"Os Fun(aholics)"
Nada mudou tantos nas últimas décadas como a forma como se encara o trabalho, desde que este conceito foi inventado. A par da alteração profunda na estrutura das organizações, que para reagirem a um mercado em constante evolução tiveram de se reinventar, as pessoas que as compõem foram obrigadas também a encontrar novas formas de criarem valor e de o demonstrarem num mundo em contínua mutação.
Assim, assistimos a uma evolução das estruturas tipicamente piramidais para estruturas mais flexíveis, celulares, em rede, onde se começa a incorporar a inteligência artificial, cuja configuração faz apelo a novas formas de configuração do trabalho e, consequentemente, dos indivíduos que as compõem.
A progressão deixou de ser obrigatoriamente vertical para ser também horizontal, onde o que se valoriza é a experiência específica que se cria em cada desafio profissional, sendo o somatório dessas experiências criador de valor para a organização e para os indivíduos, ajudando-os assim a irem progredindo enquanto acumulam conhecimento.
Das várias características que definem os millennials – e considerando os nascidos entre o início dos anos 1980 e os finais de 1990 – ressaltam o serem nativos digitais, globais, sempre conectados e presentes nas redes sociais e “viciados” no online. O facto de a grande maioria ter feito parte da sua formação no estrangeiro, participando em Erasmus ou em programas de intercâmbio, dá-lhes a sensação de terem conhecimento do que se passa no mundo, muito para lá do conhecimento teórico e à distância e, um sentimento de pertença a uma comunidade dispersa geograficamente.
São activos, enérgicos, muito rápidos e têm uma grande preocupação em viver a vida e desfrutar o “hoje”, aproveitando todas as oportunidades que a vida lhes proporciona. São tendencialmente “nómadas” e valorizam um estilo de vida despreocupado, sem grandes angústias com o amanhã.
Conceitos como “emprego para a vida” estão em vias de extinção e não lhes fazem a mínima das ressonâncias. “Vestir a camisola”, serem “fiéis” e “confiar” numa organização, também não. Querem mudar, fazer coisas diferentes, interagir, estarem conectados com o mundo, serem constantemente desafiados e ver no dia-a-dia resultados do seu trabalho – é isto que procuram e que prezam. Querem envolver-se, trabalhar com paixão e vibram quando vêem o resultado do seu esforço.
Um dos aspectos que considero mais positivos é o da procura de equilíbrio entre as várias áreas das suas vidas. Na vida profissional são mais cooperativos do que competitivos, gostam e são particularmente capazes de trabalhar em equipa e não estão dispostos a sacrificar a sua vida pessoal. Filhos de pais que hipervalorizam as carreiras profissionais, os millennials não querem carreiras como as dos pais. Privilegiam as relações com o seu grupo de amigos. São funaholics e não workaholics.
Dos vários estudos efectuados sobre esta geração, ressalta que irão mudar de emprego mais de 10 vezes ao longo da sua vida. Estas mudanças irão ser motivadas pela procura constante de novas oportunidades e de experimentarem novas realidades.
Encaram a vida profissional com entusiasmo e procura de sentido. Tendem a preferir trabalhar em empresas inovadoras, flexíveis, onde sejam reconhecidos e procuram criar o seu espaço e deixar a sua impressão digital. Horários rígidos, tarefas monótonas e sobretudo empresas que não os valorizam tendem a ser descartados. Rapidamente procuram alternativas profissionais.
Têm um profundo sentido de responsabilidade social e acreditam que os negócios são uma força positiva com impacto social. Se não vislumbram este sentido nas organizações onde trabalham, rapidamente procuram outra empresa. Querem ser livres e dar contributos positivos, serem reconhecidos e constantemente desafiados. Fogem de trabalhar por sistema durante muitas horas. Querem “vida” para lá do trabalho, viajar e, sobretudo, estarem sempre conectados ao mundo e aos amigos.
De acordo com os inúmeros estudos e relatórios publicados sobre a geração millennial, em 2020 mais de 45% da força de trabalho é composta por esta geração. Há empresas que estão a fazer esforços titânicos para criarem condições de atractividade e conseguirem reter os melhores. Organizações que proporcionem flexibilidade de horários, possibilidade de trabalharem fora do escritório e envolvimento em projectos onde a criatividade, a inovação e o sentido de propósito estejam presentes, serão aquelas que terão mais condições para alimentar e reter esta geração. Por outro lado, os millennials vão amadurecer e possivelmente alterar as suas prioridades. Um dos aspectos que irão ter melhor é a resiliência. Têm um défice de resiliência e a vida vai ensinar-lhes que é fundamental desenvolver esta competência.
Focando-me nesta geração (…) e baseando-me na minha experiência e do meu ponto de observação, aqui ficam alguns conselhos:
Top Performers
Procurem ser muito bons naquilo que fazem, escolhendo o que lhes permite estar claramente acima da média. Ser bom significa exceder as expectativas, envolver-se com paixão e entregar o que prometem e, sobretudo, serem generosos, íntegros, transparentes e… humildes.
Master Plan
Tenham um plano do que querem fazer na vida, pessoal e profissional. Neste plano, é tão importante saberem o que querem, como o que não querem. Ir revisitando com regularidade o plano e ir fazendo as alterações necessárias. O Master Plan não tem de ser estático, mas, sim, ajudar a monitorizar.
Learning Agility
Nunca parar de aprender, de querer saber mais, de procurar conteúdos que sejam úteis e possibilitem acrescentar valor sempre. Não fiquem agarrados ao que já sabem, aventurem-se por novas áreas do saber e não tenham receio de sair da vossa área nativa de formação.
*Este texto é um dos capítulos do livro “Como Chegar a Líder – 600 conselhos de carreira (vindos de quem sabe)”, edições Redcherry, 2017
*O acordo ortográfico utilizado neste artigo foi definido pelo autor