Municípios e Empresas
A ideia de instituição tem associados os conceitos de permanência e relevância. Na análise do crescimento das economias e das nações as instituições passaram de figurante ignorado a protagonista incompreendido. A sua invisibilidade disfarça a sua importância.
Sabemos que as instituições criam e fazem cumprir regras, organizam os indivíduos para a acção em comum, partilham riscos, otimizam e redistribuem. São o contexto colectivo sobre o qual os mercados funcionam.
Uma forma de peceber como a variedade da realidade institucional afecta o crescimento económico é analisar a dinâmica e o desempenho das empresas em diferentes geografias. É precisamente essa a estratégia do estudo «Municípios e Empresas Privadas».
Com base numa variedade de informação acerca do contexto económico e social de cada município e um conjunto de indicadores da capacidade institucional dos municípios portugueses é possível identificar os factores associados à criação de empresas e ao seu desempenho.
Instintivamente associamos uma maior actividade aos grandes centros urbanos e às àreas metropolitanas. O volume de actividade corrobora essa primeira impressão superficial. Mas indicadores mais finos, como a entrada líquida de empresas por empresa existente, revelam um país no qual os municípios onde o tecido empresarial é mais dinâmico estão distribuídos um pouco por todo o território. Não são os grandes centros, os municípios da costa ou do norte que apresentam necessariamente um melhor desempenho relativo.
A nossa evidência sugere que, sim, a capacidade institucional dos municípios afeta a vida das empresas privadas localizadas no território municipal. Essa influência dos municípios como instituições dá-se ao nível das decisões de entrada e de saída das empresas no mercado, mas também afecta a capacidade das empresas gerarem maior volume de negócios e valor acrescentado, melhores resultados e maior rentabilidade.
Diferentes indicadores de capacidade institucional produzem diferentes efeitos sobre a vida das empresas, mas as variáveis que espelham disciplina na gestão orçamental e mais fácil acesso a fundos europeus parecem ser determinantes. A qualidade institucional tem maior impacto na dinâmica das empresas do que no seu desempenho financeiro, afectam mais a criação de empresas que os seus resultados e, quanto a estes, mais as variáveis de volume que as de rentabilidade.
Talvez o mais importante: apesar da enormidade da crise económica dos últimos anos, ilustrada nas imagens (do próprio estudo), a evidência sugere que várias características institucionais dos municípios têm a possibilidade de amenizar e até contrariar os seus efeitos mais devastadores.
José Tavares, Ernesto Freitas e João Pereira dos Santos, autores de Empresas privadas e municípios: dinâmicas e desempenhos
O acordo ortográfico utilizado neste artigo foi definido pelo autor