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A mudança climática é uma preocupação global que exige a intervenção de todos

O olhar de Mário Beja Santos sobre o livro «Alterações Climáticas», onde se explica a forma como a atividade humana está a alterar o clima e a urgência de ações para reduzir esse impacto.
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O livro «Alterações Climáticas» por Filipe Duarte Santos (FFMS, 2021), é um belo exercício de divulgação científica, mas que o leitor se precate, trata-se de uma súmula do conhecimento científico atual sobre as alterações climáticas, de algum modo impõe-se o rigor da linguagem, do princípio ao fim.

É natural que o leitor não iniciado se sinta um tanto intimidado com a explanação que ele faz com a ciência das alterações climáticas, mas há que reconhecer que comunica com vivacidade e nos capta a atenção, ora vejam: «Por que razão a Terra desenvolve a energia que absorve proveniente do Sol sob a forma de radiação infravermelha e não de radiação visível? Essencialmente, porque a razão visível incidente, ao ser absorvida, aquece a superfície da Terra e esta reemite a energia térmica sob a forma de radiação infravermelha. Esta, ao atravessar a atmosfera em direção ao espaço exterior, é absorvida e depois reemitida sucessivamente por alguns gases que compõem a atmosfera terrestre. Os gases que têm a propriedade de absorver e de emitir radiação infravermelha são designados gases com efeito de estufa. Os principais gases que existem naturalmente na atmosfera são o vapor de água, o dióxido de carbono, o metano e óxido nitroso. No caso dos últimos três, além de emissões naturais para a atmosfera, há também emissões provenientes de algumas atividades humanas, ou seja, emissões antropogénicas.»

É, pois, uma narrativa esmiuçada que nos vai conduzir ao ciclo do carbono, ao nosso paradigma energético baseado nos combustíveis fósseis e ao imperativo que se nos põe de baixar de forma drástica as emissões de dióxido de carbono para que o sistema Terra tenha a capacidade de as sequestrar.

Dada a moldura do aquecimento global, há que pôr em cima da mesa os impactos, um deles é o aumento do nível médio global do mar, que tem diferentes razões: a dilatação térmica do oceano devido ao aquecimento, a fusão dos glaciares e campos de gelos das montanhas e a fusão dos gelos situados acima do nível médio global do mar nas calotes polares. Subindo a temperatura, como está a acontecer, um conjunto de países corre o risco de ficar submerso.

Daí a exigência de procurarmos respostas adequadas para mitigar tais alterações climáticas. O autor define a mitigação como uma intervenção humana para reduzir as fontes de emissão, entre outros aspetos. O IPCC – Painel Intergovernamental Sobre Alterações Climáticas tem construído cenários, definindo trajetórias hipotéticas, os relatórios são preocupantes, como ele escreve: «Em certos casos, a adaptação dos sistemas humanos ou naturais pode tornar-se impossível, porque os custos da adaptação são incomportáveis e os impactos residuais demasiado grandes.» E não deixa de mencionar o desaparecimento de ilhas como as Ilhas Marshall, Tuvalu e Maldivas.

Há diferentes respostas às alterações climáticas, ele recorda a geoengenharia, definida como a manipulação deliberada dos aspetos físicos, químicos ou biológicos do sistema Terra, com o objetivo de neutralizar as consequências climáticas das emissões dos gases de estufa. Inevitavelmente, falando da política climática internacional, ele expõe os conteúdos do Protocolo de Quioto e o Acordo de Paris. Não deixa em branco a manipulação de um conjunto de empresas, com destaque para as petrolíferas, que procura confundir a opinião pública e manter os decisores políticos sem ação, falando concretamente da Exxonmobil, onde se produziu investigação científica sobre a mudança climática antropogénica pagando campanhas de desinformação num valor que foi estimado em 2 mil milhões de dólares entre 2000 e 2016.

E, mais adiante: «Há um consenso crescente de que as alterações climáticas constituem um dos maiores riscos para os direitos humanos no século XXI, dado que afetam o direito à vida e o ‘direito a um padrão de vida capaz de assegurar a saúde e o bem-estar de si mesmo e da sua família, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis’, e está a invocar o Artigo 25º da Declaração Universal dos Direitos Humanos».

O Norte de Portugal está menos húmido e o Sul mais árido, a tendência é o agravamento no futuro.

Falando dos objetivos do desenvolvimento sustentável de 2030, recorda-nos que as cidades podem contribuir de forma determinante para a solução dos problemas da mudança climática. «As Câmaras Municipais têm a capacidade de promover políticas de mitigação no município por meio de regulamentos, instrumentos e políticas, no urbanismo, eficiência energética dos edifícios, redes elétricas inteligentes, redes de prossumidores de energia elétrica, espaços verdes, transportes públicos, gestão de resíduos, entre muitos outros domínios.» Não esquece o modo como a integridade da biosfera tem vindo a ser gravemente afetada e chama à atenção para o ritmo elevado da extinção de espécies, todo este capítulo merece uma leitura cuidada.

Um ensaio desta natureza não podia deixar de referir o que na União Europeia e em Portugal se faz no capitulo da mitigação e adaptação às alterações climáticas, para os céticos de que a mudança climática é um dos maiores desafios do nosso tempo, atenda-se ao que ele escreve, logo sobre o aumento da temperatura média anual, dado incontestável, o decréscimo da precipitação média anual, vale a pena registar estes números: «Uma análise de precipitação anual em Portugal Continental num período de 106 anos, entre 1913 e 2019, revela uma alteração do padrão de precipitação nos finais da década de 1960, caracterizado por uma redução da precipitação nos meses de dezembro a março, tanto em termos absolutos como relativamente à precipitação anual, e mais acentuada nos meses de janeiro a março, um período importante para a recarga de água nos solos, rios e albufeiras.» O Norte está menos húmido e o Sul mais árido, a tendência é o agravamento no futuro.

De leitura obrigatória, por aqui passa o futuro da nossa civilização.

 

O acordo ortográfico utilizado neste artigo foi definido pelo autor.

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