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Seis excertos do ensaio «O valor da arte»

Recolhemos algumas citações do livro de José Carlos Pereira. Leia-as aqui
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O ensaio de José Carlos Pereira aborda vários temas, entre os quais: como é aferido o valor de obras de arte de várias épocas históricas; como está organizado o sistema de arte contemporâneo; e que políticas públicas foram e devem ser seguidas nesta área. Recolhemos seis citações do livro.

Como se determina o valor de uma obra de arte? «O preço é fixado em função da expectativa que a galeria tem em relação ao potencial interesse e à disponibilidade financeira dos coleccionadores que tem em carteira, ou que sabe que poderão estar interessados na compra da obra. Neste sentido, podemos admitir que o facto de o valor de uma obra de arte não ser fungível poderá autorizar estas práticas, embora a difícil regulação do mercado não deva ser equivalente a uma ausência total de regulação.» (pág. 19)

De que arte falamos? «Por oposição à arte antiga e moderna, na qual os critérios de atribuição de autoria e de autenticidade das obras constituem predominantemente a preocupação de críticos e especialistas quanto à determinação do seu valor de mercado, a arte contemporânea oferece uma maior incerteza e instabilidade, já que os factores que determinam o seu preço dependem da interacção e da revisão permanente que dela fazem os conservadores de museus de arte contemporânea, os críticos, os historiadores, os galeristas e os coleccionadores, públicos e privados, que seguem os seus respectivos interesses científicos, estéticos ou financeiros, respectivamente; grandes exposições internacionais, ou a definição programática das grandes bienais podem reclassificar o valor de uma obra e do seu autor.» (págs. 24 e 25)

Quão complexo é avaliar a arte contemporânea? (1) «A ideia largamente difundida de que a compreenão da arte contemporânea é essencialmente uma tarefa de especialistas radica na aceitação de um duplo pressuposto, no que diz respeito à progressiva especialização da produção, da recepção e do consumo de obras de arte: por um lado, a prática artística tornou-se uma actividade auto-referencial, ou seja, a obra de arte resulta de uma prática crítica acerca da sua própria natureza [...]; por outro lado, [...] essa especialização é fruto de um dispositivo comunicacional em rede, cuja sofisticação apenas é dominada por pessoas com uma formação específica nesse domínio; segundo este dispositivo, quem detém a informação possui o poder de activar a "legitimação" da arte». (pág. 28)

Quão complexo é avaliar a arte contemporânea? (2) «Dada a volatilidade do mercado da arte contemporânea, as motivações estritamente comerciais da aquisição de uma obra de arte polarizam-se entre a reserva de valor (a longo prazo), o investimento (a médio prazo) e a especulação (a curto prazo). Nesta perspectiva, é difícil responder a todos aqueles que buscam uma "fórmula" para reconhecerem de imediato as obras que poderão constituir o melhor investimento, sendo que um conhecimento aprofundado dos movimentos e das relações que tecem o sistema poderá ajudar bastante, sem prejuízo da sensibilidade e da própria cultura artística do investidor ou coleccionador.» (pág. 50)

Que políticas públicas para a arte em Portugal? (1) «Independentemente dos esforços políticos e da sociedade em geral, regista-se ainda a falta de vontade, que a escassez de recursos agrava, de implementar uma política estrutural e estruturada da cultura, instrumentalizada que está, muitas vezes, à satisfação de clientelas políticas, interesses meramente partidários, económicos, ou de conjuntura.» (pág. 94)

Que políticas públicas para a arte em Portugal? (2) «A valorização acelerada da cultura popular, em oposição muitas vezes à herança da cultura erudita, cultivada pelas elites, cativou a atenção e o apoio mecenático de empresas privadas, dado o potencial alargamento de clientes, e, consequentemente, o possível retorno económico. Face a uma adiada política cultural, justa e ponderada, pode correr-se o risco de cairmos num relativo populismo cultural, já que o mercado tende a premiar certas práticas culturais em detrimento de outras, sendo aí absolutamente necessário o papel do Estado como garante de pluralidade democrática, por via do acesso a vários tipos de expressão cultural.» (págs. 94 e 95)

O ensaio «O valor da arte» está disponível na loja online da Fundação, com 10% de desconto imediato e portes de envio gratuitos.
Para os interessados, outra forma de introdução à obra foi feita pelo autor José Carlos Pereira, num texto para o blog da FFMS.

O acordo ortográfico utilizado neste artigo foi definido pelo autor

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Portuguese, Portugal