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Imagem de um termómetro que marca mais de 40ºC

Ondas de calor

O mês de julho foi o mais quente desde que há registos. As ondas de calor extremas continuam em agosto na Europa e na América do Norte. Para a socióloga e especialista em ambiente Luísa Schmidt apesar dos alertas «assiste-se à continuação dos mesmos hábitos de consumismo instalados e à cega obsessão das grandes industrias baseadas em carbono». Para a investigadora, caberá agora aos mais jovens e à ciência a enorme tarefa de corrigir os erros do passado.
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A primeira vez que muitas pessoas ouviram falar das alterações climáticas terá sido seguramente sobre expressões como aquecimento global e efeito de estufa.

A primeira vez que muitas pessoas ouviram os negacionistas dizer disparates foi referindo-se ao frio que estava quando era suposto o aquecimento ser global e permanente.

Pois bem, aqui temos o hemisfério norte a viver aquilo que tem sido correctamente previsto por centenas de cientistas há dezenas de anos e que a incapacidade política dos estados face a certos grandes interesses económicos não conseguiu evitar.

Em todo o hemisfério norte, mas muito particularmente na Europa e em algumas zonas da América do Norte onde o fenómeno das ondas de calor assume este ano uma expressão assustadora, assiste-se à continuação dos mesmos hábitos de consumismo instalados e à cega obsessão das grandes industrias baseadas em carbono. A actual guerra da Ucrânia como, aliás, todas as outras guerras, têm-nos feito esquecer que as alterações climáticas prosseguem o seu crescimento exponencial, indiferentes à insensatez e à má fé humanas.

Morre-se dos impactos das alterações climáticas, contra as quais não se fez, nem faz, o bastante, nem perto disso, e adoece-se gravemente das consequências directas e indirectas do aquecimento global

Nesta divergência entre aquecimento global e mudança social, os factos dramáticos avançam aceleradamente: morre-se dos impactos das alterações climáticas, contra as quais não se fez, nem faz, o bastante, nem perto disso, e adoece-se gravemente das consequências directas e indirectas do aquecimento global: doenças respiratórias, doenças cardio-vasculares, choques de calor, infecções transmitidas por vectores. Tudo isto se liga a uma degradação geral da qualidade de vida à qual ingénuas minorias julgam poder escapar com as fortunas que acumularam, agravando muitas vezes as próprias causas das alterações climáticas que a todos afectam.

Provavelmente a grave situação que o Ocidente vive neste verão quente de 2023 produzirá agora, tardiamente, um efeito de alarme que a razão e a ciência não conseguiram produzir.

Hoje, no segmento mais rico do planeta, começa a reconhecer-se um alarme que já vinha vitimando milhares de seres humanos no hemisfério sul há tanto tempo.

E como nos prepararmos para tudo isto e para o que ainda está para vir?

Agora, que o futuro parece cada vez mais claro, serão os mais jovens e será a ciência quem terá a enorme tarefa de corrigir os erros, inventar a adaptação e promover a regeneração de um mundo que, se nada se fizer, será empurrado para níveis impensáveis de empobrecimento natural e humano.

*A autora escreve sem o Acordo Ortográfico

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