É o fim do mundo tal como o conhecemos… ou talvez não
«Se há coisa que a robotização tem vindo a mostrar é que os países que têm uma economia baseada em conhecimento, inovação e desenvolvimento são os que tiram maior partido da introdução de robôs no mercado de trabalho, sem que isto afecte o desempenho económico do país e a qualidade de vida.»
Para mim é natural pensar no futuro e imaginar-nos rodeados de robôs – a fazerem aquelas tarefas menos interessantes ou repetitivas, a protegerem-nos mas também a fazerem-nos companhia. Mas quando o assunto é a automação e a inteligência artificial, o discurso polariza-se. É também comum ouvir que os robôs vão tirar o emprego às pessoas, dominar o mundo, revoltar-se contra nós. Podemos pensar que é a habitual polarização, sempre que a realidade parece ultrapassar a nossa capacidade de entender o mundo. Mas mesmo o aclamado físico britânico Stephen Hawking tem chamado a atenção para a possibilidade do que ele chama de “intelligence explosion” que poderá resultar em “máquinas cuja inteligência excede a nossa bem mais do que a nossa inteligência excede a de caracóis”.
Na ficção, os robôs já foram bons e maus, heróis e vilões. Na vida real, já estão por todo o lado: nas fábricas onde tudo começou, no ar a fazer entregas de encomendas, nas caixas de supermercado, nos balcões do banco ou das cadeias de fast food. Também já estão nos lares de idosos, a dar aulas de dança e a fazer elogios. Nos carros que se guiam sozinhos. Habitam os blocos operatórios, ajudando os cirurgiões a cortar com mais precisão.
Um estudo britânico recente aponta para a perda de 850 mil empregos no sector público até 2030. A União Europeia planeia legislar o sector, prevendo regimes de comparticipação à segurança social, seguros de responsabilidade em caso de acidente, códigos de ética que imponham a construção destas super-máquinas apenas com fins benévolos.
É claro que tudo isso nos pode causar medo, desconforto, ansiedade. O que virá por aí? Iremos tornar-nos redundantes? Que papel restará a nós, seres pensantes, criativos e emotivos, mas com limitações físicas, necessidade de descanso, lazer e prazer? O que teremos para oferecer num mundo do trabalho cada vez mais competitivo e incerto?
Em Portugal já há 45 robôs por cada dez mil trabalhadores. Um número muito aquém da realidade alemã, com 301, ou de Singapura, campeão mundial de robotização, com 531. A mudança é inevitável.
Os drones vieram para ficar, os carros sem condutor serão uma realidade das nossas estradas a muito curto prazo, a substituição de cargos médios, com funções mais repetitivas, é uma inevitabilidade. E isto lembra-me um episódio com Henry Kissinger, que ao presenciar a construção de uma barragem na China questionou porque era tudo trabalho feito com instrumentos manuais, sem maquinaria pesada. Responderam-lhe que era por terem muita mão de obra disponível, para criar mais emprego. “Porque não usar colheres então?”, ironizou o diplomata americano.
Eu acredito que mesmo sem colheres haverá sempre um lugar para cada ser humano. A automação tornará os produtos mais baratos, o que os democratizará, tornando-os acessíveis a um maior número de pessoas. Aumentará a procura de actividades de tempos livres e a possibilidade de aceder a elas. Serão criados novos formatos e tipos de trabalho. Mais necessidade de programadores informáticos, criativos, engenheiros… e uma infinidade de outras profissionais que neste momento é impossível de prever – a história já nos mostrou que nunca o conseguimos, a realidade supera sempre a ficção.
Mas mesmo na incerteza perante o que aí vem, uma coisa é garantida: apostar em educação, em conhecimento, treinar o pensamento lógico e a resolução de problemas é a melhor forma de assegurar a sustentabilidade da nossa vida no nosso planeta. Se há coisa que a robotização tem vindo a mostrar é que os países que têm uma economia baseada em conhecimento, inovação e desenvolvimento são os que tiram maior partido da introdução de robôs no mercado de trabalho, sem que isto afecte o desempenho económico do país e a qualidade de vida dos cidadãos.
Apostemos por isso na Educação, na Ciência e na Cultura. E isso será crítico para que olhemos o futuro com confiança e de forma realista.
O acordo ortográfico utilizado neste artigo foi definido pelo autor.