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A mais longa crise dos últimos 100 anos

Fernando Alexandre, Luís Aguiar-Conraria e Pedro Bação discutem a crise da economia portuguesa, escalpelizada em "Crise e Castigo"
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O ano de 2001 ficou marcado pelo pedido de demissão de António Guterres, na sequência da derrota do Partido Socialista nas eleições autárquicas do mês de Dezembro. Como acontece muitas vezes, essa instabilidade política talvez tivesse já na sua origem a deterioração da situação económica.

De facto, quando hoje olhamos para o desempenho da economia portuguesa numa perspectiva longa, não há dúvidas que 2001 corresponde a uma mudança de regime no desempenho da economia portuguesa. Depois de quatro décadas entre as economias mais dinâmicas do mundo – com uma taxa média anual de crescimento de 4,5% ao ano – o século XXI trouxe um desempenho económico decepcionante, com uma taxa média anual de crescimento de crescimento de 0% entre 2001 e 2014. É necessário recuarmos 100 anos para encontrarmos um período tão longo com tão mau desempenho. Naquele período, só a Grécia e a Itália tiveram um desempenho semelhante.

No entanto, apesar do seu carácter estrutural, as análises da crise da economia portuguesa têm-se centrado no controlo do défice público e acentuado a dimensão cíclica daquela. Esta perspectiva leva a que, por exemplo, se associe o estado da economia portuguesa à intervenção da Troika, quando esta não é mais do que uma consequência da longa estagnação da economia portuguesa e da acumulação de endividamento desde meados da década de 90.

Uma tão profunda alteração de desempenho da economia portuguesa tem de ter a sua origem nos factores que moldaram a estrutura da economia portuguesa nas décadas anteriores. No livro Crise e Castigo discutimos o papel da integração europeia, do Estado e do desenvolvimento do sistema financeiro no modelo de crescimento prosseguido após a entrada na CEE, bem como as razões que levaram à sua persistência quando no final da década de 90 se acumulavam os sinais de que se encontrava exaurido.

Discutimos também a importância do contexto internacional, nomeadamente o excesso de liquidez e a desvalorização do risco de sobreendividamento, que permitiu a acumulação de endividamento por uma economia que se encontrava estagnada. Argumentamos que foi a benevolência dos mercados financeiros, e a pertença à zona do euro, que prolongou a existência de um modelo há muito esgotado.

Sem percebermos a natureza da mais longa crise dos últimos 100 anos só por um acaso encontraremos a forma de a ultrapassarmos. Esperamos que este livro possa constituir um contributo nesse sentido.

Fernando Alexandre, Luís Aguiar-Conraria e Pedro Bação são autores de Crise e Castigo.

O acordo ortográfico utilizado neste artigo foi definido pelo autor

Portuguese, Portugal