«O que significa a Fundação para a minha família e para mim em particular?
É a forma que foi escolhida para estudar os grandes problemas nacionais e levá-los ao conhecimento da sociedade civil, visando o debate e estimulando a discussão entre os seus membros.
Pretendemos uma sociedade aberta à cultura, consciente dos seus problemas e das soluções mais adequadas à sua resolução. Uma sociedade ativa que, sem medo e em plena liberdade, expõe os seus pensamentos, a sua crítica e os seus anseios.
Uma sociedade que deverá ser consciente dos seus direitos, mas também dos seus deveres e que assume as suas responsabilidades. Que obriga os seus deputados e o seu governo a ouvi-la e a decidir de acordo com o que ela quer.
Com a fundação que criou, a minha família pretende também dar à sociedade e ao nosso país o muito que ele nos deu. Que os seus representantes sejam dignos das suas intenções!»
Alexandre Soares dos Santos (1934-2019)
Escrito ao abrigo do antigo acordo ortográfico
Francisco Manuel dos Santos nasceu em 1876, em Safurdão, a 23 km da Guarda, na Beira Alta. Os seus descendentes diretos são os acionistas da Sociedade Francisco Manuel dos Santos. Esta sociedade familiar controla atualmente 56,14 % da Jerónimo Martins.
O patrono da Fundação Francisco Manuel dos Santos frequentou a escola primária e tinha apenas 10 anos quando deixou a aldeia natal. Não mais gozaria de uma educação formal. Respondendo ao apelo de um merceeiro em busca de um rapaz que soubesse ler, escrever e fazer contas, Francisco Manuel dos Santos é enviado para o Porto.
A cidade atravessava então o seu período de crescimento mais pronunciado da época moderna e o jovem não deixaria de aproveitar as oportunidades que tal facto acarretava. Em 1905, com as poupanças de quase 20 anos de incontáveis sacrifícios e trabalho árduo, obtém o seu primeiro empréstimo bancário e toma de trespasse a Casa da Índia, abandonando, assim, o posto de ajudante de mercearia e estabelecendo-se por conta própria no mesmo ramo de negócio.
Bem-sucedido, faz fortuna e desenvolve uma rede de úteis contactos profissionais, tendo travado conhecimento com Elísio Pereira do Vale. Juntos criam, em 1920, e com Domingos Gomes, os Grandes Armazéns Reunidos, com sede na Invicta.
Em 1921, transferiu para Lisboa a parte mais significativa dos seus negócios. Em conjunto com os seus parceiros dos Grandes Armazéns Reunidos, adquiriu a "mercearia fina" Jerónimo Martins, no Chiado, em Lisboa. Esta, fundada em 1792 por um galego com o mesmo nome, comercializava requintadas marcas nacionais e estrageiras, incluindo o azeite produzido por Alexandre Herculano, e apresentava na sua fachada o selo de fornecedor da Casa Real.
Na altura da aquisição, os designados Estabelecimentos Jerónimo Martins & Filho deparavam-se com grandes dificuldades financeiras, devido a problemas de gestão e às nefastas consequências da guerra. A reestruturação é assegurada por um empréstimo do Banco Borges & Irmão, que aceita o «trabalho e honradez» de Francisco Manuel dos Santos como garantia.
A estratégia adotada propicia uma recuperação lenta, mas constante, tendo sido criada uma cadeia de lojas de retalho, dinamizando-se a armazenagem e eliminando-se as atividades relacionadas com produtos não alimentares. Calmamente, os Estabelecimentos Jerónimo Martins & Filho recuperam a segurança financeira, tornando-se ademais uma das primeiras empresas do país a pagar o 13.º mês de salário aos seus operários, para além de ter uma creche para os filhos dos funcionários e promover colónias de férias para as crianças.
Em meados da década de 1930, dá-se a expansão para a indústria, traduzida no investimento numa fábrica de margarina, produto escasso e necessário. A construção da FIMA - Fábrica Imperial de Margarina é iniciativa de Elísio Alexandre dos Santos, sobrinho e genro de Francisco Manuel dos Santos que trabalhava no grupo desde 1935. A FIMA é constituída em sociedade com Silva Torrado, embora a laboração em Sacavém só tenha sido inaugurada em 1944, uma vez que o conflito mundial impediu a chegada do equipamento. Pouco depois, um incêndio destrói totalmente as instalações e inicia-se a construção de uma nova fábrica, em Santa Iria da Azóia, que ainda opera nos dias de hoje.
