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Os populistas europeus que vão marcar 2017

Os populistas europeus que vão marcar 2017

Texto de Joana Ferreira da Costa sobre os partidos populistas que em 2017 poderão conquistar o poder político nos seus países.
5 min
Num ano de eleições decisivas na Europa, as sondagens dão novo ânimo aos candidatos populistas radicais. As campanhas de Marine Le Pen em França, de Frauke Petry na Alemanha, e de Geert Wilders na Holanda mostram que a extrema-direita está a ganhar terreno e ameaça chegar ao poder.

 

Wilders e a cruzada contra o Islão

A viragem pode acontecer já a 15 de Março, dia em que os holandeses vão às urnas escolher o próximo primeiro-ministro. À frente em todas as sondagens está o líder de direita radical Geert Wilders, do Partido para a Liberdade (PVV), condenado em Dezembro passado por incitamento à discriminação racial dos marroquinos.

A sua campanha tem, aliás, sido marcada por uma cruzada anti-islão. O deputado de 53 anos quer travar a «islamização» do país, banindo todos os símbolos islâmicos, as mesquitas e o Corão. Outra das suas propostas é fechar as fronteiras aos imigrantes de países muçulmanos.

Wilders tem justificado este combate com a defesa dos valores liberais europeus. O fundador do PVV apresenta-se como um «libertador», batendo-se contra o que classifica de «cultura retardada», que oprime os homossexuais e as mulheres. A estratégia é visível numa das suas declarações mais famosas: «Não odeio os muçulmanos, odeio o Islão».

A última grande sondagem dá ao PVV entre 20 a 25% das intenções de voto, o que significa que Wilders poderá duplicar o resultado obtido nas legislativas de 2012 (10,1%).

Segundo o barómetro revelado no DutchNews.nlo partido pode conseguir 37 deputados, distanciando-se do partido liberal que lidera a coligação no governo, o VVD, que alcança 25 dos 150 lugares no Parlamento. O partido minoritário da coligação, o PPVA, fica-se pelos 12 deputados.

Apesar disso, é aparentemente consensual entre os analistas que Wilders tem poucas hipóteses de chegar a primeiro-ministro. Não terá uma maioria para governar sozinho e os líderes dos restantes partidos já excluíram a hipótese de se coligarem com o PVV.

Contudo, Wilders já ameaçou que se vencer as legislativas e for excluído do executivo as consequências podem ser explosivas. «Se eu for o mais votado e os outros partidos não quiserem cooperar comigo, as pessoas não aceitarão essa situação», defendeu Wilders, citado pelo Euronews. «Haverá uma revolta», frisou durante um encontro de eurodeputados anti-Bruxelas realizado a 29 de Janeiro, em Itália.

Na corrida presidencial, a filha de Jean Marie Le Pen quis renovar a imagem do partido nacionalista, fundado pelo pai há 44 anos, que encabeça desde 2011. Deixou cair o apelido nos cartazes de candidatura, onde surge apenas como «Marine»

A nova imagem de Marine

Sentada ao lado de Wilders nessa reunião de eurocépticos estava uma sorridente Marine Le Pen. A líder do partido de extrema direita francês Frente Nacional (FN) tem razões para isso: é a mais forte candidata nas eleições para o Eliseu, com a primeira volta marcada para 23 de Abril.

A última sondagem do Le Monde dá-lhe a preferência de 27% dos eleitores em França. Logo em seguida, com 26%, surge o antigo primeiro-ministro francês François Fillon, conservador de centro direita, e em terceiro lugar Emmanuel Macron, o ex-ministro da Economia de Manuel Valls, com 20%. Já a esquerda, que só a 29 de Janeiro escolheu como candidato o ex-ministro socialista Benoit Hamon, reúne apenas 8% das intenções de voto.

Na corrida presidencial, a filha de Jean Marie Le Pen quis renovar a imagem do partido nacionalista, fundado pelo pai há 44 anos, que encabeça desde 2011.

Deixou cair o apelido nos cartazes de candidatura, onde surge apenas como «Marine», e tem assumido algumas das bandeiras tradicionais da esquerda como a defesa do Estado Social e do sistema de pensões, falando às classes mais populares. Economicamente tem apelado ao proteccionismo, ao mesmo tempo que mantém o discurso populista, anti-imigração e anti-Europa que caracterizam o partido.

Em França, vítima de três grandes ataques terroristas em menos de dois anos, a estratégia de Le Pen tem como alvo os imigrantes, sobretudo os muçulmanos que «ameaçam os valores fundamentais da República», mas também as instituições europeias que centralizam poderes fundamentais do Estado como o controlo de fronteiras. Se for eleita, Marine já prometeu um referendo para decidir a saída de França da União Europeia, tal como fez o Reino Unido em Junho passado.

Aos 48 anos, a candidata parece assim consolidar um apoio crescente entre os franceses, procurando assegurar um lugar na segunda volta das presidenciais, marcada para 7 de Maio, que será disputada pelos dois candidatos mais votados no primeiro escrutínio. Seguem-se no mês seguinte eleições legislativas. Marine Le Pen acredita que para a extrema-direita 2017 «será o ano do despertar dos povos da Europa continental».

«Adolfina» defende o fecho de fronteiras alemãs e a deportação de milhares de pessoas. Em Setembro, conseguiu mesmo bater a votação do partido da chanceler nas eleições regionais de Setembro de 2016.

A «Adolfina» que agita a política alemã

Na Alemanha, os populistas também estão a incendiar a campanha para as eleições federais de 24 de Setembro.

A liderança do futuro governo alemão é disputada entre a chanceler Angela Merkel (da CDU), apontada como a favorita com 34% das intenções de voto, e o ex-presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, do SPD, o segundo partido da coligação que lidera o país.

Mas a candidata populista de extrema-direita, Frauke Petry, já surge em terceiro lugar na mais recente sondagem da Ipsos, sendo a preferida de 13% dos eleitores.

A líder do partido anti-imigração Alternativa para a Alemanha (AfD) é conhecida pelas declarações polémicas e extremistas, que lhe valeram a alcunha de «Adolfina», numa alusão directa a Adolf Hitler. E tem sido a principal voz contra a política «de abertura de fronteiras» do Governo alemão, tendo mesmo atribuído a Merkel a responsabilidade pelo ataque terrorista com um camião, que matou 12 pessoas num mercado de Natal em Berlim.

A antiga empresária de 41 anos, licenciada em engenharia química, teve uma ascensão fulgurante desde 2013, quando integrou a recém-criada AfD. Dois anos depois já era a líder do partido, que ajudou a radicalizar.

O seu discurso nacionalista e anti-imigração ganhou peso com a chegada ao país de mais de um milhão de refugiados. «Adolfina» defende o fecho de fronteiras alemãs e a deportação de milhares de pessoas. Em Setembro, conseguiu mesmo bater a votação do partido da chanceler nas eleições regionais de Setembro de 2016.

Por agora as sondagens permitem pelo menos adivinhar que vai sentar-se pela primeira vez no Bundestag, o Parlamento Federal alemão. «O nosso objectivo para 2017 é tornarmo-nos uma oposição parlamentar forte», declarou Frauke Petry à Politico Magazine, que em Dezembro a elegeu como uma das 28 personalidades que vão destacar-se este ano. Nessa entrevista, a alemã não escondeu a sua ambição para o futuro: «Em 2021, queremos mais, queremos ser o principal partido».

O populismo vai estar em debate na estreia do programa Fronteiras XXI da Fundação, na RTP3. Dia 1 de Fevereiro de 2017 às 22:00.

O acordo ortográfico utilizado neste artigo foi definido pelo autor.

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