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Peter Frankopan: planeta em mudança não é assim tão simples

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Como pode um historiador ajudar-nos a compreender um planeta em mudança? Dando-nos contexto e perspetiva.

Grande defensor de que se conhecermos bem o passado poderemos encontrar respostas para o futuro, o historiador britânico Peter Frankopan usa a sua investigação e sentido de humor para lembrar que «a maior parte da experiência humana consiste no fracasso».

Esta é, aliás, uma tendência que se repete até hoje: «quando olhamos para as coisas que resultam, grande parte delas, infelizmente, continuam a ser pura sorte».

Mas há outros fatores que contribuíram para fazer a história da humanidade. «Recuando no tempo profundo, uma das razões para o sucesso foi a resiliência», explica o autor do best-seller «As Rotas da Seda», garantindo que esta continua a ser uma arma poderosa para combater os desafios atuais.

Num mundo polarizado, o professor de História Global garante que a cooperação é importante para lidar com qualquer crise, mostrando-se, contudo, pouco confiante de que as superpotências consigam juntar-se à mesa.

O especialista alerta que, muitas vezes, problemas simples estão a ser engrandecidos para «alargar o poder individual». E dá o exemplo da forma com o Ocidente olha o número de migrantes, que se mantém inalterado: Hoje, tal como em 1960, os migrantes e refugiados correspondem a 3% da população mundial.

Essa identificação errada dos problemas deve-se ao facto de queremos «respostas simples, e de não termos paciência e tolerância». E isso faz crescer populismos e visões extremistas.

A Europa tem mostrado também dificuldade em compreender realidades mais distantes da sua. «Há zonas do mundo às quais parece que virámos as costas porque nós, presumo, achamos que somos superiores a um nível cultural e económico», esclarece. Enquanto esses países estão «a observar a forma como fazemos as coisas, nós estamos ocupados a olhar para o nosso próprio reflexo no espelho, e a queixarmo-nos do facto de o mundo estar a mudar».

Essa mudança está a ser impulsionada por várias ameaças. Os conflitos entre potências e a conjuntura geopolítica atual – que pode ficar mais frágil (ou não) com os resultados das eleições americanas –, as alterações climáticas e as doenças e possíveis pandemias que podem chegar. 

O historiador alerta que, no futuro, o cenário que se avizinha não é favorável. No Mediterrâneo há novas doenças identificadas nos últimos 18 meses. Em Lisboa, há previsões que apontam um aumento de oito graus das temperaturas. No Vietname, 20% do território deverá estar submerso nos próximos 15 anos.

Por isso, garante o especialista, é importante «prevenir» e «planear», para responder melhor. «É necessário formar socorristas para saberem como salvar pessoas das inundações, formar jovens médicos nos hospitais e ensiná-los sobre coisas para as quais as gerações anteriores não estavam preparadas», exemplifica.

E a dose certa de otimismo também será crucial. «Aqui, na Europa, somos cronicamente deprimidos e talvez haja boas razões para isso». Mas, com a sua experiência de trabalho noutras zonas do mundo, leva Frankopan a acreditar que o otimismo é um bom motor de «inovação, de cooperação, de colaboração e de investimento» para o futuro.

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