A sobrevivência da firma dever-se-á à Unilever, cujas marcas a Jerónimo Martins vendia desde 1926, e com quem se celebrou uma joint venture em 1949. Tendo tomado a participação de Silva Torrado, a Jerónimo Martins fica com 60% da FIMA; o balanço é reposto pela formação da Lever, na qual a Unilever detinha uma participação equivalente, e que produzia produtos de limpeza e higiene pessoal.
Francisco Manuel dos Santos morre em 1953, não sem antes ter criado com os seus sete filhos, em 1941, a Sociedade Francisco Manuel dos Santos (SFMS), com o objetivo de formalizar as participações que tinha em várias empresas. Os legatários asseguraram a continuidade da empresa e reorganizaram o grupo.
Elísio Alexandre dos Santos sucede-lhe. Sob a sua liderança, é adquirida a fábrica de gelados Olá e o negócio familiar expande-se para Angola, onde fundou a Socorel – Sociedade Colonial de Representações. Morreria, em 1967, no Brasil, durante uma visita ao seu filho - Alexandre Soares dos Santos, que, cerca de 10 anos antes iniciara a sua carreira enquanto marketing trainee da Unilever, na Alemanha.
Alexandre Soares dos Santos regressa a Portugal e assume a responsabilidade do negócio da família, no qual a FIMA-Lever tinha então um peso decisivo. Considerando que o futuro passaria obrigatoriamente pela distribuição moderna, aposta na expansão neste setor.
A companhia de supermercados Pingo Doce começa a operar em 1980. A cadeia consolida fortemente a sua posição no retalho alimentar em Portugal, investindo na abertura de novas lojas e firmando parcerias estratégicas com empresas internacionais, como o grupo belga Delhaize “Le Lion”, que entra na estrutura acionista do Pingo Doce. Posteriormente, a Jerónimo Martins adquire a cadeia grossista Recheio e a Victor Guedes, empresa produtora do azeite Gallo.
Nesse mesmo ano, em 1989, a Sociedade Francisco Manuel dos Santos adquire as participações dos restantes acionistas dos Estabelecimentos Jerónimo Martins & Filho. Para financiar este investimento, faz admitir a empresa à cotação na Bolsa de Valores de Lisboa.
Com Alexandre Soares dos Santos, o grupo cresce exponencialmente, ultrapassando várias crises políticas e económicas, em Portugal, e internacionaliza-se com sucesso, com a entrada na Polónia e na Colômbia. Sob a sua liderança, Jerónimo Martins torna-se num dos 100 maiores retalhistas mundiais. A sua profunda preocupação com a cidadania levou a SFMS a criar a Fundação Francisco Manuel dos Santos e a Fundação Oceano Azul.
A Sociedade Francisco Manuel dos Santos (SFMS) vai, hoje, já na quarta geração. É uma holding familiar internacional, que desenvolve a sua atividade maioritariamente em Portugal, na Polónia, na Colômbia e no Brasil. Com investimentos nas áreas da distribuição, indústria, agro-alimentar, retalho especializado, cuidados de saúde, cidadania e ambiente, emprega mais de 134 mil pessoas e serve diariamente cerca de 300 milhões de consumidores.
Apoiada pelos seus atuais acionistas, herdeiros do Fundador, a missão da SFMS é criar valor nas suas empresas, contribuir para o desenvolvimento pessoal e profissional dos seus colaboradores e investir nas comunidades onde as suas empresas atuam.
O seu principal investimento comercial é a participação maioritária que detém no grupo internacional Jerónimo Martins, sedeado em Portugal, que é já o 31º maior retalhista alimentar a nível global, segundo o estudo da consultora Deloitte «Global Powers of Retailling, 2023», estando presente em Portugal, com as insígnias Pingo Doce e Recheio, os cafés Jeronymo, as confeitarias Hussel e a Jerónimo Martins Agroalimentar; na Polónia, com a insígnia Biedronka, que lidera o retalho alimentar nesse país, e as drogarias Hebe; e na Colômbia, com as lojas Ara.
