Comunicar (ciência) é preciso
«Comunicar ciência não é só uma obrigação de quem recebe fundos públicos para a sua investigação, deve ser um compromisso assumido e acarinhado pelas universidades como um todo.»
Ajudar a melhorar a cultura científica da população tem de ser uma tarefa essencial das instituições universitárias, numa altura em que o mundo assiste a alguns dos maiores ataques de sempre às decisões baseadas nas evidências. Só assim será possível criar uma sociedade mais informada e mais capaz de tomar decisões fundamentais para a sua própria sobrevivência.
Os movimentos que promovem a pseudociência – da credibilização da homeopatia ao ataque às vacinas, da negação do aquecimento global à negação do Holocausto – só podem ser devidamente ignorados se a sociedade como um todo compreender e valorizar o conhecimento científico que emerge das universidades e dos institutos de investigação.
Por este motivo, a comunicação de ciência não é (não deve ser) mais uma tarefa a que os universitários se dedicam, apenas porque precisam de preencher uma alínea do mais recente formulário para obtenção de fundos. A comunicação de ciência tem de fazer parte da sua própria formação, tem de espalhar-se por todos os cantos dos laboratórios, tem de passar para além dos muros que ainda se erguem entre sábios e leigos.
Comunicar ciência não é só uma obrigação de quem recebe fundos públicos para a sua investigação, deve ser um compromisso assumido e acarinhado pelas universidades como um todo. O seu papel como formadoras de uma opinião pública responsável estará completamente cumprido quando os seus docentes e investigadores passarem da comunicação entre pares para o espaço público sem trincheiras.
Precisamos de mais cientistas a intervir nos media, na Internet, nos museus e centros de ciência, nas redes sociais. Precisamos que nos alimentem a curiosidade inata, nos falem do fascínio da descoberta, nos esclareçam que é saudável questionar. Se as universidades contribuírem para este desígnio comum estarão certamente a cumprir um dos seus mais nobres papéis.
António Granado é professor na Universidade NOVA de Lisboa. É co-autor do estudo Cultura Científica em Portugal, publicado pela FFMS.
O acordo ortográfico utilizado neste artigo foi definido pelo autor