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Entrevista GPS #22: «Só um investimento na formação e investigação pode levar Portugal a prosperar»

Entrevista GPS #22: «Só um investimento na formação e investigação pode levar Portugal a prosperar»

Entrevista a Luís Rodrigues, professor na Universidade Concordia, no Canadá, onde é professor e investigador na área dos sistemas de bordo.
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Autor
Luís Rodrigues é professor universitário na Universidade Concordia, no Canadá. Esta entrevista foi realizada no âmbito do GPS - Global Portuguese Scientists, um site onde estão registados os cientistas portugueses que desenvolvem investigação por todo o mundo.

Pode descrever de forma sucinta (para nós, leigos) o que faz profissionalmente?

Sou professor universitário e dedico-me ao ensino e à investigação de sistemas embarcados, ou seja, todos os sistemas a bordo de aviões, drones, satélites, ou naves espaciais.

Agora pedimos-lhe que tente contagiar-nos: o que há de particularmente entusiasmante na sua área de trabalho?

É uma área multidisciplinar que permite que as viagens no ar ou no espaço sejam bem sucedidas. Como português, sempre me fascinou a navegação e tentei entender como os nossos navegadores foram capazes de chegar a todas as partes do mundo.

O que faço profissionalmente é desenvolver sistemas de navegação e gestão de voo que permitam a pilotos profissionais ou a veículos autónomos chegarem ao seu destino sem grandes atrasos e poupando o máximo possível de combustível. Esta poupança de combustível (ou de carga da bateria, se o veículo for eléctrico) é fundamental no actual panorama energético e ambiental em que vivemos. Poder ajudar a libertar menos gases de efeito de estufa pelos transportes é também bastante gratificante como resultado da investigação que faço.

 

O acordo ortográfico utilizado neste artigo foi definido pelo autor.

Acho, e sempre achei, que o panorama científico português é de excelência e, em muitas áreas, melhor do que o panorama em muitos países tidos como mais avançados.

Por que motivos decidiu emigrar e o que encontrou de inesperado no estrangeiro?

Tudo começou quando quis ir para o estrangeiro para fazer um doutoramento numa universidade de topo. Fui muito encorajado por vários professores do Instituto Superior Técnico, em Lisboa, a quem agradeço desde já pelos bons conselhos que me deram.

Depois de regressar do doutoramento tentei procurar um emprego como professor em Portugal. Como não havia vagas abertas na universidade para a minha área e a única solução era ser bolseiro, trabalhei algum tempo para a indústria em Portugal na Ydreams. No entanto,  na resposta a um anúncio para uma entrevista na Universidade Concordia do Quebec, no Canadá, acabei por ser convidado para ocupar a vaga aí disponível de professor universitário. Aceitei a oferta de emprego e voltei a emigrar para fazer o que mais gostava: investigação e ensino.

Que apreciação faz do panorama científico português, tanto na sua área como de uma forma mais geral?

Acho, e sempre achei, que o panorama científico português é de excelência e, em muitas áreas, melhor do que o panorama em muitos países tidos como mais avançados. Acho que recentemente, com o anúncio de mais investimento na ciência pelo governo e com o regresso de um Ministro da Ciência, as perspectivas são muito boas e a moral está de novo alta. A situação no país está também bastante positiva em geral, o que me deixa muito feliz.

Que ferramentas do GPS lhe parecem particularmente interessantes, e porquê?

O GPS foi uma excelente ideia, porque é uma plataforma social que permite a todos nós no estrangeiro comunicar com os nossos colegas portugueses, quer no estrangeiro quer em Portugal. Permite perceber quem está aonde e a fazer o quê.

O GPS permite dar visibilidade à grande estratégia de formação que teve o ex-ministro Mariano Gago. Aliás, podemos ainda recuar mais: Portugal teve na sua história uma outra era em que a formação de portugueses no estrangeiro foi bastante apoiada, que foi no reinado de D. João V com os chamados estrangeirados. O ciclo repete-se agora e o país prospera, tornando-se num exemplo para a União Europeia, que está surpreendida com a nossa capacidade de recuperação da crise. Só um investimento na formação e investigação pode levar Portugal a prosperar. Juntos, e com a ajuda do GPS, podemos todos participar e ajudar o nosso país no caminho que tem de seguir, tal como os nossos navegadores o fizeram noutros tempos. É uma nova renascença que se nos afigura.

Consulte o perfil de Luís Rodrigues no GPS – Global Portuguese Scientists.
GPS é um projecto da Fundação Francisco Manuel dos Santos com a agência Ciência Viva e a Universidade de Aveiro.

 

O acordo ortográfico utilizado neste artigo foi definido pelo autor.

Autor
Portuguese, Portugal