Na indústria, a SFMS mantém a histórica joint venture com a Unilever, desde 1949, consubstanciada hoje na Unilever FIMA e na Gallo Worldwide. A SFMS é ainda detentora da JMD, que atua na representação e distribuição de marcas portuguesas e estrangeiras no sector alimentar, das gelatarias NAZ e das clínicas de saúde miMed.
Para além da gestão das participações que tem na distribuição e na indústria, a SFMS investe em novas empresas que atuam nas áreas da cadeia de valor do retalho alimentar, tendo criado nesse âmbito, em 2017, a holding Movendo Capital.
A SFMS tem vindo a consolidar o seu pilar dedicado a atividades de cidadania, no âmbito do qual fundou, em 2009, a Fundação Francisco Manuel dos Santos, com o objetivo de fortalecer a sociedade civil, através do estudo, da divulgação e do debate da realidade portuguesa, promovendo os Direitos Humanos e a Democracia.
Em 2015, a SFMS reforçou o seu pilar de responsabilidade ambiental, com a obtenção da concessão do Oceanário de Lisboa, e em 2017, com o lançamento da Fundação Oceano Azul, dedicada à sustentabilidade do planeta a partir da proteção dos Oceanos.
Desde a sua fundação, o grupo tem uma postura ativa na sociedade. Com uma política de responsabilidade social assente em valores como a integridade, o respeito, a responsabilidade, a credibilidade, a transparência, a SFMS mobiliza-se no apoio a várias causas sociais, tendo como áreas prioritárias de atuação a Educação, a Dignidade Humana, o Meio-Ambiente e a Saúde.
Considerando o grupo como um todo, na área da Educação, destaca-se o apoio dado à Fundação Alfredo de Sousa para a construção do campus de Carcavelos da NOVA SBE. Na dignidade humana, a criação da Fundação Biedronka na Polónia (que tem como missão contribuir para que a população idosa na Polónia possa viver de forma digna e com saúde pelo maior tempo possível) e a oferta de géneros alimentares e não alimentares a instituições, das várias geografias, que prestam apoio às camadas mais vulneráveis da população, como são o caso do Banco Alimentar em Portugal, da Federação dos Bancos Alimentares Polacos e da Cáritas Polaca, da Associação de Bancos de Alimentos da Colômbia e da Cáritas Colômbia.
Durante a pandemia de Covid-19, a holding SFMS e o grupo de companhias reforçaram o apoio aos grupos mais expostos a esta crise, incluindo os profissionais de saúde que estiveram na linha da frente, as crianças que não puderam ir à escola, os idosos e pessoas institucionalizadas, entre outros, seja concedendo apoios monetários ou através da oferta de géneros alimentares.
A SFMS estabeleceu uma parceria com o iMM - Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes, em que, com o grupo Jerónimo Martins, se viabilizou uma estrutura organizativa e de investigação dedicada a esta doença. Este apoio permitiu desenvolver o Painel Serológico Nacional COVID-19 e implementar o novo Centro de Diagnóstico Molecular COVID-19 do iMM.
Em 2022, perante a grave situação militar e humanitária que se vive na Ucrânia, o grupo mobilizou-se de imediato e, passado pouco mais de uma semana do início do conflito, foi concedido um total de €9,5 milhões a várias instituições polacas a trabalhar no terreno. A SFMS fez um donativo à Fundação Biedronka para a criação de um programa de acomodação gratuita temporária para os refugiados ucranianos mais necessitados. Este apoio somou-se à contribuição que o grupo Jerónimo Martins distribuiu pela Cruz Vermelha Polaca, a Cáritas Polaca, a Ação Humanitária Polaca, a Missão Médica Polaca e as Aldeias de Crianças SOS na Polónia, e ao apoio alimentar e não alimentar, da Biedronka e a Fundação Biedronka, aos refugiados.
Ao longo da sua história, a SFMS tem procurado manter-se fiel aos valores do seu Fundador.
Crescimento, sustentabilidade e cidadania continuarão a ser, no futuro, as grandes linhas orientadoras do investimento e da ação da SFMS.