Ondas de calor
A primeira vez que muitas pessoas ouviram falar das alterações climáticas terá sido seguramente sobre expressões como aquecimento global e efeito de estufa.
A primeira vez que muitas pessoas ouviram os negacionistas dizer disparates foi referindo-se ao frio que estava quando era suposto o aquecimento ser global e permanente.
Pois bem, aqui temos o hemisfério norte a viver aquilo que tem sido correctamente previsto por centenas de cientistas há dezenas de anos e que a incapacidade política dos estados face a certos grandes interesses económicos não conseguiu evitar.
Em todo o hemisfério norte, mas muito particularmente na Europa e em algumas zonas da América do Norte onde o fenómeno das ondas de calor assume este ano uma expressão assustadora, assiste-se à continuação dos mesmos hábitos de consumismo instalados e à cega obsessão das grandes industrias baseadas em carbono. A actual guerra da Ucrânia como, aliás, todas as outras guerras, têm-nos feito esquecer que as alterações climáticas prosseguem o seu crescimento exponencial, indiferentes à insensatez e à má fé humanas.
Nesta divergência entre aquecimento global e mudança social, os factos dramáticos avançam aceleradamente: morre-se dos impactos das alterações climáticas, contra as quais não se fez, nem faz, o bastante, nem perto disso, e adoece-se gravemente das consequências directas e indirectas do aquecimento global: doenças respiratórias, doenças cardio-vasculares, choques de calor, infecções transmitidas por vectores. Tudo isto se liga a uma degradação geral da qualidade de vida à qual ingénuas minorias julgam poder escapar com as fortunas que acumularam, agravando muitas vezes as próprias causas das alterações climáticas que a todos afectam.
Provavelmente a grave situação que o Ocidente vive neste verão quente de 2023 produzirá agora, tardiamente, um efeito de alarme que a razão e a ciência não conseguiram produzir.
Hoje, no segmento mais rico do planeta, começa a reconhecer-se um alarme que já vinha vitimando milhares de seres humanos no hemisfério sul há tanto tempo.
E como nos prepararmos para tudo isto e para o que ainda está para vir?
Agora, que o futuro parece cada vez mais claro, serão os mais jovens e será a ciência quem terá a enorme tarefa de corrigir os erros, inventar a adaptação e promover a regeneração de um mundo que, se nada se fizer, será empurrado para níveis impensáveis de empobrecimento natural e humano.
*A autora escreve sem o Acordo Ortográfico