Que Ciência se aprende na escola?
As ciências estão omnipresentes no nosso dia a dia. Em casa, na rua, no lazer, no trabalho, nos meios de comunicação social, todos nós não só ouvimos falar de ciência como vemos e usamos objetos resultantes de ciência. Por vezes, somos interpelados sobre questões como as alterações do clima, a redução da poluição, o tratamento adequado de resíduos, o custo da energia, a localização de uma barragem, cujas respostas fundamentadas exigem conhecimentos científicos. Apesar da sua presença constante e da sua reconhecida relevância, as ciências não têm sido devidamente valorizadas no nosso sistema educativo. Um indicador dessa afirmação reside no facto de a aprendizagem nesta área não ser atualmente avaliada por exames nacionais externos em todos os ciclos na educação básica (se excetuarmos o caso da Matemática, que alguns não consideram uma ciência por não ter necessariamente uma base empírica). Faz sentido, por isso, conhecer o tipo de ciência que se está a ensinar nas nossas escolas.
Com este estudo, coordenado por Margarida Afonso, a Fundação Francisco Manuel dos Santos procurou fazer e dar a conhecer uma análise do ensino das ciências no ensino básico, centrado num indicador muito importante para conhecer a qualidade do sistema educativo – a exigência conceptual:
• Estarão os alunos portugueses a receber uma educação que lhes dê conhecimentos e capacidades de grande complexidade e abstração e ainda fortes relações entre esses conhecimentos?
• Estarão os alunos portugueses a receber uma educação que estimula apenas saberes meramente factuais e capacidades de nível elementar, como a simples memorização?
• Estarão os nossos alunos a receber uma educação que os induz a verem a ciência como um conjunto de factos avulsos, consistindo o seu trabalho cognitivo na memorização de um conjunto de nomes e factos, mais ou menos pormenorizados, mas em geral desconexos?
• Estarão os nossos alunos a receber uma educação que lhes dá acesso a conhecimentos complexos, generalizações, formas de pensamento abstrato, capacidades de sintetização, planificação, argumentação e criação?
Com este estudo, a Fundação procura contribuir para um melhor conhecimento da realidade da educação científica em Ciências da Natureza/Ciências Naturais nos primeiros nove anos de escolaridade em Portugal (que formam o chamado “ensino básico”), que constituem o alicerce dos desenvolvimentos futuros das crianças e dos jovens, e assim identificar problemas e ajudar pais, professores, autores, políticos e decisores a encontrarem linhas de atuação que permitam superar esses mesmos problemas.