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5 Leituras #16, por José Manuel Sobral: Desigualdade e nacionalismo no mundo

5 Leituras #16, por José Manuel Sobral: Desigualdade e nacionalismo no mundo

ugestões de leitura de José Manuel Sobra, autor do livro «Portugal, Portugueses: Uma identidade nacional», publicado pela FFMS.
4 min
Novo artigo da rubrica «5 Leituras», em que um autor da Fundação sugere a leitura de cinco artigos publicados na internet, em língua portuguesa, espanhola ou inglesa. Desta vez publicamos as sugestões de José Manuel Sobral, autor do livro «Portugal, Portugueses: Uma identidade nacional».

 

As mudanças políticas registadas no último ano, com destaque para o Brexit e para a eleição presidencial de norte-americana, levaram a que o nacionalismo voltasse a receber a atenção dos media internacionais, de que haviam estado em grande medida afastados no tempo anterior à crise financeira. Até então, difundira-se uma narrativa influente, que associava a mobilidade sem precedente das populações e dos capitais, bem como a construção de entidades supra-nacionais à superação dos Estados-nação e das identidades nacionais. Acontecimentos como os referidos e o próprio processo de globalização, com o crescimento das desigualdades inerente, têm sido citados como elementos que estarão na base do ressurgimento do nacionalismo.

Seleccionei alguns textos que se encontram disponíveis que nos ajudam a interpretar estes movimentos e as suas relações com a globalização.

Widespread revolt against the political centre
Gavin Hewitt para a BBC News
(Em língua inglesa)

O primeiro destes textos debruça-se sobre o ressurgimento do nacionalismo na Europa, tendo como pano de fundo o afrontamento entre “duas narrativas” da globalização. A primeira vê a globalização existente como benéfica, embora reconheça a perda de postos de trabalho nas indústrias (dos países ocidentais), e está aberta à existência de múltiplas identidades além da nacional. A segunda insiste no lado negativo destes processos: desemprego industrial e desvalorização dos salários devido à concorrência dos imigrantes, e perda de importância da soberania democrática, que impõe politicas decididas por outrem. Embora este texto, que falava do colapso do “centro”, seja muito anterior à vitória de Macron, ele permanece como um guia acessível dos afrontamentos político-ideológicos na actualidade.

US against the world?
Artigo de Francis Fukuyama para o Financial Times
(Em língua inglesa)

Este artigo de Francis Fukuyama foi escrito imediatamente a seguir à eleição presidencial americana e constitui uma interpretação dos seus resultados. Para o autor, a eleição de Trump revelou um descontentamento profundo na sociedade americana, que se traduziu na hostilidade da classe trabalhadora industrial, profundamente atingida pela deslocalização das empresas e pela concorrência internacional, face às lideranças partidárias estabelecidas. O acento que coloca na classe social – sobretudo definida em termos de capital escolar – enquanto factor explicativo das opções políticas é um dos elementos relevantes nesta proposta, que analisa as razões que levam ao apego às identidades nacionais nos EUA e em outros países.  

Cities can provide a sanctuary against Brexit – and Trump
Tristram Hunt para o Guardian
(Em língua inglesa)           

Tristram Hunt é um antigo deputado trabalhista, hostil à liderança de Corbyn,  e historiador. Também ele reflectiu sobre o significado social do Brexit e da eleição de Trump. Em seu entender, estes eventos revelam a fractura entre o sentir maioritário de metrópoles, tidas como cosmopolitas, e áreas não-metropolitanas como as antigas zonas industriais, classificadas como comunitárias. A sua simpatia vai para as metrópoles, embora reflicta sobre a necessidade de as elites prestarem atenção aos outros. Este texto oferece uma leitura complementar e em contraponto à de Fukuyama. 

What happened when Walmart left
Ed Pilkington para o Guardian
(Em língua inglesa)

Os problemas colocados pela extinção e pela deslocalização da produção não são apenas os do desemprego. Eles afectam todo o tecido económico local, o equipamento urbano, o quotidiano e as perspectivas de futuro das pessoas. Não admira que a percepção de indiferença sentida por muitos dos atingidos por estes processos se transforme em ressentimento. O texto seguinte constitui uma verdadeira abordagem etnográfica das implicações do fecho de um centro comercial americano para as pessoas de um condado norte-americano, que parece ter sido deixado para trás.

‘Global Inequality: A New Approach for the Age of Globalization’, by Branko Milanovic
Recensão de Martin Wolf para o Financial Times
(Em língua inglesa)

Branko Milanovic é um dos economistas mais influentes no estudo da desigualdade, tendo inclusivamente um livro já editado em Portugal, “Ter ou não Ter”. Trabalhou no Banco Mundial e é actualmente professor na CUNY (City University of New York). A sua última obra, Global inequality: A New Approach for the Age of Globalization  (2016, Harvard University Press) é um trabalho importante sobre as desigualdades intra-nacionais e internacionais, os processos de globalização e quem ganha e perde com eles. Além disso, proporciona pistas para a compreensão da relação entre desigualdade económica, reacções políticas e nacionalismo populista. A recensão de Thomas Wolf no Financial Times (14-04-2016) chama a atenção para alguns dos aspectos mais relevantes desta obra. [Branko Milanovic é um dos convidados do Encontro da Fundação, no dia 30 de Setembro.]

José Manuel Sobral é autor de «Portugal, Portugueses: Uma identidade nacional», ensaio publicado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos.

O acordo ortográfico utilizado neste artigo foi definido pelo autor.

Portuguese, Portugal