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5 Leituras #12 (Eduardo Cintra Torres): de Aristóteles a Hannah Arendt, passando por La Boétie e Eça

5 Leituras #12 (Eduardo Cintra Torres): de Aristóteles a Hannah Arendt, passando por La Boétie e Eça

Sugestões de leitura de Eduardo Cintra Torres, autor dos livros «A televisão e o serviço público» e «Telenovela, indústria e cultura, Lda.»
3 min
Novo artigo da rubrica «5 Leituras», em que um autor da Fundação sugere a leitura de cinco artigos publicados na internet. Desta vez publicamos as sugestões de Eduardo Cintra Torres, o autor de «A televisão e o serviço público» e de «Telenovela, indústria e cultura, Lda.»

 

A Servidão Voluntária
Livro de Étienne de La Boétie (em PDF)
(Em língua inglesa)

Escrito, segundo Montaigne, aos 18 anos, este ensaio foi antes publicado clandestinamente com o nome de “Contre l’un”, contra o (poder) único. Explica de forma brilhante o que hoje chamamos “consentimento”, em sociologia e estudos políticos, a atitude individual e colectiva que permite às instâncias de poder manter o controle sobre a sociedade. Foi publicado em 1548, mas que interessa? Poderia ter sido ontem à tarde.

Desobediência Civil
Ensaio de Hannah Arendt
(Em língua inglesa)

O ensaio de Arendt é uma reflexão urgente na América de Nixon durante a Guerra do Vietname e dos movimentos colectivos de resistência, nomeadamente contra o recrutamento  militar. Entre a filosofia e o direito, o ensaio é convincente na caracterização da desobediência civil como uma acção colectiva de protesto e resistência contra leis consideradas iníquas, injustas ou mesmo inconstitucionais. Para quem não assina a New Yorker, saiu uma tradução em português na Relógio d’Água (Lisboa, 2017), da versão final de 1972, ligeiramente diferente deste original de 1970.

S. Cristóvão
Livro de Eça de Queirós
(Em língua portuguesa)

Aqui fica uma provocação: ler uma obra de ficção como uma tese, um ensaio narrativo e ficcional. A novela S. Cristóvão, de Eça de Queirós, escrita cerca de três anos antes da sua morte em 1900, será a sua obra ficcional que mais indicia o vago fundo libertário e socializante que lhe vinha da juventude. Eis um líder bom, incansável, totalmente dedicado aos pobres, dirigindo as massas populares… Mas, ao invés do moralismo que marca tanta da ficção contemporânea (uma canseira), Eça compõe uma narrativa sem esse proselitismo que mancha até os melhores ficcionistas do nosso tempo. Quem a quiser ler como uma obra política — eu! — pode fazê-lo, quem não quiser lê uma magnífica narrativa de um dos nosso melhores prosadores, a partir de uma revolta camponesa do século XIV dirigida por um santo. Há várias edições em papel e esta, online.

A Retórica
Livro de Aristóteles
(Em língua inglesa)

Ao estudar nos últimos meses o populismo, várias obras recentíssimas sobre o tema trouxeram-me ao espírito com insistência A Retórica de Aristóteles. Escrita há mais de 23 séculos, esta obra é um manual de análise da construção do orador público, em especial do político, num ambiente democrático, tendo de convencer as massas. O Maquiavel de O Príncipe (Lisboa, Circulo de Leitores, 2011) ou os Discursos Sobre a Primeira Década de Tito Lívio (Lisboa, Sílabo, 2010) também convidam à releitura de Aristóteles como uma descrição técnica dos processos necessários à conquista da audiência através da palavra e do gesto. Ontem na ágora, hoje pela televisão. Há diversas versões online em inglês.

Por uma Definição Contemporânea de Televisão
Ensaio de Eduardo Cintra Torres
(Em língua portuguesa)

Este meu ensaio é como que um post scriptum ao ensaio A Televisão e o Serviço Público, publicado pela FFMS em 2011. Já lá estava a ideia, mas desenvolvi-a na revista Ler em Dezembro de 2014: não faz sentido pensar ainda na televisão como uma tecnologia que transmite conteúdos, como leio em tantos textos que vaticinam (por isso mesmo erradamente) o fim da televisão. Ela tornou-se há muito uma forma de comunicação com uma linguagem própria, géneros e conteúdos próprios que se libertaram da tirania duma tecnologia única para florescerem em todo o tipo de ecrãs.

Eduardo Cintra Torres é autor de «A televisão e o serviço público» e de «Telenovela, indústria e cultura, Lda.», livros publicados pela Fundação Francisco Manuel dos Santos.

O acordo ortográfico utilizado neste artigo foi definido pelo autor.

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