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Porque é que Portugal continua a arder?

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O que fazer para prevenir o aumento destruidor dos incêndios? Juntam-se neste debate o autor do livro «Os Incêndios Florestais em Portugal», António Bento-Gonçalves, a directora Regional da Conservação da Natureza e Florestas do Norte, Sandra Sarmento, e o especialista em incêndios Domingos Xavier Viegas. Com moderação de Catarina Carvalho.

Serão os incêndios florestais inevitáveis, sobretudo em Portugal, país a meio caminho entre o Atlântico e o Mediterrâneo? Como é que as mudanças climáticas os tornam mais perigosos e que parte desse perigo cresce com a falta de cultura florestal? O que podemos fazer para que não se repitam as tragédias dos últimos anos – em que morreram mais de 250 pessoas por causa dos incêndios?
Neste debate pretende-se contribuir para o conhecimento em torno de um tema cada vez mais complexo, mas também para uma mudança de paradigma. Falar-se- à da desestruturação do mundo rural, do desordenamento do território, da falta de gestão florestal, mas também da essencial educação florestal. Para que se previnam os incêndios, porque esta é a única maneira de os combater.

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Praça da Fundação, debates da Fundação Francisco Manuel dos Santos
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Debate
79EPISÓDIOS
2020

Novos livros, novos debates. Um encontro de escritores e especialistas que trazem novos olhares sobre grandes temas. 

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O dia 21 de julho, foi o mais quente desde que há registos. O calor é o efeito mais democrático das alterações climáticas: quando está quente, está quente para todos. Mas tem graves consequências na saúde. As mortes por calor pesam mais na Europa.

Morrer de calor

O calor é o efeito mais democrático das alterações climáticas: quando está quente, está quente para todos. Mas para as pessoas mais vulneráveis – idosos, doentes crónicos, crianças, grávidas e para quem trabalha ao ar livre – pode ser um problema muito maior.

4,6 milhões de pessoas morreram em ondas de calor
nas últimas três décadas

Esta é uma estimativa do excesso de mortalidade – ou seja, o número de mortes acima da média – nos períodos em que a temperatura esteve muito acima do normal durante dois ou mais dias, segundo um estudo publicado este ano na revista PLOS Medicine. Os números referem-se apenas às ondas de calor que ocorreram nos quatro meses consecutivos mais quentes do ano em cada país. São uma aproximação, através de modelos matemáticos que calcularam o excesso de mortalidade para cada ponto do globo, a partir de dados reais de 750 locais em 43 países.

Excesso de mortalidade devido ao calor entre 1990 e 2019

5000 mortes Em Portugal
 
Fonte: Zhao Q, Li S, Ye T, Wu Y, Gasparrini A, Tong S, et al. (2024)

Metade das mortes adicionais ocorreu na Ásia

O estudo permitiu criar um potencial mapa que mostra o número de mortes que, pelo mundo, foram provocadas por ondas de calor - apesar das limitações dos dados de base. Em valores absolutos, os dois gigantes demográficos da Ásia somam um terço do total de mortes: Índia (21%) e China (14%). A seguir, vem a Rússia (8%).

Mortes em ondas de calor, por países

 
Fonte: Zhao Q, Li S, Ye T, Wu Y, Gasparrini A, Tong S, et al. (2024)

Mas é na Europa que essa mortalidade é mais aguda

As mortes absolutas não contam a história toda. Em termos relativos, o impacto do calor é muito mais severo na Europa. Por cada 10 milhões de habitantes, o excesso de mortes nas ondas de calor é três vezes maior do que em África ou na Ásia. E a taxa de mortalidade – ou seja, mortes adicionais em relação ao total de óbitos – é o dobro da média mundial. O quadro é especialmente grave na Europa do Sul e do Leste, regiões com os maiores índices mundiais de mortalidade por calor.

