Anil Gupta: globalização não é assim tão simples

«Existe uma clara Guerra Fria entre os EUA e a China, mas distingue-se daquela entre os EUA e a União Soviética e é «bem mais perigosa». O alerta é dado por Anil Gupta, o reconhecido perito em globalização, mercados emergentes e inovação, que garante que a China não é, em termos económicos, um «pigmeu» como era a potência soviética em comparação com o «gigante» americano.

Analisando a que considera ser «a maior questão geopolítica da atualidade», o especialista defende que a «China é uma potência tecnológica, industrial, económica e militar», lembrando que a relação com o EUA «não está realmente a melhorar».

Além do embate entre superpotências, Anil Gupta afirma que «o crescimento dos mercados emergentes» também tem alimentado tensões geopolíticas.

Se em 2000, eram 20 as economias emergentes hoje o seu número mais do que duplicou. E o crescimento destas economias deverá manter-se estável nos próximos anos, realça o especialista. Isto significa que os mercados emergentes – o da China e da Índia, mas também o da Indonésia, do Brasil e da Nigéria – estão a tornar-se «não só importantes em termos económicos como também em termos políticos».

Classificado pela «Thinkers50» como «um dos pensadores de gestão mais influentes do mundo», Anil Gupta recorda o risco associado às cadeias de abastecimento, que a pandemia já evidenciara. O caso dos equipamentos médicos usados nos EUA é paradigmático. Nos últimos 20 anos a maioria das luvas usadas pelos cirurgiões norte-americanos veio da china. «No caso de um conflito com a China, «quererão os EUA ficar dependentes de um artigo tão simples?».

Outro dos aspetos positivos trazidos pela globalização é a tecnologia. Nesta entrevista, Gupta considera que «a inteligência artificial é a tecnologia mais poderosa que a Humanidade já inventou».

Mas lembra os riscos que lhe estão associados a longo prazo. «Daqui a 50 anos a IA irá tratar os humanos como nós hoje tratamentos as formigas?».