Encerramento de multinacionais
Nas últimas décadas, as subsidiárias das empresas multinacionais (EMN), isto é, aquelas empresas em que uma parte do capital social pertence a uma empresa-mãe com capital social estrangeiro, converteram-se em pilares fundamentais da economia dos países de acolhimento. O encerramento de uma subsidiária pode acarretar perdas avultadas, quer em termos financeiros, quer em termos de prestígio para a empresa, assim como problemas significativos tanto para os trabalhadores como para as comunidades no seu todo.
Veja-se, no nosso país, o exemplo da Rohde, uma subsidiária alemã que operava no setor do calçado. A empresa encontrava-se em Portugal desde 1984 e tinha a sua produção orientada para a exportação. A Rohde contava com duas fábricas: uma em Santa Maria da Feira e outra em Pinhel. Detinha ainda cinco lojas próprias: quatro na zona norte e uma em Lisboa. A empresa acabaria por fechar as instalações produtivas de Pinhel (em 2006) e de Santa Maria da Feira (em 2010). Em Pinhel, a Rohde chegou a contar com mais de 700 trabalhadores e, quando encerrou, a unidade empregava cerca de 370 funcionários, o que representava aproximadamente 16% da população ativa do concelho. Em 2010, o encerramento da fábrica de Santa Maria da Feira levou à destruição de aproximadamente 970 postos de trabalho. Este caso suscitou polémica visto que a subsidiária recebeu vários apoios nos últimos anos, nomeadamente, uma subvenção do Fundo Europeu de Ajustamento à Globalização (FEG) de 1,4 milhões de euros.
Muito poucos estudos, porém, investigam as consequências que os encerramentos de subsidiárias de EMN exercem sobre o país de acolhimento. Este estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos visa colmatar essa escassez: compreender os fatores subjacentes à longevidade das subsidiárias das EMN é fundamental, não só para os trabalhadores das subsidiárias, como para os gestores das EMN que fazem avultados investimentos e ainda para os decisores políticos que se veem a braços com as consequências do fecho.
Para esse efeito, sintetiza três trabalhos empíricos elaborados por uma equipa de investigadores de várias universidades sobre o encerramento de subsidiárias de multinacionais em Portugal:
- um primeiro sobre o efeito das estratégias de capital humano inicial, quando as empresas multinacionais se instalam em Portugal;
- um segundo sobre o efeito do encerramento de EMN nas jovens empresas nacionais;
- um terceiro sobre como é afetado o desempenho das subsidiárias de empresas multinacionais quando os seus gestores têm experiência enquanto empreendedores.
O objetivo deste estudo foi perceber que efeitos acarreta este fenómeno e que marcas, positivas e negativas, deixa nos antigos trabalhadores, nas empresas que operam na mesma região da subsidiária encerrada e nas próprias regiões em que as empresas multinacionais estão mais representadas, contribuindo assim a Fundação para um conhecimento mais aprofundado sobre esta realidade da economia portuguesa.