Mortes em ondas de calor, em números absolutos e relativos

 
Fonte: Zhao Q, Li S, Ye T, Wu Y, Gasparrini A, Tong S, et al. (2024)

A Europa está a aquecer muito rapidamente

Uma das razões para a elevada mortalidade por calor na Europa é simples: o continente europeu está a aquecer muito mais rapidamente do que a média mundial. Os termómetros subiram 2,3°C desde 1850-1900 – cerca de 1°C acima do valor global, segundo dados compilados pelo observatório climático Copernicus, da União Europeia. Este cenário deve-se, em parte, ao aumento mais intenso das temperaturas no Hemisfério Norte. Numa Europa densamente povoada e urbanizada, com as cidades a aquecerem mais do que o campo pelo efeito das ilhas de calor, os impactos na saúde acabam por ser mais intensos e generalizados.

Aumento da temperatura média na Europa e no mundo face a 1850-1900

 
Fonte: NOAA/Copernicus

O calor está a atingir uma população envelhecida

Outra razão para a elevada mortalidade por calor na Europa é a proporção de idosos na população. Uma em cada cinco pessoas tem 65 ou mais anos – a maior taxa entre todos os continentes. Os idosos são os que mais sofrem em ondas de calor, especialmente se têm problemas cardiovasculares, respiratórios ou renais. Entre a população idosa do globo, a mortalidade provocada pelo calor aumentou 85% nas últimas duas décadas, segundo o relatório de 2023 do projeto Lancet Countdown, que avalia os riscos das alterações climáticas sobre a saúde.

Percentagem da população com 65 e mais anos

 
Fonte: Divisão de População das Nações Unidas

O Verão de 2003 despertou a Europa para o problema

Ondas de calor avassaladoras apanharam a Europa de surpresa no Verão de 2003. Cerca de 71 mil mortes adicionais ocorreram em 16 países europeus entre junho e setembro, segundo um estudo liderado por investigadores da Universidade de Montpellier, publicado cinco anos depois. Em França, centenas de pessoas morreram sozinhas em casa e só foram descobertas dias ou semanas mais tarde. Portugal foi o quarto país com mais óbitos, mas o segundo com maior taxa de mortalidade adicional em Agosto – o pior mês, quando os termómetros chegaram à marca recorde de 47,3ºC na Amareleja, no Alentejo.

Mortalidade associada ao calor entre junho e setembro de 2003

 
Fonte: Robine, Jean-Marie et. al. (2008)

A pandemia agravou o impacto do calor em Portugal

Várias outras ondas de calor resultaram em excesso de mortes em Portugal. Para avaliar o seu impacto, cada uma delas tem de ser vista à luz de diferentes parâmetros, como a sua duração ou o quanto mais quente esteve a temperatura. Um estudo de investigadores do IPMA, Universidade de Lisboa e Instituto Ricardo Jorge, publicado em 2022, mostra como a pandemia da covid-19, em 2020, terá agravado a mortalidade por calor – talvez por mais dificuldade de acesso aos serviços de saúde. Em cinco dias consecutivos em julho, foram registados quase 600 óbitos adicionais não relacionados com a covid-19. A taxa de letalidade – que combina o número de dias de calor, as temperaturas acima do normal e o número de mortes – atingiu um valor muito próximo do de 2003.

Indicadores de mortalidade em ondas de calor em Portugal entre 2003 e 2020


 
 
* Média de graus Celsius acima de temperatura máxima normal
Fonte: Sousa, P.M., Trigo, R.M., Russo, A. et al. (2022)

A Europa foi novamente abalada pelo calor em 2022

Se 2003 foi uma chamada de alerta, 2022 veio mostrar que, duas décadas depois, a Europa continuava vulnerável. O Verão de 2022 foi o mais quente na Europa desde que há registos de temperaturas. Entre maio e setembro, houve quase 62 mil mortes adicionais em 35 países, segundo um estudo liderado por investigadores espanhóis. Em Portugal, foram 2212 mortes, quase o mesmo número de 2003. Foi o quarto país com mais mortes por milhão de habitantes. O estudo, publicado na revista Nature Medicine, conclui que as medidas até agora adotadas pelos países europeus para lidar com as ondas de calor não são suficientes.

