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5 Leituras #8, por Sofia Guedes Vaz: De Thoreau e Eça a Monbiot e Monjardino

5 Leituras #8, por Sofia Guedes Vaz: De Thoreau e Eça a Monbiot e Monjardino

Sugestões de leitura de Sofia Guedes Vaz, a autora de «Ambiente em Portugal». Oitavo artigo da rubrica «5 Leituras» da FFMS.
4 min
Novo artigo da rubrica «5 Leituras», em que um autor da Fundação sugere a leitura de cinco artigos publicados na internet. «Ler é preciso. Informa, convoca, sensibiliza, encanta, alerta. Nesta pequena lista de recomendações sugiro cinco textos que vão ao encontro desses verbos».

 

Informar. Todos os anos é publicado em Portugal um Relatório de Estado do Ambiente (REA) com o objectivo de avaliar e comunicar o estado do ambiente. Nestes relatórios anuais apresenta-se uma série de indicadores que permite perceber o estado do ambiente, e aferir se atingimos as metas que foram definidas internamente ou exigidas pela União Europeia. Estes REA constituem ferramentas úteis de apoio à definição, execução e avaliação da política do ambiente, mas são também uma fonte de informação e comunicação. O último é de 2016. Informativo.

Convocar. A exaltação da natureza e a convivência com a natureza são matéria intemporal de literatura e poesia. A construção de imaginários e de narrativas sobre a natureza convocam-nos para uma sensibilidade acrescida. Walden, ou a vida nos bosques, de Henry David Thoreau (1854) é uma celebração do mundo natural e uma sugestão de alternativa a uma sociedade que começava a industrializar-se e a enaltecer o progresso material de forma acrítica. O livro é a partilha de uma jornada de exploração natural e espiritual em busca de autenticidade. Thoreau acreditava que observar e compreender a natureza nos ajudava nessa peregrinação interior de descoberta do que é importante para o nosso desenvolvimento como pessoas. A ler e reler. 

Sensibilizar. A Cidade e as Serras, de Eça de Queirós, que não era certamente um ambientalista, mas aproximou-se perigosamente disso com este livro que nos conta a história de Jacinto, nascido e criado em Paris mas com riqueza produzida nas "terras de semeadura, de vinhedo, de cortiça e de olivados" dos seus antepassados em Portugal. Escrito no final do século XIX, há descrições que parecem escritas ontem, tal a actualidade das suas observações. Eça antevia que a técnica e o progresso eram, no fundo, mais vazios do que as promessas do novo mundo que vaticinavam. O reencontro com o campo e com a simplicidade fizeram Jacinto compreender a vacuidade de uma riqueza material estéril. De um sumptuoso 202, nos Campos Elísios, que era uma montra de progresso técnico, com electricidade, elevador, telefone, conferençofone, teatrofone, máquina de escrever, e uma biblioteca com mais de trinta mil volumes, Jacinto vai para Tormes numa viagem atribulada que o faz chegar apenas com a roupa que tem no corpo, para uma casa em ruínas, sem mobília e sem que ninguém saiba que ele está a chegar. Jacinto vai deixando seduzir-se pelos cheiros, pelas cores, pelas estrelas, pelo ar da Serra e nunca mais de lá sai. No final ficamos, tal como o seu amigo e narrador, Zé Fernandes, convencidos de que vir da cidade para a serra é, afinal, uma promoção além de também uma viagem de descoberta interior. Livro que sensibiliza para uma reflexão sobre o papel do consumo na nossa felicidade.

Encantar. Miguel Monjardino tem um projecto encantador nos Açores. A leitura de obras clássicas, homéricas e não só, por grupos de jovens pré-universitários, num esquema global de leitura, discussão, aprendizagem, vivência e experiência faz-nos apetecer ser jovens e açorianos e entrar na aventura que Monjardino descreve neste seu texto intitulado uma República no Atlântico publicado na Revista Americana City Journal. Inspirador até mais não.

Alertar. George Monbiot é um jornalista inglês que ao longo dos últimos anos tem denunciado e alertado para vários problemas de ambiente e não só. É um provocador nato. O seu site tem as crónicas escritas principalmente para o jornal inglês The Guardian. Vários artigos são interessantes, mas apontaria este escrito no início do ano sobre as alterações climáticas e as mudanças políticas nos Estados Unidos. O paradoxo da poluição, que começa fintando um dos poemas mais bonitos de W.H. Auden.

O general romano Pompeu encorajava marinheiros receosos com a frase Navigare necessevivere non est necesse. Mais tarde Petrarca escrevia “Navegar é preciso, viver não é preciso.”. Fernando Pessoa escreveu há mais de 100 anos “Quero para mim o espírito dessa frase”.

Inspiração para Ler é preciso

Sofia Guedes Vaz é autora do ensaio «Ambiente em Portugal», publicado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos.

O acordo ortográfico utilizado neste artigo foi definido pelo autor.

Portuguese, Portugal