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Imagem ilustrativa do artigo da psiquiatra Sofia Gomes sobre o sono

Para dormirmos melhor não deveríamos mudar os relógios para a hora de verão

Desde a Primeira Guerra Mundial que, para poupar energia, se instituiu um horário de verão. Mas, alerta a psiquiatra e especialista em sono Sofia Gomes, «deveríamos manter o horário constante ao longo do ano, de preferência o de inverno, uma vez que este é mais próximo do horário real do sol e do nosso relógio interno». Os portugueses dormem pouco e têm hábitos de sono inadequados, alerta.

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Quais são os efeitos de uma noite mal dormida a nível físico e psicológico? 

Os efeitos de uma noite mal dormida são múltiplos e variados, com o cansaço e falta de energia no dia seguinte a destacarem-se entre os mais evidentes. Além disso, ocorre uma diminuição da coordenação motora e da capacidade de realizar tarefas que exijam precisão, bem como um aumento do apetite, com preferência por alimentos mais calóricos, e uma possível elevação da tensão arterial. No domínio psicológico, é expectável sentir irritabilidade, ansiedade, maior sensibilidade à dor, dificuldades de concentração e prejuízo no desempenho cognitivo. 

Quando a privação de sono é uma constante, as consequências para o corpo humano tornam-se significativamente mais graves, aumentando o risco de desenvolvimento de doenças como a hipertensão, diabetes, obesidade, depressão e problemas cardiovasculares. 

 

Os horários de sono estão ligados às horas do dia, em especial ao nascer e pôr do sol. É pelo sol que devemos regular o sono? 

O cronotipo dos portugueses - definido como a predisposição natural para estar mais alerta e ativo ou, inversamente, mais cansado e sonolento em determinados períodos do dia -, tende a ser, em média, mais tardio quando comparado com o de outros países que se encontram no mesmo fuso-horário. Este fenómeno pode ser uma das razões pelas quais os portugueses possuem horários de refeições mais tardios, deitam-se mais tarde e encontram maior dificuldade em iniciar o seu dia. 

Considerando que Portugal se situa na porção sudoeste do fuso-horário do Tempo Médio de Greenwich e que, dentro do mesmo fuso-horário, a hora social permanece constante, enquanto a hora solar se atrasa progressivamente de este para oeste, é compreensível que tal situação dê origem a uma fase circadiana mais tardia. Consequentemente, observam-se maiores discrepâncias entre a hora social e a hora biológica dos indivíduos.  

 

É fundamental que as crianças durmam mais horas diariamente, de forma a satisfazer as exigências de um desenvolvimento físico e cognitivo acentuado.
Psiquiatria no Centro Hospitalar Universitário de Santo António

Os ritmos de sono variam ao longo da vida. É por isso que, por exemplo, os adolescentes dormem até mais tarde? Ou as crianças devem fazer sesta? 

O sono evolui e modifica-se desde o nascimento até à velhice, adaptando-se continuamente às necessidades do organismo, em particular do cérebro, nas diferentes fases da vida. 

Durante a infância, é fundamental que as crianças durmam mais horas diariamente, de forma a satisfazer as exigências de um desenvolvimento físico e cognitivo acentuado. As sestas são essenciais para assegurar o número adequado de horas de sono diário, bem como para a consolidação das aprendizagens e reposição da energia ao longo do dia. 

Na adolescência verifica-se um atraso de fase do sono fisiológico, resultando numa predisposição para permanecer acordado até mais tarde durante a noite e acordar mais tarde no dia seguinte, caso as exigências sociais o permitissem. 

Ao alcançar a idade adulta, observa-se uma redução no número de horas de sono necessárias, que se situa entre 7 a 9 horas por noite, com uma tendência para adotar horários de deitar e levantar mais cedo. 

Nos idosos, o tempo total de sono diminui e este torna-se mais leve e fragmentado. Vários fatores, como dessincronização dos ritmos circadianos, doenças crónicas, alterações sociofamiliares, isolamento social e mudanças no estilo de vida, contribuem para estas mudanças. 

A maioria das alterações do sono observadas na população portuguesa não resultam de patologias primárias do sono
Psiquiatria no Centro Hospitalar Universitário de Santo António

Os distúrbios do sono estão a aumentar entre os portugueses. Este é um problema de saúde pública que tem sido desvalorizado pelo Serviço Nacional de Saúde? 

O Serviço Nacional de Saúde dispõe de serviços e profissionais altamente especializados e competentes no diagnóstico e tratamento das perturbações do sono. Contudo, o acesso a estes serviços pode ser insuficiente devido à limitação de recursos disponíveis.  

Importa, no entanto, salientar que a maioria das alterações do sono observadas na população portuguesa não resultam de patologias primárias do sono, mas sim de condições secundárias associadas a outras patologias - tanto físicas como mentais -, bem como a hábitos de sono inadequados.  

A intervenção deve, portanto, concentrar-se na melhoria do conhecimento relativo às características e funções do sono, na mitigação das patologias subjacentes e na alteração de comportamentos e hábitos que comprometem a qualidade do sono. 

A implementação de programas educacionais que aumentem a literacia sobre a importância do sono e a promoção de hábitos de higiene de sono, bem como a criação de estratégias que facilitem o diagnóstico e tratamento de patologias subjacentes, são recomendáveis e poderão contribuir significativamente para a melhoria da qualidade do sono da população. 

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