Mortalidade associada ao calor entre maio e setembro de 2022

 
Fonte: Ballester, J., Quijal-Zamorano, M., Méndez Turrubiates, R.F. et al. (2023)

Muitas cidades já se estão a adaptar ao calor

A estratégia número um para reduzir a mortalidade em ondas de calor é preparar as cidades. Em Portugal, 68% da população vive em espaço urbanos. Na Grécia são 81% e em Espanha, 82%. Em alguns países, chega aos 100%. Muitas cidades estão a adotar medidas para além dos planos de contingência e alertas de calor. Eis alguns exemplos.


Diretor municipal do calor

Pelo menos cinco cidades – Florida, Atenas, Freetown, Melbourne e Dhaka – têm um “chief heat officer”, equivalente a um diretor municipal para o calor. A sua função é coordenar toda a ação relacionada com as ondas de calor, seja preventiva ou durante crises. O objetivo é centralizar a resposta, normalmente dispersa por diversos agentes.

Mapas de vulnerabilidade

Mostram as áreas mais sensíveis às ondas de calor, já que a temperatura pode variar muito dentro da mesma cidade. Lisboa tem uma mapeamento detalhado, mostrando que as ilhas de calor são mais intensas no Parque das Nações e na Baixa. Os mapas de vulnerabilidade permitem a utilização de índices de calor localizados, para uma melhor resposta.


Telhados e pavimentos refletores

Utilizar revestimentos com cores mais claras nos telhados e pavimentos, que refletem a luz solar, pode reduzir substancialmente o calor urbano. Los Angeles está a pintar parte das suas ruas, através do programa Cool Streets LA. E Nova Iorque, através do programa CoolRoofs, está a promover o mesmo nos telhados dos edifícios.


Pontos de arrefecimento

Nada como sombra, água e ar condicionado para refrescar. Em Paris, pulverizadores automáticos têm vindo a ser instalados em antigos fontanários. Dezenas de parques ficam abertos à noite no Verão. Muitas outras cidades divulgam a localização de espaços públicos com ar condicionado onde as pessoas mais vulneráveis podem se proteger do calor.


Áreas verdes

Aumentar o número de árvores numa cidade reduz a absorção do calor pelos edifícios e fornece mais áreas de sombra. Melbourne, na Austrália, tem em curso um plano para elevar a 40% a cobertura verde da área urbana até 2040. Em Atenas, os cidadãos são incentivados a adotar uma árvore, para evitar que morram sem água no Verão.


 

Fontes

Estudos cientíticos
Ballester, J., Quijal-Zamorano, M., Méndez Turrubiates, R.F. et al. (2023). Heat-related mortality in Europe during the summer of 2022. Nat Med 29, 1857–1866

Robine, Jean-Marie et. al. (2008). Death toll exceeded 70,000 in Europe during the summer of 2003. Comptes Rendus. Biologies, Volume 331 (2008) no. 2, pp. 171-178

Romanello, M., et. al. (2023). The 2023 report of the Lancet Countdown on health and climate change: the imperative for a health-centred response in a world facing irreversible harms, The Lancet. Vol. 402, No. 10419

Sousa, P.M., Trigo, R.M., Russo, A. et al. (2022) Heat-related mortality amplified during the COVID-19 pandemic. Int J Biometeorol 66, 457–468

Zhao Q., Li S., Ye T., Wu Y., Gasparrini A., Tong S., et al. (2024) Global, regional, and national burden of heatwave-related mortality from 1990 to 2019: A three-stage modelling study. PLoS Med 21(5).

Base de dados
Divisão de População das Nações Unidas/World Population Prospects: 2022 Revision

NOAAGlobalTempv6/Copernicus.

Infografia e desenvolvimento de José Alves e Ricardo Garcia


 

 

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