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«Tu és livre e deves libertar-te». Frases de Vergílio Ferreira para este Dia Mundial da Liberdade

«Tu és livre e deves libertar-te». Frases de Vergílio Ferreira para este Dia Mundial da Liberdade

Assinalamos este dia com um texto do autor português, destacado pela Fundação numa antologia com partes de vários textos clássicos sobre o conceito e a importância da liberdade.
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O livro «À procura da Liberdade», publicado pela Fundação, é uma antologia de textos de Aristóteles, Maquiavel, Hobbes, Locke, Hume, Montesquieu, Rousseau, Voltaire, Adam Smith, Kant, Stuart Mill, Marx, Popper, Berlin, etc. Citamos aqui o último texto da colecção, curiosamente de Vergílio Ferreira.

«Tu és livre e deves portanto libertar-te.

A liberdade começa em saberes o que te oprime. Não bem em haver opressão, mas em reconhecê-la como tal. Porque pode haver opressão e tu julgá-la uma fatalidade; porque pode haver opressão e convencerem-te de que é necessária para a liberdade que te prometem.

Só a liberdade absoluta é um perpétuo horizonte, para lá de todos os horizontes, que é o horizonte do impossível. Mas é nos limites humanos que tu hás-de querer ser livre e esses são os limites do homem, ou seja, do possível. Por isso não aceites que te inventem a liberdade mas apenas que te ajudem na tua libertação. Não admitas que ninguém seja livre por ti, mas assume tu próprio essa difícil dignidade. Reduz ao máximo o baldio para os outros, para que sejas tu ao máximo em tudo aquilo que fores. Não consintas que alguém seja a tua própria voz e chame à sua vontade a vontade que é tua.

Ninguém é livre sozinho, porque o é apenas com os outros. Assim, só com os outros tu o poderás ser. Mas ser livre com os outros não é serem-no os outros por ti.

Que a fronteira da tua liberdade te não seja a porta da casa para que tu sejas livre dentro e fora dela. Que a tua liberdade comece no pão que te espera à mesa e persista no desconhecido que te espera na rua; na palavra que pensaste e naquela que disseste; na paz do teu sono e na agitação da vigília; naquilo que és para ti e no que houveres de ser para os outros; naquilo que és tu e naquilo que mostras ser.

Constrói a tua alegria, mesma a tua amargura, e não esperes que te digam se o estar triste ou alegre está previsto num programa. Que a distância de ti a ti seja por ti preenchida e nunca pela polícia ou um director de consciência - seu irmão.

Tu és livre. É portanto do teu dever libertares-te.»

Fonte: Vergílio Ferreira, Contra-Corrente (1969-76), Lisboa: Livraria Bertrand, 1980, pp. 217-18.

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O acordo ortográfico utilizado neste artigo foi definido pelo autor.

Autor
Portuguese, Portugal