
Desconectados
Diariamente, precisamos de oito horas de sono, outras oito horas para trabalhar ou estudar e, em média, passamos seis horas e meia online. Que tempo nos resta para conversar, ler ou pensar?
O uso da tecnologia está a mudar a forma como nos relacionamos com a família, os amigos, como aprendemos e como vemos o mundo. E é importante explicar os riscos de estarmos cada vez mais conectados.
«A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou que crianças com menos de dois anos não sejam expostas a ecrãs, exceto para videochamadas, e que, entre os dois e os quatro anos, o tempo de ecrã seja limitado a uma hora por dia», refere Patrícia Dias, professora e investigadora do impacto social dos media digitais e da utilização de smartphones. «Nos últimos anos, muitos pais têm privilegiado práticas mais restritivas, evitando a exposição precoce dos filhos a dispositivos digitais».
Na adolescência, esta restrição pode ser bem mais complexa.
Em Portugal, seis em cada quatro adolescentes, mesmo ao fim de semana, passam, em média, quatro horas em frente a um ecrã. «E 99% fazem-no pelo menos durante uma hora por dia», escreve a psicóloga Margarida Gaspar de Matos, que desde 2021 coordena o estudo do Observatório da Saúde Psicológica e do Bem‑estar da Direção–Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC).
«É impossível não refletir sobre o potencial impacto na saúde mental de algo que gera emoções tão fortes e que nos ocupa tanto tempo e espaço mental», alerta o psiquiatra Gustavo Jesus. «É, talvez, uma nova forma de solidão: estar com todos e com ninguém ao mesmo tempo».
As ferramentas digitais já estão também a mudar a forma como aprendemos e acedemos a informação. E se podem ser usadas para maximizar a aprendizagem e o conhecimento, trazem consigo outros riscos. «A facilidade de acesso a informação, pode levar à substituição da aprendizagem ativa por um consumo passivo de informação que não favorece o pensamento crítico, atrofia a capacidade crítica, dificulta a aprendizagem e aumenta a suscetibilidade à desinformação», resume a psicóloga cognitiva Ludmila D. Nunes.
Os desafios da era digital são analisados pelos quatro especialistas num novo projeto editorial da Fundação, em parceria com o jornal «Expresso».
A coleção «Desconectados», é composta por quatro livros que são oferecidos, gratuitamente, juntamente com o semanário, a partir de 25 de julho.
Fique a par das datas de publicação dos novos livros:
- 25 de julho: «Pais, amigos, seguidores: novos laços sociais», um ensaio de Patrícia Dias
O uso excessivo de ecrãs está a redefinir as dinâmicas familiares e dos laços sociais. Como os dispositivos digitais estão a influenciar a comunicação entre pais e filhos? Como afetam a qualidade do tempo passado em família e a construção de laços afetivos, dentro e fora de casa? Este livro explora as novas rotinas à volta dos ecrãs, os desafios do equilíbrio entre vida digital e vida offline, e apresentar casos de famílias que adotaram estratégias para reduzir a dependência tecnológica no lar.
- 1 de agosto: «Sob influência: adolescentes e digitais», um ensaio de Margarida Gaspar de Matos
A análise do impacto das redes sociais na adolescência, desde a influência de criadores de conteúdo até ao fenómeno do ciberbullying. Como é que os jovens constroem a sua identidade num mundo onde a validação social é medida em ‘gostos’ e seguidores? Este número aborda a pressão estética, os desafios da autoimagem e os riscos de dependência das redes.
- 8 de agosto: «Mais um click de dopamina: saúde mental na era digital», ensaio de Gustavo Jesus
O consumo excessivo de ecrãs está associado ao aumento da ansiedade, depressão e défices de atenção. Como afeta o cérebro? Qual a relação entre redes sociais e problemas de autoestima? Analisam-se os impactos psicológicos do uso prolongado da tecnologia, incluindo distúrbios do sono e dificuldades de concentração. Na área de histórias podem focar-se em pessoas que conseguiram reequilibrar a sua relação com o digital e estratégias para um consumo mais consciente.
- 15 de agosto: «Pergunta ao chat: aprender numa era digital», ensaio de Ludmila D. Nunes
A escola enfrenta um dilema: como integrar as novas tecnologias sem comprometer a aprendizagem e a concentração dos alunos? Será que as ferramentas digitais mudaram a forma como aprendemos? Além de aumentarem exponencialmente a informação (verdadeira e falsa) a que temos acesso, as tecnologias podem facilitar o uso de estratégias que promovem a aprendizagem ou, em contraste, levar à adoção de práticas que não são eficazes e podem interferir com a aquisição de conhecimentos. Também criaram a necessidade de um novo tipo de literacia — a literacia digital.