», para uma nova realidade. «Agora, é cada vez mais a geopolítica que guia a economia. As barreiras têm aumentado e veremos que vão continuar a aumentar», diz.

O perito defende que «a globalização se tornou lenta, quase fixa» e que em muitos aspetos o mundo assiste a uma «regionalização» económica.

Questionado sobre o maior desafio que a humanidade enfrenta, David Petraeus destaca a «desigualdade de riqueza entre o Norte e o Sul global». Alega, contudo, que os conflitos em vários pontos do globo, o crescimento de grupos extremistas, de organizações criminosas, de ciberameaças, de migrações forçadas pelas alterações climáticas, e do populismo, seriam respostas igualmente válidas.