Sentir-se só é tão perigoso para a saúde como fumar 15 cigarros por dia
Pedimos a Maria Luísa Pedroso de Lima que explicasse brevemente, através de perguntas e respostas, o conteúdo do seu novo ensaio para a Fundação: 'Nós e os outros: o poder dos laços sociais'.
O que são os «laços sociais»?
São as ligações que mantemos com os outros, e que nos constroem como pessoas. Desde as relações mais próximas com pessoas com quem conversamos sobre problemas delicados, até às mais superficiais que mantemos diariamente com colegas de trabalho ou aos encontros mais ocasionais com companheiros em associações desportivas ou cívicas.
De que trata o livro?
Este livro procura mostrar que estas relações são fundamentais para nos tornarmos quem somos. Desde que nascemos que dependemos dos laços sociais para sobrevivermos, e é a partir destes laços que construímos as nossas preferências, os nossos interesses e mesmo a nossa maneira de estar no mundo. Partindo de estudos e teorias da Psicologia Social, este livro também mostra que o nosso comportamento é muito influenciado pelos contextos em que nos encontramos e que, por isso, agimos de forma diferente e somos pessoas diferentes dependendo das relações e dos contextos.
Na primeira parte, intitulada «Os laços com os outros na construção de quem somos», analisamos como é construída a ideia que fazemos de nós próprios e mostramos que, mesmo nos momentos mais íntimos, somos o resultado da interacção com as outras pessoas. Na segunda parte, a que chamámos «Os laços com os outros na construção da nossa forma de estar no mundo» vamos ver como é que as ligações que mantemos com os outros influenciam a nossa forma de ver o mundo e os nossos comportamentos. Finalmente, na terceira parte, «Os laços com os outros e a saúde», vamos abordar como é que a relação com os outros influencia a nossa saúde física e mental.
Sabia que grande parte das ideias que temos sobre nós próprios não correspondem a avaliações objetivas?
Apesar de acharmos que nos conhecemos melhor que ninguém, a investigação mostra que a correspondência que existe entre autoavaliação e desempenho objectivo é da ordem dos 30%. As ideias que fazemos sobre nós mesmos são recriadas constantemente com base no que selectivamente recordamos, das comparações que fazemos com os outros e do que os outros dizem sobre nós.
Sabia que o grupo em que nos encontramos nos pode tornar heróis ou cobardes?
A pesquisa sobre a forma como a pertença aos grupos molda o nosso comportamento mostra que o grupo nos pode levar a agir de formas que não imaginaríamos. A identificação com o grupo pode fazer com que ignoraremos os riscos pessoais para salvar outras pessoas ou para fazer o grupo sobreviver. Mas nos pode também levar a calarmos críticas ou a olharmos para o lado em situações complicadas para não termos de afrontar a autoridade ou os outros membros do grupo.
Sabia que o que distingue as pessoas felizes das infelizes é o tipo de laços sociais que mantêm?
Os estudos sobre as pessoas felizes mostram que elas confiam mais nos outros e estão mais ligadas às outras pessoas. As pessoas felizes convivem mais frequentemente com amigos, vizinhos, familiares ou colegas, afirmam com mais frequência que têm alguém com quem falar de assuntos íntimos, e sentem-se mais ligados aos outros e a colectivos do que as pessoas infelizes.
Sabia que a falta de relacionamento social é pior para a saúde do que o excesso de álcool ou de tabaco?
A investigação mostra claramente que a falta de relacionamento social está mais associada ao aumento do risco de morte prematura do que outros males bem conhecidos. A obesidade aumenta em 20% a probabilidade de morte prematura. Beber demais, aumenta 30%. Mas o isolamento social é pior – aumenta a probabilidade de morte prematura em 45%! Estar isolado, sentir-se só, é tão perigoso para a saúde como fumar 15 cigarros por dia. Por isso mesmo, a solidão é hoje considerada um problema de saúde pública.